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Chester Williams durante clínica em projeto social de Curitiba. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Chester Williams durante clínica em projeto social de Curitiba.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Único atleta negro no time da África do Sul campeão mundial de Rugby em 1995, o lendário ponta Chester Williams foi um dos catalisadores da tentativa do então recém-empossado presidente Nelson Mandela de unificar o país após décadas de apartheid — regime de segregação racial que vigorou de 1948 a 1994. História contada no filme “Invictus”, de 2009, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman, no papel de Mandela.

A final do torneio, realizado na própria África do Sul, foi vencida contra a favorita seleção da Nova Zelândia, potência mundial da modalidade. “Após o fim da partida, me lembro de olhar para as arquibancadas e ver, depois de muito tempo, o país unido em uma só cor”, rememora Williams, de 45 anos, que esteve em Curitiba para carregar a tocha olímpica na última quinta-feira (14), a convite de um dos patrocinadores dos Jogos Olímpicos. Um dia antes, ele prestigiou o projeto social Vivendo o Rúgbi, do Curitiba Rúgbi.

Vinte e um anos após o feito histórico, Williams reforça a crença no poder de ‘cura’ do esporte. Desta vez, no Brasil. “Desejo que os Jogos Olímpicos também unam o Brasil”, destaca. “Quero dizer socialmente, politicamente, de todas as maneiras. Acredito ser importante que os componentes políticos e sociais trabalhem juntos. De outra maneira, não há como ser um país seguro e feliz. E é isso que os Jogos podem fazer através do esporte”, confia.

Albari Rosa/Gazeta do Povo

O Pérola Negra, como Williams é conhecido no país natal, relembra a participação essencial de Mandela instantes antes de a equipe sul-africana entrar em campo para enfrentar os neozelandeses.“Vinte minutos antes do jogo, Mandela caminhou até o vestiário e disse: ‘Meus amigos, hoje eu sou um torcedor de vocês”, conta.

“O vestiário ficou em silêncio absoluto. Poderíamos ouvir uma agulha caindo no chão. Em seguida, ele cumprimentou a todos e, em meu ouvido, disse: ‘Vá lá e nos deixe orgulhosos’. Foi a experiência mais maravilhosa. Pude contribuir para a unidade do meu país”, celebra.

A relação de Williams com Mandela foi além. Ambos tornaram-se amigos pessoais. Almoçavam, jogavam tênis juntos. Mandela inclusive foi ao casamento do ex-atleta. “Tínhamos um vínculo muito próximo, uma relação pessoal. Mas, para mim, apenas conhecê-lo já teria sido incrível”, ressalva, sobre o presidente que, antes de assumir o poder, passou 28 anos na prisão por liderar a resistência contra o sistema de segregação do Apartheid.

Preconceito

De origem pobre, nascido e criado na Cidade do Cabo, atual capital legislativa da África do Sul, Williams relembra que, logo após ingressar nos Springboks (apelido da seleção sul-africana de rúgbi), sofreu preconceito por parte dos companheiros de equipe brancos.

“Dois ou três anos antes do título mundial, ainda estávamos lutando para aceitarmos uns aos outros”, relata. “Em 1995 não houve bullying. Éramos uma família. É porque começamos a viver juntos e a entender a cultura uns dos outros, assim como a confiar uns nos outros. E aceitarmos uns aos outros também”.

Hoje, quando caminha pelas ruas da cidade natal — onde ainda vive — o Pérola Negra é exaltado pela população sul-africana. “As pessoas me param para tirar fotos e demonstram que ainda gostam muito de mim”, afirma. Agora técnico, Williams nutre o sonho de assumir o cargo da seleção nacional dentro dos próximos dez anos. “Minha carreira está progredindo”, assegura.

História cinematográfica

Matt Damon (centro) foi o protagonista do filme Invictus, de Clint Eastwood. Chester (segundo à direita) foi interpretado por McNiel Hendriks.

A história de Williams e da conquista do título mundial da seleção sul-africana de rúgbi em 1995 rendeu o livro “Playing the enemy”, de John Carlin, publicado em 2008. E filme nas mãos do diretor norte-americano Clint Eastwood. “Invictus”, lançado em 2009, contou com a participação direta do ex-atleta durante as filmagens.

“Assisti ao filme muitas vezes. Acho que é um reflexo verdadeiro do que se passou. Sobre a Copa do Mundo de Rúgbi e sobre o Apartheid também. Claro, 10% é coisa de Hollywood. Mas foi uma grande oportunidade para nós mostrarmos ao mundo como é a África do Sul”, comenta Williams.

“Clint Eastwood, Morgan Freeman [ator que interpretou Mandela], Matt Damon [interpretou François Pienaar, capitão da seleção sul-africana], são indivíduos incríveis. Eu acompanhei todo o processo de filmagem”, afirma Williams.

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