• Carregando...
O técnico Oleg Ostapenko | Albari Rosa/Gazeta do Povo
O técnico Oleg Ostapenko| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Entenda

O Centro de Excelência em Ginástica esteve próximo de fechar. Em dois dias, a situação sofreu uma reviravolta completa.

• 1 O Cegin tem 220 alunas e 27 atletas, nove na seleção brasileira. O LiveWright, movimento de empresários para projetos de esporte em alto rendimento, era o parceiro da Federação Paranaense de Ginástica (FPRG), responsável por manter o centro de excelência e trazer de volta ao Brasil o técnico Oleg Ostapenko e sua esposa, a coreógrafa Nadiia. O LiveWright gerenciava as finanças dos projetos de alto rendimento e de iniciação esportiva do Cegin. A verba – em torno de R$ 6 milhões por ano – era captada em empresas privadas, via Lei de Incentivo ao Esporte.

• 2 Há um mês, o LiveWright comunicou que não iria renovar o contrato, por entender que, via Lei de Incentivo, estava tendo prejuízo. O fim do contrato é no próximo dia 30. Assim, a federação ficou sem rendimentos até janeiro de 2014.

• 3 Sem verba, o Cegin anunciou que iria dispensar quatro técnicos estrangeiros, quatro brasileiros, cancelar planos de saúde, aulas escolares, moradia e alimentação.

• 4 No dia seguinte, o governo estadual intercedeu à montadora Renault para que a federação pudesse realocar parte do patrocínio para a reforma no ginásio – cerca de R$ 690 mil – nas despesas do projeto de alto rendimento nos próximos três meses. O governo irá repor o dinheiro com verba de marketing da Copel e da Sanepar.

• 5 Na quinta-feira, a manutenção do projeto de iniciação para 220 meninas foi assegurada pela doação de R$ 26 mil da Força Sindical, que diz ter se sentido sensibilizada pelo risco de ver meninas desistirem do esporte. Em contrapartida, filhos de trabalhadores ligados à Força Sindical poderão fazer testes para praticar ginástica.

  • Iniciação no esporte e alto rendimento convivem no Cegin

Durante aproximadamente um mês, a vida dos treinadores e dirigentes do Centro de Excelência em Ginástica (Cegin), em Curitiba, ficou marcada entre manter a aparência para não afetar os alunos, seguir a rotina de treino com o mesmo afinco e administrar o receio da demissão.

Sem transparecer o problema iminente, o consagrado técnico ucraniano Oleg Ostapenko, sua esposa Nadiia, a também ucraniana Irina Ilyaschenko e o bielorrusso Nikolai Hradoukien viveram esse drama. Ao lado deles, mais quatro treinadores brasileiros estiveram nesta berlinda encerrada apenas na quinta-feira. Um período dos mais complicados, algo comparável aos precisos movimentos da modalidade.

O clima pesado veio à tona dois dias antes, na terça-feira, quando a Federação Paranaense de Ginástica (FPRG) revelou à Gazeta do Povo que estava perdendo seu principal financiador: o movimento de empresários LiveWright, escritório com base em São Paulo, fundado para fomentar o esporte olímpico no país.

O casal Ostapenko simbolizou o problema. Sem contrato de trabalho firmado no país, a família teria de voltar para o Leste Europeu em um momento delicado: Oleg não tem visto permanente no Brasil e Nadiia se recupera de um câncer. Além de questões profissionais, passou pela cabeça o risco de perder o acompanhamento médico, garantido pelo plano de saúde pago pelo Centro de Excelência.

Nadiia também revelou outro temor, bem ao estilo profissional da dupla. "Chegamos para ajudar essas meninas a evoluírem até vê-las disputando a seletiva mundial para a Olimpíada de 2016. Gostaríamos de acompanhá-las até o topo de sua evolução, que são os Jogos Olímpicos", fala Nadiia. Já Oleg, como de costume, evitou questões emotivas e diz que não teve seu plano de trabalho alterado.

Enquanto a presidente da Federação, Vicélia Florenzano, e a coordenadora do Cegin, Eliane Martins, articulavam conversas com representantes políticos e empresários para tentar um novo aporte de verba para manter o Centro de Excelência para os próximos três meses, o grupo de oito treinadores das 27 meninas do projeto de alto rendimento seguiram suas tarefas sem alterações. Pelo menos nas aparências.

"Foi um mês pesado. Tentamos segurar as informações das meninas, seguir o treinamento. Às vezes não dava para se segurar, como quando nos despedimos de professoras das escolinhas [que foram recontratadas depois de confirmado a doação de R$ 26 mil da Força Sindical à federação, na quinta-feira]. O trabalho delas é mais importante do que o nosso. São elas quem despertam o amor pela ginástica nas pequenas, amor que será essencial para seguirem nos duros treinamentos", conta a Irina Ilyaschenko.

De poucas palavras, Oleg aponta que a história da última semana reproduz a situação da ginástica artística no Brasil.

"É um problema geral. Especialmente no feminino, pois falta dinheiro. Não há muitos lugares bons para treinamento. Em Curitiba, o ginásio é bom, mas pode melhorar. No Rio, não tem mais lugar [a estrutura do Time Brasil, montado pela prefeitura carioca, foi desmontada]. A seleção tem se reunido em Três Rios, mas o local não é ideal para atletas desse nível técnico e exigência", conta.

Depois de assegurar a verba para os próximos meses, o Cegin seguirá atuando em um "plano de emergência". "Vamos pagar um salário simbólico para os técnicos. O mais importante é que tenham um contrato para regularizarem o visto e permanecerem no Brasil. Queremos, no ano que vem, alugar um apartamento para os Ostapenko em uma região que o Oleg se encantou, próximo ao Jardim Botânico. Por enquanto, vamos deslocar o casal para um dos sobrados próximos ao Cegin [no Capão da Imbuia] para economizar", conta Vicélia.

Cria do projeto, Molinari revela ‘temor de todos’

"Quem vive de projetos sabe que sempre podem acontecer imprevistos", diz a técnica Caroline Molinari, que até a última quinta-feira correu risco de demissão no Cegin. Aos 27 anos, ela já viveu outras situações de crise no esporte. Caroline está no Cegin há 17 temporadas. Foi aluna das escolinhas de iniciação esportiva, chegou à seleção brasileira e competiu, em 2004, na Olimpíada de Atenas. Hoje ela treina as garotas que também chegaram à elite da ginástica no Brasil.

Caroline conta que, apesar da tensão das últimas semanas, não cogitou outras possibilidades de trabalho. "Ficamos todos muitos aflitos, mas decidi esperar. O Centro já passou por outras crises, mas desta vez foi bastante preocupante porque o patrocínio era muito forte. Felizmente, tudo se acertou."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]