O sonho de garantir a segurança durante os Jogos Olímpicos se tornou frustração para agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar do Paraná que foram cedidos à Força Nacional de Segurança. Em entrevista à Gazeta do Povo, eles relataram que a falta de condições mínimas de estrutura, escalas de trabalho prolongadas e “acordos” com líderes do tráfico podem impactar de forma decisiva na segurança das Olimpíadas. Nesta semana, vários policiais fizeram uma manifestação no conjunto habitacional em que estão alojados.
Mais de 200 policiais paranaenses foram incorporados à Força Nacional de Segurança, após terem passado por um rigoroso teste de seleção. Quando chegaram ao Rio de Janeiro, no entanto, se depararam os problemas estruturais. O alojamento fica em um conjunto habitacional da Caixa Econômica Federal, onde não havia sequer mobília. Os policiais tiveram que tirar dinheiro do bolso para comprar tudo: colchões, chuveiro, lâmpadas e mesas para fazer as refeições.
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Leia a matéria completa“O Rio foi escolhido [para organizar as Olimpíadas] em 2009. Tiveram sete anos e chegamos aqui e está essa ‘zona’. Nos primeiros dias, nem água tinha. O trabalho que estão dando aos policiais é desumano. Isso porque é a elite da polícia de cada estado”, disse um policial civil paranaense, que concordou em conceder entrevista sob condição do anonimato.
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Leia a matéria completaAlém das condições de alojamento, os agentes têm sofrido com a escala de trabalho prolongada. Os policiais chegam a trabalhar por 18 horas ininterruptas. Os escalados para trabalhar no videomonitoramento, por exemplo, estariam cumprindo escala de 12 horas de serviço, por 12 horas de folga e 12 horas de prontidão. Na prontidão, eles não podem sequer sair do alojamento. Com a falta de efetivo, alguns chegam a trabalhar 24 horas e descansar 12.
“Como veio pouco mais da metade do efetivo previsto, as escalas ficaram pesadas, desumanas mesmo. Você não imagine o impacto que representa pra segurança um policial cansado, sem condições de trabalho”, apontou um policial militar. “Detalhe: na Barra da Tijuca, que vai concentrar 52% dos jogos, o video monitoramento ainda nem foi instalado”, acrescentou um policial civil.
Acordo
O alojamento fica entre a Comunidade Gardênia – que seria comandada por milícias – e a Cidade de Deus – que estaria sob a égide do tráfico. Segundo os agentes, a Força Nacional de Segurança teria firmado um acordo com traficantes e milicianos, segundo o qual os policiais só poderiam entrar desarmados nas comunidades. Para os agentes, este ponto pode ser decisivo para colocar em risco a segurança dos Jogos.
“Quem faz blitz aqui é o tráfico. Faz abordagem, revista veículo, toma dinheiro e manda seguir. Por isso, por isso, o policial não pode andar armado. Porque se estiver armado e for identificado, morre”, apontou um agente. “Enquanto os policiais andam desarmados, os traficantes andam livremente armados nas favelas, que resolveram chamar de comunidade”, acrescentou.
Além disso, os agentes dizem que foram orientados a pedir “permissão” aos traficantes para entrar nas favelas. “É um absurdo. Primeiro, por ter que pedir permissão para entrar em local público. Segundo, por aceitar condições impostas por bandidos”, disse o policial.
Diárias
Outro aspecto diz respeito ao pagamento de diária aos policiais incorporados à Força Nacional de Segurança. Eles dizem que a promessa era de que receberiam diária dupla, de R$ 448. Na prática, no entanto, a Força Nacional de Segurança vem pagando R$ 224, sob alegação de estar fornecendo alojamento aos policiais.
“Eles colocaram seis policiais por apartamento. Com esse dinheiro, imagine o apartamento que não daria pra alugar. Enquanto isso, a gente está espremido num lugar sem qualquer condição”, apontou um policial militar do Paraná.
Nesta quarta-feira (13), as denúncias chegaram à Associação dos Praças do Paraná (Apra-PR). As condições a que os policiais estão submetidos podem gerar uma debandada dos policiais da Força Nacional. “O clima de insatisfação é total. Tem muita gente falando e pedir baixa, e não é pouca gente”, disse um policial.
Resposta oficial
Por email, assessoria de imprensa do Ministério da Justiça e Cidadania informou apenas que “a estrutura para o serviço de segurança das instalações olímpicas está garantida, assim como as diárias dos profissionais da Força Nacional de Segurança Pública que atuarão nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos”.
Segundo o relato oficial, há 4,5 mil policiais inativos inscritos que “ podem ser aproveitados nas Olimpíadas, se houver necessidade.”
As denúncias de falta de condições mínimas no alojamento, de escalas de trabalho prolongadas e de acordos com o tráfico não foram respondidas.
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