Entenda o caso
Velódromo do Pan foi desmontado por não ter condições olímpicas. Entenda o porquê:
1 O projeto inicial do velódromo custava R$ 35 milhões, seria uma obra temporária, para 2,5 mil espectadores; a estrutura licitada foi para 1,5 mil pessoas, permanente, sem sistema de climatização e custou R$ 14,1 milhões.
2 Após o Pan, o velódromo só começou a ser usado para o ciclismo em 2009, com uma equipe e escolinhas na estrutura mantida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
3 No final de 2012, um parecer da União Ciclística Internacional (UCI) colaborou para a decisão de desmontar o velódromo e construir um novo para a Olimpíada. Os motivos: capacidade de público para 5 mil pessoas; a pista olímpica capaz de atingir 85 km/h (a que virá para Pinhais chega a 65 km/h) e duas colunas centrais que obstruem a visão da pista por árbitros e público.
4 O novo velódromo ficará em outro local do Parque Olímpico, o que contribui para especulações de que o desmonte foi motivado por interesses imobiliários na região onde estava localizado.
5 O edital de licitação para a construção do velódromo olímpico no Rio foi lançado em setembro e o orçamento previsto é de R$ 136,9 milhões, sem o custo da pista de madeira.
Sem chance de ser usado nos Jogos Olímpicos de 2016, o velódromo usado no Pan do Rio em 2007 está trancafiado em 21 contêineres desde o início do ano, com destino definido: Pinhais.
INFOGRÁFICO: Veja como será a mudança do velódromo para Pinhais
A única estrutura para o ciclismo de pista coberta do país chegará no primeiro semestre de 2014 usada, mais cara do que custou e ainda sem definição de como será instalada.
O velódromo foi construído entre 2006 e 2007, custou R$ 14,1 milhões aos cofres da prefeitura do Rio de Janeiro e do governo federal, e será transferido para a Região Metropolitana de Curitiba até junho de 2014 em um convênio estimado em R$ 20 milhões para transporte e instalação, bancado pelo Ministério do Esporte.
Em contrapartida, a prefeitura de Pinhais assume a manutenção da estrutura esportiva (valor ainda não estimado pelo município) e cede o terreno de 8 mil metros quadrados no bairro Maria Antonieta, o segundo mais populoso do município.
O Ministério festeja a transferência do equipamento esportivo como uma "vitória do esporte paranaense". Mas é resultado de um arranjo para dar utilidade para uma estrutura construída às pressas para os Jogos Pan-Americanos para servir de legado esportivo aos cariocas. A promessa não durou nem cinco anos.
"Não havia ciclismo de pista no Rio até os Jogos. Começamos a usar o velódromo efetivamente em 2009, criamos uma equipe, contratamos técnicos, professores. Quando formamos a base esportiva, recebemos a notícia, no final do ano passado, de que o velódromo seria demolido para a construção de outro, maior e mais caro", conta o presidente da Federação de Ciclismo do Rio de Janeiro, Claudio Santos.
O destino inicial da estrutura seria Goiânia, que desistiu da oferta. "É um material usado, corríamos o risco de algumas peças não encaixarem, faltarem peças. Teríamos de arcar com 30% do valor do transporte e instalação. Não compensava", diz o gerente de Lazer da Secretaria de Esportes da prefeitura de Goiânia, Paulo Sérgio Simão Junior.
O valor estimado para a transferência era de R$ 12 milhões.
Ricardo Gomyde, assessor do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, dá outra razão para a mudança de destino da estrutura. "A intenção era fazer um Centro de Alto Rendimento em Goiânia. É um velódromo de ponta e a cidade de Pinhais mostrou as condições para receber essa instalação. Vamos garantir que seja feita da melhor forma, com toda a qualidade de reconstrução. O processo licitatório da empresa q ue vai instalar esse material vai garantir a qualidade das instalações", afirma.
Para o presidente da Federação Paranaense de Ciclismo (FPC), Adir Romeo, é necessário que a empresa holandesa Sander Douma, que projetou o velódromo, faça a reconstrução em Pinhais.
"É o maior desafio. Vamos usar os mesmos pilares, mas já sabemos que teremos de trocar peças do assoalho, que precisa ser todo pregado. As adaptações no projeto original ainda estão sendo discutidas com o Ministério", fala.
Claudio Santos adverte: "Mesmo se esse material não tivesse há 11 meses encaixotado, não sei dizer se mais de 12% poderia ser reaproveitado. É bem provável que o custo total dobre. Acho que vocês ganharam um presente de grego", destaca.
Cidade garante que velódromo terá fim social
O uso do velódromo em Pinhais por atletas do alto rendimento ainda não foi acertado. Para a prefeitura da cidade, o uso social da estrutura que no Rio, abrigava um time e escolinhas de ciclismo, uma área de patinação, um centro de excelência de ginástica é a prioridade.
"A área escolhida para a instalação é em um bairro populoso, próximo a escolas, para incentivar o uso pela população local. Queremos que tenha, além de ciclismo, outras atividades esportivas e culturais", diz o secretário de Esportes de Pinhais, Ricardo Augusto Pinheiro.
Já o Ministério do Esporte espera que haja uma equipe de alto rendimento treinando no local, embora não tenha tornado uma exigência no convênio firmado.
"Isso é óbvio. Como é um velódromo de ponta e não de iniciação, a equipe a usá-lo será de ponta. É uma condição de sustentabilidade do projeto. Uma condição de bom senso", afirma Ricardo Gomyde, assessor do Ministro do Esporte, Aldo Rebelo.
O presidente da Federação Paranaense de Ciclismo (FPC), Adir Romeo, diz que os projetos de iniciação no ciclismo de pista são os primeiros passos. "Vamos lançar, no dia 5 de dezembro, o Clube da Bicicleta, para a formação de novos ciclistas. Preciso de um lugar que seja uma escola real para ensinar atletas de alto rendimento, de uma pista de nível internacional para formar um ciclista de nível internacional. Também teremos atletas de ponta, como o Davi [filho de Adir, campeão brasileiro em 2012] treinando lá", fala.
O presidente da federação carioca, Claudio Santos, defendeu a escolha da cidade. "Melhor que Goiânia, onde não há ciclismo de pista. Ao menos no Paraná, há os polos de Londrina e Curitiba", disse.
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