Modalidade considerada modelo de gestão esportiva no país, o vôlei aposta em um dirigente paranaense com 32 anos ininterruptos de comando à frente do esporte no estado para contornar uma crise no primeiro escalão da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV).
Na quinta-feira, a entidade pediu que seu superintendente, Marcos Pina, entregasse o cargo, em decorrência de supostas irregularidades, conforme denunciou reportagem da ESPN Brasil. Um dia antes, o sucessor de Pina já havia sido escolhido: Neuri Barbieri, 63 anos, presidente da Federação Paranaense desde 1982.
Na próxima quarta-feira, após o feriado de carnaval, o dirigente tem o primeiro compromisso no novo cargo: uma reunião com o principal financiador da CBV, o Banco do Brasil, que teve seu nome envolvido nas denúncias.
A reportagem da ESPN, veiculada na segunda-feira, mostra que Pina, contratado como superintendente geral da CBV em setembro de 2013, tinha negócios ilícitos com a entidade, da qual já havia sido cartola entre 1997 e 2000.
A principal denúncia do dossiê é que Pina, que recebeu o status de CEO da CBV, é dono da SMP Consultoria Esportiva. Em uma ação trabalhista, o reclamante (não revelado) alegava que, apesar de contratado pela SMP, era empregado da CBV.
"Assumo o cargo como uma missão para ajudar um amigo, o Toroca [apelido do presidente da CBV, Walter Pitombo Laranjeiras], e o voleibol, que passa por uma crise de imagem. Tínhamos articulado com 95% das federações em estar unidos para defender a entidade de todo modo", diz Barbieri.
"É um momento triste para um esporte que tem uma gestão modelo, foi pioneira em organização. Acho que foi um problema pontual de um dirigente que possa ter cometido algumas irregularidades. Nunca houve tanto dinheiro público no esporte como agora e a partir do momento em que há tanto dinheiro, essas irregularidades são possíveis", avalia o dirigente, que agora terá, como superintendente, funções administrativas no vôlei nacional, embora esteja mais habituado às tratativas políticas.
Ele conta que no dia seguinte à divulgação das denúncias, questionou Marcos Pina sobre a veracidade das acusações, ouvindo do ex-superintendente que não teria com o que se preocupar. "O Pina sempre foi muito próximo ao Ary [Graça, ex-mandatário da CBV e presidente da Federação Internacional] e sempre tive a imagem dele como uma pessoa de uma grande inteligência e eficiência. Fomos surpreendidos em saber de que existia uma empresa dele atuando com contratos com a CBV. O próprio Toroca estava lá na Confederação e não sabia", confia.
Nos bastidores do voleibol nacional a movimentação tende a se intensificar daqui para diante. Atletas e pessoas ligadas ao esporte têm procurado investigar as contas da CBV, especialmente depois que Graça saiu do comando da entidade, em setembro de 2012.
"Há até um grupo do próprio [técnico] Bernardinho descontente com alguma coisa, que passou a questionar algumas coisas. Desde que aceitei o cargo, tenho recebido muitas ligações de colegas preocupados comigo, o que indica que minha tarefa não será fácil", diz Neuri.
O dirigente paranaense não descarta a possibilidade de surgirem novas fraudes na CBV. "Será, sim, uma desilusão. Fui um idealista do voleibol, comecei como dirigente há 32 anos, quando se trabalhava no esporte por gostar. As coisas mudaram, começou a haver muito dinheiro. Muitas situações como esta já foram vistas em outros esportes. Veja o caso do Ricardo Teixeira [ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol]".