Ciclista Denis Kuchler precisa dividir espaço com carros, ônibus e caminhões na rodovia.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A demora do governo estadual em tirar do papel o Ciclo-Paraná, programa de incentivo ao uso da bicicleta, vem agravando as já precárias condições de treinamento de ciclistas profissionais e amadores.

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Apesar de ser um polo histórico de revelação de ciclistas de alto nível, o Paraná não oferece condições ideais para que os praticantes do esporte possam treinar com segurança. A alternativa então recai sobre os acostamentos de estradas, que muitas vezes não contam com a sinalização adequada.

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, desde janeiro de 2014 até aqui foram 403 acidentes com ciclistas em rodovias federais do estado, com 357 feridos e 38 mortes. Se considerar o número desde 2012, os óbitos chegam a 70.

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Já segundo estatísticas da Polícia Rodoviária Estadual, em 2014 foram 121 acidentes com ciclistas em rodovias estaduais do estado, com nove mortes e 106 feridos. Em 2015, até novembro foram registrados 84 acidentes, com quatro mortos e 91 feridos.

O presidente da Federação Paranaense de Ciclismo (FPC), José Carlos Belotto, faz um apelo. “Realmente faltam lugares para treinamento. Então, se os ciclistas não treinarem em estradas, não existe outro lugar”, diz, para em seguida cobrar maior agilidade da administração estadual.

 

“O Ciclo-Paraná foi assinado em maio pelo governador Beto Richa. Mas, até o momento, não saiu do papel. A implantação do programa seria um grande passo para o ciclismo paranaense, que tem tradição e orgulho de ter revelado os melhores atletas do país”, prossegue Belotto.

Idealizado em 2013, o Ciclo-Paraná visava adaptar as rodovias do estado para que acolhessem melhor os ciclistas, com melhor sinalização dos acostamentos e placas indicando a presença dos atletas. Além disso, prometia o incentivo à prática do ciclismo esportivo e a criação de roteiros para o ciclo-turismo.

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Responsável pela execução do programa, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) informa apenas que está passando por uma reestruturação interna e que, em breve, designará um funcionário para cuidar do Ciclo-Paraná.

Enquanto isso não acontece, os ciclistas locais narram os perigos dos treinamentos nas estradas paranaenses. “A gente sempre sai com muito medo e cautela, porque os acidentes nas estradas são muito comuns, a gente sabe que uma hora ou outra acontecem”, conta o atleta Ricardo Dalamaria, de 17 anos.

51 mortes

De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Rodoviária Estadual, desde janeiro de 2014 foram 611 acidentes com ciclistas em rodovias do estado, com 554 feridos e 51 mortes.

Dentre os problemas listados, estão a imprudência de motoristas e dos próprios ciclistas, além da falta de sinalização adequada. “O ideal seria investir mais na reeducação de ciclistas e motoristas”, recomenda o também ciclista Denis Kuchler, 36 anos.

Em agosto deste ano, o ciclista paranaense Murilo Ferraz, quarto colocado no contrarrelógio do Pan de Torono, sofreu um grave acidente durante treinamento na BR-347, em Campo Mourão. O atleta de 24 anos sofreu fraturas no crânio e no rosto. Neste caso, no entanto, o atleta fazia um treino arriscado, seguindo um carro para eliminar o atrito do ar.

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Em 2012, a Ecovia, concessionária que administra a BR-277, chegou a divulgar uma nota dizendo que o local era constituído para o tráfego de veículos, não se mostrando adequado para ciclistas. Porém, o direito dos atletas usarem as rodovias para circulação é assegurado pela Constituição, que em seu Art. 5.º Inc. XV determina que “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz”.

Para fugir desta situação de risco e hostilidade, uma das alternativas encontradas pelos ciclistas vem sendo treinar no Autódromo Internacional de Curitiba (AIC), sempre que há disponibilidade de horários.

“Com o horário de verão, a gente consegue às vezes treinar no horário das 19 horas. Nestes casos, a gente reúne um grande número de ciclistas que aproveitam para poder treinar com segurança”, conta Dalamaria.