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Roberto Gesta diante das camisas com as quais Adhemar Ferreira da Silva venceu dois ouros e que são parte de seu acervo particular | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Roberto Gesta diante das camisas com as quais Adhemar Ferreira da Silva venceu dois ouros e que são parte de seu acervo particular| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

Serviço

A Exposição Esporte Movimento vai de 16 de setembro a 30 de novembro na Caixa Cultural, de terça a sábado, das 9 às 20 horas, na Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro. A entrada é franca.

Prisioneiros organizaram Olimpíada em campos de concentração

Uma das peças que Roberto Gesta mais se orgulha de ter no acervo de 70 mil unidades de sua coleção olímpica e que está na Exposição Esporte Movimento na Caixa Cultural, em Curitiba, não é de ouro, prata e nem bronze. É de papelão.

Assim como em 1940, a II Guerra Mundial impediu a realização dos Jogos de 1944, em Londres. Entretanto, nos campos de concentração de Woldenburg e Gross Born, na Alemanha, os nazistas permitiram que os oficiais poloneses detidos organizassem sua própria versão da Olimpíada.

Como não podiam cunhar medalhas em qualquer tipo de metal, a opção foi entregar prêmios simbólicos aos vencedores, uma medalha de papelão.

"Os próprios prisioneiros chamaram a competição de Olimpíada. Havia até um carimbo da competição", explica Gesta.

Apesar do clima um pouco mais ameno com a competição, os oficiais poloneses não escaparam do destino da maioria dos detidos pelos nazistas: a maioria morreu dentro dos próprios campos de concentração.

Somente em 1948 a Olimpíada voltou a ser disputada, em Londres, mas com a exclusão das delegações da Alemanha e do Japão – a Itália, terceiro integrante do eixo, teve permissão de competir.

A Polônia dos oficiais que organizaram os Jogos nos campos de concentração participou pela primeira vez como país integrante do bloco comunista, junto com Hungria e Tchecoslováquia. (MXV)

  • Detalhe das medalhas de ouro que Adhemar Ferreira da Silva, primeiro brasileiro bicampeão olímpico, conquistou nos jogos de Helsinque-1952 e Meulborne-1956
  • Medalha de prata da primeira Olimpíada, disputada em 1896, em Atenas, na Exposição Esporte Movimento. Medalha de ouro aos campeões só passou a existir na edição seguinte, em 1900, em Paris
  • Cartazes originais das Olimpíadas estão na Exposição Esporte Movimento
  • Protótipo de medalha que seria entregue na Olimpíada de 1916, em Berlim. I Guerra Mundial impediu a realização desses Jogos
  • As duas medalhas de ouro, os uniformes e documentos de Adhemar Ferreira da Silva, primeiro bicampeão olímpico brasileirão, estão na Exposição Esporte Movimento
  • Área destinada ao saltador João do Pulo na Exposição Esporte Movimento, que expõe os dois bronzes olímpicos e o ouro no Pan de 1975 que marcou o recorde no salto triplo à época
  • Medalha de papelão entregue nos campos de concentração de Woldenburg e Gross Born em 1944, na Alemanha, onde os nazistas permitiram que oficiais poloneses detidos realizassem a sua versão dos Jogos Olímpicos
  • Uma das peças mais raras do acervo de Roberto Gesta: a tocha dos Jogos Equestres de Escolmo em 1956 - por causa das severas leis sanitárias da Austrália, os cavalos não puderam ir a Meulborne, sede oficial dos Jogos
  • Medalha de prata da prova de tiro aos pombos dos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis (EUA). Essa foi a única vez que uma prova olímpica envolveu mortes de animais: 300 pombos foram mortos na prova
  • Uniforme com o qual Allan Fontelles venceu o sul-africano e favorito Oscar Pistorius na prova de 200 metros para biamputados na Paraolimpíada de Londres em 2012
  • Medalha da terceira Olimpíada da história, em 1904, em Saint Louis (EUA)
  • Vasos entregues junto com as medalhas aos vencedores na Olimpíada de 1924, em Paris
  • Botons que seriam as credenciais dos competidores dos Jogos de 1940, em Tóquio, que foram cancelados após a invasão do Japão à China na II Guerra
  • Exposição Esporte Movimento também traz selos com a temática olímpica
  • Detalhe da credencial olímpica e do passaporte de Adhemar Ferreira da Silva
  • Cartazes originais de algumas edições das Olimpíadas

Há dez anos, a casa do ex-presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e atual membro do conselho da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) Roberto Gesta, 69 anos, em Manaus (AM), teve de ser aumentada e adaptada para condicionar um dos maiores acervos pessoais de Jogos Olímpicos do mundo. São 70 mil peças, sendo 400 medalhas, ao menos uma de cada edição de todas as 27 Olimpíadas.

Uma parte do acervo de Gesta – cerca de 2 mil peças - está em Curitiba, na Exposição Esporte Movimento, a partir desta terça-feira (16), com entrada franca na Caixa Cultural, em Curitiba. Alguns objetos também serão expostos em agências da Caixa Econômica na cidade.

Confira algumas das atrações da exposição

São preciosidades que contam a história até dos Jogos que não aconteceram. Como o protótipo da medalha que seria entregue na Olimpíada de 1916, em Berlim, se os conflitos da I Guerra Mundial não tivessem impedido a disputa. "Há 40 anos busco peças em feiras, leilões e com as famílias de atletas que faleceram e os próprios atletas", conta Gesta.

O período em que dirigiu a CBAt, de 1987 a 2012, serviu para o colecionador formatar uma sólida rede de contatos no Brasil e em outros países. O que facilitou o acesso a diversas peças da coleção, como as medalhas de dois dos maiores feitos do esporte nacional: os ouros de Adhemar Ferreira da Silva, primeiro bicampeão olímpico brasileiro, nas provas de salto triplo em Helsinque-1952 e Melbourne-1956. Em 2003, dois anos após a morte do saltador, a filha de Adhemar procurou Gesta dizendo estar preocupada com a preservação das medalhas. "Ela me disse que o Adhemar tinha amigos no exterior que se ofereceram para ficar com as medalhas. Aí eu me ofereci para cuidar não só dos ouros olímpicos, mas de outras coisas dele", conta.

Assim, o ex-cartola da CBAt deixou a casa da filha do saltador não só com as medalhas, mas com uniformes e documentos – Adhemar, que cursou quatro faculdades, chegou a ser adido cultural do Brasil na Nigéria. Toda a documentação foi recuperada e catalogada por um perito internacional contratado pelo colecionador.

Entre os documentos, estão o passaporte de Adhemar com o carimbo da primeira Olimpíada que disputou, Londres-1948, e a credencial dos Jogos de 1952 com o sobrenome errado: Pereira, ao invés de Ferreira.

Gesta diz que Adhemar era reconhecido onde ia pelo mundo e lembra de um caso nos Jogos de Seul, em 1988. "Eu e ele fomos assistir a um treino e um repórter da TV italiana perguntou se poderia entrevistá-lo. Quando o câmera chegou, o repórter disse ‘esse é o senhor Adhemar Ferreira da Silva, grande atleta brasileiro, que talvez, pela idade, você não conheça’. No que o câmera respondeu ‘quem não conheço o grande senhor Ferreira da Silva?", recorda, emocionado, Gesta.

A sala onde estão as medalhas de Adhemar na exposição reserva outras pérolas. Estão lá o bronze de Nelson Prudêncio na Olimpíada de 1972, em Munique, e o ouro de João do Pulo no Pan-Americano de 1975, na Cidade do México, cuja marca de 17,89 metros registrou o novo recorde mundial da época - ambas também foram conquistadas no salto triplo.

Do outro lado da sala, o uniforme que Allan Fontelles vestiu ao surpreender o mundo na vitória sobre o favorito sul-africano Oscar Pistorius na prova de 200 metros da Paraolímpiada de Londres-2012.

A exposição conta ainda com cartazes, premiações, tochas, moedas, fotos, documentos. Literalmente, a história do esporte mundial.

Exposição Esporte Movimento

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