Brasil encampa F3 Sul-Americana
Foram 27 anos como F3 Sul-Americana. Mas há alguns anos com apenas uma etapa fora do Brasil, disputada na Argentina, a principal categoria de monoposto da América do Sul ganha novo nome: Fórmula 3 Brasil. E passará a ser disputada somente em solo nacional. Uma chance de os pilotos brasileiros se manterem mais tempo competindo no país, facilitando a busca de novos talentos capazes de chegar à Fórmula 1.
Na ponta do lápis, a mudança torna a competição mais barata que suas similares na Europa. As 16 etapas, disputadas em oito finais de semana, terão custo estimado de 145 mil euros (cerca R$ 450 mil) para um carro, contando com todas as provas e treinos da temporada. No Velho Mundo, um piloto não competiria por menos de 210 mil euros (R$ 680 mil, na F-Abart), com custos que podem chegar a 600 mil euros (R$ 1,9 milhão, na F3 Europeia).
"Para o piloto que pensa em seguir carreira em monoposto, correr uma F3 é obrigatório. Na década de 90, a F3 Sul-Americana foi muito forte, mas nos últimos anos enfraqueceu, com a crise econômica na Argentina e outros fatores. Buscamos agora uma reestruturação e, para os próximos anos, teremos novamente jovens e bons pilotos para ir para a F1", fala Rodrigo Contin.
As primeiras etapas da F3 Brasil serão em 6 e 7 de abril, em Tarumã (RS). Curitiba receberá as etapas 13 e 14, em 1.º e 20 de outubro.
O selo é inglês, mas a engenharia é paranaense. Criada em 2009, a escuderia Hitech Racing Brazil é a atual campeã da Fórmula 3 Sul-Americana, com o piloto Felipe Guimarães, e neste ano, além de repetir o sucesso nas provas de monoposto que servem de trampolim para a Fórmula 1, a equipe sediada em Pinhais se prepara para estrear no Campeonato Brasileiro de Turismo, que terá os primeiros treinos em Curitiba, daqui a duas semanas.
A frente da equipe está o engenheiro mecânico Rodrigo Contin, 31 anos. Tudo começou porque ele percebeu cedo que não seria um grande piloto, após não conseguir patrocinadores quando foi correr na Itália. Filho de engenheiro civil, fã de automobilismo e interessadíssimo em mecânica, já tinha o hábito de ele mesmo, com o pai, Renato, ajustar o próprio kart. Assim, decidiu se tornar engenheiro de carros da F1.
Não chegou a tanto, mas com esse objetivo em mente, formou-se engenheiro mecânico na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Um ano antes de concluir a graduação, foi para a Inglaterra para colocar o plano em prática.
"Me apaixonei pelo esporte na primeira corrida que assisti no autódromo de Pinhais. Quando fui à Europa para tentar a carreira como engenheiro, um brasileiro conseguiu um trabalho para mim em uma equipe da F3 europeia, em 2006", relembra. Voltou ao Brasil para terminar a faculdade e, em seguida, retornou ao Velho Continente. Trabalhou para a equipe P1 Motorsport, na World Series da Renault. "Em 2008, fomos campeões com o Giedo van Der Garde [o holandês foi recém-contratado como piloto de testes da Sauber na F1], fui engenheiro de pista dos dois pilotos e, no ano seguinte, a equipe foi comprada pela Hitech Racing, que é inglesa."
Neste ano, Contin viu a oportunidade de voltar ao Brasil, agora como chefe. Em um acordo com a equipe britânica, comprou um dos carros da escuderia, que lhe custou cerca de R$ 300 mil, pago durante 2010. Junto, ganhou direito ao uso da tecnologia, know how e filosofia do time bretão. Em troca, dá experiência a jovens pilotos brasileiros. O primeiro foi um conterrâneo de Contin: o curitibano Pietro Fantin, que atualmente disputa a Formula Renault 3.5, campeonato considerado uma das principais portas de acesso à Formula 1. "Nos conhecemos quando eu ainda estava em Londres e meu currículo lá deu confiança ao Pietro para apostar no projeto. Não tínhamos nada aqui no Brasil além do carro. Acabei alugando um boxe no autódromo de Pinhais e até a caixa de ferramentas era emprestada. Na nossa estreia, o Pietro fez a pole position e venceu a prova", lembra o jovem engenheiro-chefe.
A estrutura Hitech Racing cresceu daquela primeira corrida para cá. Hoje, são três carros monoposto (mais um está para chegar), além dos dois modelos turismo que estão sendo construídos na sexta-feira, a equipe aguardava a chegada dos motores, vindos de São Paulo. Tudo alocado em um barracão de 300 m², dividindo espaço com sete mecânicos, a secretária e mais um engenheiro.
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