Rodrigo Contin é o engenheiro-chefe da Hitech Racing: investimento alto no automobilismo| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Brasil encampa F3 Sul-Americana

Foram 27 anos como F3 Sul-Americana. Mas há alguns anos com apenas uma etapa fora do Brasil, disputada na Argentina, a principal categoria de monoposto da América do Sul ganha novo nome: Fórmula 3 Brasil. E passará a ser disputada somente em solo nacional. Uma chance de os pilotos brasileiros se manterem mais tempo competindo no país, facilitando a busca de novos talentos capazes de chegar à Fórmula 1.

Na ponta do lápis, a mudança torna a competição mais barata que suas similares na Europa. As 16 etapas, disputadas em oito finais de semana, terão custo estimado de 145 mil euros (cerca R$ 450 mil) para um carro, contando com todas as provas e treinos da temporada. No Velho Mundo, um piloto não competiria por menos de 210 mil euros (R$ 680 mil, na F-Abart), com custos que podem chegar a 600 mil euros (R$ 1,9 milhão, na F3 Europeia).

"Para o piloto que pensa em seguir carreira em monoposto, correr uma F3 é obrigatório. Na década de 90, a F3 Sul-Americana foi muito forte, mas nos últimos anos enfraqueceu, com a crise econômica na Argentina e outros fatores. Buscamos agora uma reestruturação e, para os próximos anos, teremos novamente jovens e bons pilotos para ir para a F1", fala Rodrigo Contin.

As primeiras etapas da F3 Brasil serão em 6 e 7 de abril, em Tarumã (RS). Curitiba receberá as etapas 13 e 14, em 1.º e 20 de outubro.

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O selo é inglês, mas a engenharia é paranaense. Criada em 2009, a escuderia Hitech Racing Brazil é a atual campeã da Fórmula 3 Sul-Americana, com o piloto Felipe Guimarães, e neste ano, além de repetir o sucesso nas provas de monoposto que servem de trampolim para a Fórmula 1, a equipe sediada em Pinhais se prepara para estrear no Campeonato Brasileiro de Turismo, que terá os primeiros treinos em Curitiba, daqui a duas semanas.

A frente da equipe está o engenheiro mecânico Rodri­go Contin, 31 anos. Tudo começou porque ele percebeu cedo que não seria um grande piloto, após não conseguir patrocinadores quando foi correr na Itália. Filho de engenheiro civil, fã de automobilismo e interessadíssimo em mecânica, já tinha o hábito de ele mesmo, com o pai, Renato, ajustar o próprio kart. Assim, decidiu se tornar engenheiro de carros da F1.

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Não chegou a tanto, mas com esse objetivo em mente, formou-se engenheiro mecânico na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Um ano antes de concluir a graduação, foi para a Inglaterra para colocar o plano em prática.

"Me apaixonei pelo esporte na primeira corrida que assisti no autódromo de Pinhais. Quando fui à Europa para tentar a carreira como engenheiro, um brasileiro conseguiu um trabalho para mim em uma equipe da F3 europeia, em 2006", relembra. Voltou ao Brasil para terminar a faculdade e, em seguida, retornou ao Velho Continente. Trabalhou para a equipe P1 Motorsport, na World Series da Renault. "Em 2008, fomos campeões com o Giedo van Der Garde [o holandês foi recém-contratado como piloto de testes da Sauber na F1], fui engenheiro de pista dos dois pilotos e, no ano seguinte, a equipe foi comprada pela Hitech Racing, que é inglesa."

Neste ano, Contin viu a oportunidade de voltar ao Brasil, agora como chefe. Em um acordo com a equipe britânica, comprou um dos carros da escuderia, que lhe custou cerca de R$ 300 mil, pago durante 2010. Junto, ganhou direito ao uso da tecnologia, know how e filosofia do time bretão. Em troca, dá experiência a jovens pilotos brasileiros. O primeiro foi um conterrâneo de Contin: o curitibano Pietro Fantin, que atualmente disputa a Formula Renault 3.5, campeonato considerado uma das principais portas de acesso à Formula 1. "Nos conhecemos quando eu ainda estava em Londres e meu currículo lá deu confiança ao Pietro para apostar no projeto. Não tínhamos nada aqui no Brasil além do carro. Acabei alugando um boxe no autódromo de Pinhais e até a caixa de ferramentas era emprestada. Na nossa estreia, o Pietro fez a pole position e venceu a prova", lembra o jovem engenheiro-chefe.

A estrutura Hitech Racing cresceu daquela primeira corrida para cá. Hoje, são três carros monoposto (mais um está para chegar), além dos dois modelos turismo que estão sendo construídos – na sexta-feira, a equipe aguardava a chegada dos motores, vindos de São Paulo. Tudo alocado em um barracão de 300 m², dividindo espaço com sete mecânicos, a secretária e mais um engenheiro.