O curling , o esporte no gelo com vassouras, está envolvido em controvérsias sobre – o que mais? – vassouras.
Nos últimos anos, depois de evoluir de suas raízes nos clubes de bairro cheios de gente bebendo cerveja e fumando sem parar, o simpático esporte de repente se viu envolvido em um debate que, em alguns lugares, deixou de lado a civilidade.
Talvez não seja surpresa para um esporte que tem alguma coisa em comum com tarefas domésticas, a questão envolve tecido – especificamente uma coisa chamada pano direcional. A utilização desse material em almofadas de vassouras é a mais recente escalada de uma corrida armamentista entre os fabricantes, que buscam ajudar os melhores jogadores do mundo a orientar suas pedras de 20 quilos ao longo de uma camada de gelo, como se fossem controladas por joysticks.
Varrer com essas vassouras, que se parecem mais com esfregões, é considerado uma habilidade atlética nesse esporte. Como a tarefa estava se tornando muito fácil, alguns começaram a achar que o jogo já nem podia mais ser chamado de curling.
Muitos dos principais atletas do esporte – mas não todos – fizeram um acordo em outubro para banir as novas vassouras. Mas, com pouca regulamentação nos livros e as qualificações para as Olimpíadas acontecendo em novembro, a Federação Mundial de Curling entrou na disputa e, recentemente, determinou regras que estabelecem restrições severas aos tipos de vassoura que podem ser usadas.
Não é o caso de voltar ao pelo de porco, mas está perto – eles baniram tecidos à prova d’água e inserções “enrijecedoras”, e exigiram que todas as vassouras estejam disponíveis para compra em lojas.
“Definitivamente há uma certa briga a respeito do assunto”, afirma Dean Gemmell, que já foi campeão pelos Estados Unidos e é autor do livro Brush Like a Badass: A Curler’s Guide to Great Sweeping (Varra como um durão: um guia de curling para uma boa varrida), sobre a controvérsia.
“Em curling, ficamos geralmente conhecidos por sermos muito amistosos com a maioria dos oponentes. Mesmo em grandes eventos você vê jogadores importantes comemorando juntos. Mas este ano não vai ser assim, isso é óbvio.”
No centro do conflito estão duas empresas canadenses: a já conhecida BalancePlus e a iniciante Hardline Curling, cuja vassoura IcePad começou a atrair a atenção de alguns dos melhores jogadores do mundo no ano passado. Mas, em outubro, quando a BalancePlus revelou os protótipos de sua nova vassoura, que ultrapassa os avanços da IcePad, houve protestos de que as novidades deixariam a tarefa de redirecionar a pedra muito fácil, diminuindo assim o valor de um jogador habilidoso e a força e a capacidade atlética dos varredores.
Rapidamente, Nolan Thiessen, que é patrocinado pela BalancePlus, fez uma lista de 22 times importantes que assinaram uma promessa de não usar vassouras com panos direcionais. Agora, pelo menos 40 já assinaram.
Para Archie Manavian, presidente da Hardline, o acordo cheira a conspiração. “Isso não é nada mais do que bulling corporativo. A verdade é que não mudamos nada no IcePad nos últimos três anos. As reclamações só começaram este ano – a razão é que nosso competidor está com ciúmes do nosso sucesso. Nossa vassoura é a melhor do mercado – não há dúvida – e as vendas dispararam”, afirma Manavian.
Scott Taylor, presidente da BalancePlus, se defende: “Realmente não posso responder a esses comentários. O que precisa ser feito por essa empresa e pelas outras é oferecer um equipamento que é bom para o esporte. Detestaríamos ver qualquer coisa que não faça mais sentido atrapalhando o desenvolvimento dos equipamentos.”
Enquanto muitas das pedras usadas no curling de alto nível são extraídas de uma ilha desabitada na Escócia, existem poucos padrões quando falamos de vassouras – apenas que elas não estraguem a pista, que para o curling é cheia de pequenas pedras de gelo, em que a pedra corre. Os varredores usam as vassouras para criar fricção em frente da pedra, aumentando sua velocidade e modestamente redirecionando seu caminho.
Como existem poucas especificações, os fabricantes não têm por onde se guiar.
“Alguns times estão acusando outros de trapacear, mas não é trapaça porque não há regras”, explica Brad Gushue, canadense que foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 2006. “O problema é que as associações estão sempre um passo atrás. Elas precisam tomar a dianteira e dizer: ‘Aqui estão as regras’.”
No ano passado, Gushue percebeu que os times que usaram o IcePad tiveram significativamente mais controle sobre as pedras do que sua equipe. Depois que seu contrato de patrocínio expirou com a Goldline, outra grande fabricante, ele assinou um com a Hardline.
Ainda não se sabe se a orientação atual da federação vai durar. O que muitos no esporte querem é que sejam feitos mais testes por grupos independentes e também que a decisão sobre como o curling vai continuar a ser jogado seja tomada de maneira mais aberta e colaborativa – algo não tão fácil dado o relacionamento íntimo com os fabricantes. (A BalancePlus é a patrocinadora do WCF, do Curling Canada e da Associação de Curling dos Estados Unidos.)
“É um assunto delicado para vários jogadores”, afirma Val Sweeting, competidor de alto nível patrocinado pela BalancePlus. “Obviamente, deve haver testes científicos e uma visão mais abrangente do assunto, mas uma necessária solução temporária está garantida. Toda essa questão criou muita tensão. O WCF teve que fazer alguma coisa.”
Gushue diz que gostaria de ver um encontro em que as cerca de 18 pessoas que representam amplamente o esporte discutissem os novos padrões, mas sabe que não será possível fazer isso até que a temporada atual, que vai até abril, termine.
“É um argumento interessante no curling, temos muito controle? Qual é o limite? Já acontecia antes do IcePad? O outro lado é o negócio. Você quer que as empresas sejam mais competitivas, e claramente o IcePad é um produto superior. Mas não deveria ser banido só por causa disso”, diz Gushue.
Então, ele volta para o ponto principal, o que parece estar por trás das pedras e das vassouras.
“Temos que voltar para a questão número um. Quanto controle é muito controle?”
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