| Foto: Cristhian Rizzi/ Gazeta do Povo

Justiça

Modalidade abre tapetão com sessão de 3 horas

Durou três horas o julgamento que marcou, essa semana, a estreia do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paranaense de Futebol Americano (TJD-FPFA), o primeiro TJD da modalidade no Brasil. Uma briga entre torcidas no jogo entre o Curitiba Predadores e o Curitiba Brown Spiders, pelo Campeonato Paranaense, rendeu a perda de mando de jogo e da renda do próximo jogo do Predadores. O tribunal foi idealizado pelo ex-atletla e advogado Murilo Karasinski. A demora no primeiro julgamento adiou para a próxima terça-feira, na sede da OAB-PR, quatro outros casos envolvendo jogos do campeonato.

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Às vésperas do Natal de 2012, alguns grandalhões com o uniforme do Coritiba Crocodiles chamavam a atenção na movimentada Boca Maldita, em Curitiba. Finalistas do campeonato brasileiro de futebol americano, eles vendiam rifas para ajudar a custear as passagens para o Mato Grosso, onde seria a decisão contra o Cuiabá Arsenal (vencida pelos rivais), quando foram abordados por um estrangeiro. Ele se apresentou como Johnny Mitchell, ex-jogador da Liga de Futebol Americano dos Estados Unidos (NFL), que se mostrou interessado em conhecer o time.

"Para falar a verdade, achamos estranho. Alguns eram mais jovens e não o conheciam. Não levamos muito a sério, achamos que era brincadeira. Depois, fomos pesquisar", conta o presidente do time, Gerard Kaghtazian. Não só era verdade como o encontro inesperado transformou o Coritiba Crocodiles. Eles foram procurar Johnny Mitchell, que se ofereceu para treinar a equipe de graça.

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O norte-americano assumiu o comando ofensivo e ainda apresentou o irmão Gregory Booth, ex-jogador profissional na Arena Football League e que morava em Curitiba, para encabeçar o treinamento defensivo. Tudo mudou.

"É outro mundo. Outra realidade. Estamos maravilhados e é um privilégio. Nenhuma outra equipe no Brasil tem uma oportunidade como essa. Todo o trabalho ganhou outra dimensão", conta o jogador Fernando Alves, um dos tradutores oficiais da dupla.

O ‘coach’, que estava morando em Londres e comentava jogos na televisão local, decidiu se mudar para Curitiba após justamente um convite do irmão, que é casado com uma brasileira.

Basicamente limitados aos sábados à tarde, os treinos técnicos e táticos foram multiplicados. As manhãs de domingo também entraram na programação para trabalhos físicos de intensidade inédita. A ponto de os atletas responderem com um suspiro de exaustão quando questionados se o treino é mesmo tão puxado assim.

"Foi um desafio. Mas é fácil trabalhar quando se tem paixão. E esses caras são apaixonados e têm talento acima de tudo", conta o novo treinador, com um entusiasmo contagiante. "Lá nos Estados Unidos as crianças jogam desde pequenas. Aqui é outra realidade, é mais difícil começar tarde e também falta estrutura. Então, há muita superação", elogia.

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No campo, o maior desafio de Johnny Mitchell não é técnico. "O futebol americano se joga com o coração. Só que o mais difícil é encontrar um equilíbrio e não se deixar dominar pelas emoções, que podem fazer muito bem e muito mal se não forem controladas", explicou o treinador, que se destacou na posição de Tight End pela Universidade de Nebraska, em 1992.

Logo no seu segundo ano da faculdade, Mitchell foi escolhido na primeira rodada do Draft da NFL pelo New York Jets. Seu auge foi em 1993 (603 jardas recebidas e seis touchdowns) e em 1994 (749 jardas recebidas e quatro touchdowns).

Calmo e descontraído, Mitchel contrasta com a rigidez do irmão Gregory Booth. "Eu cobro. Não pode ser uma brincadeira. Eles têm sempre uma desculpa para atraso, demora. Mas já está mudando", comemora o coordenador da defesa. O nicaraguense Alfredo Guadamuz e o canadense Shailan Patel, ambos ex-atletas da equipe e com passagem pelo Futebol Americano dos Estados Unidos, completam a comissão técnica.

Tanto intercâmbio já trouxe resultados. "Mudou tudo... Fisicamente nosso time cansava no terceiro e quarto quartos da partida. Hoje nos recuperamos muito mais rápido. O jogo também melhorou muito e vai melhorar mais", reforça Fernando Alves. Tanta evolução faz a equipe tetracampeã paranaense confiar como nunca no primeiro título brasileiro, após três vice-campeonatos.

Por enquanto, no Estadual, o time bateu o Hurricanes (52 a 23) e o Foz do Iguaçu Black Sharks (26 a 0). No próximo fim de semana, recebem os Guardians, pela terceira rodada.

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