Era meio da tarde do último domingo olímpico da Rio 2016 quando Lipe bloqueou Zaytsev e selou a vitória brasileira por 3 a 0 diante da Itália, então melhor campanha do vôlei masculino dos Jogos.
A comemoração efusiva e a cantoria emocionada no pódio – Lipe tradicionalmente não canta o Hino Nacional na abertura dos jogos – contudo, não dimensiona completamente a personalidade do curitibano de 32 anos, com passagens por clubes da Itália, Grécia, Japão, Turquia e Polônia. “Quero mesmo é desenvolver um projeto social com vôlei e jogar em Curitiba. A cidade merece há tempos ter uma equipe de vôlei forte”.
O oposto de 1,98 e 96 kg começou no Clube Curitibano, onde queria mesmo era praticar basquete. “Um técnico me tirou dessa e me direcionou para o vôlei”. Depois, esteve em Maringá, Blumenau, São Paulo e Modena, na Itália, onde jogou por quatro anos.
De volta a Curitiba, Lipe vive dias de indefinição. Depois de não aceitar a redução salarial proposta pelo Taubaté, o ponteiro estuda voltar para a Itália. Também recebeu propostas do Irã e do Japão. Antes de definir o futuro, pretende bater na porta de alguns empresários locais para estudar a viabilidade de formar um clube na capital.
Na Superliga de 2016, dos onze times confirmados pela CBV, dois são paranaenses: Castro e Maringá. “Tenho modelos de investimento. Com apoio da prefeitura local e de patrocinadores de mente aberta dá pra fazer um time competitivo. O vôlei tem muito público. Todas as cidades que apostaram no esporte nos últimos anos tiveram grandes retornos de marca, de mídia, de audiência”, alega.
Caminho para o ouro
A indefinição talvez seja um fator rotineiro do jogador. O próprio ciclo olímpico de Lipe não é fácil de definir. Em 2011, ele integrou a seleção B, ouro no Pan de Guadalajara. De lá para cá, o ponteiro foi ganhando espaço aos poucos, ficou fora de algumas convocações e lidou com as limitações do próprio corpo. Na briga para ser um dos quatro ponteiros do grupo no Rio, ficou. Murilo, um dos jogadores de confiança de Bernardinho, saiu.
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Desde o início de carreira, Lipe passou por três cirurgias de joelho. Na preparação para os Jogos, teve uma delicada contusão de panturrilha, que impediu de fazer uma preparação física mais intensa. Começou a primeira fase como reserva de Maurício Borges. Entretanto, a sua atuação intensa contra a França, na última partida da primeira fase, mudou a sua trajetória nas Olimpíadas. “Jogamos uma oitavas de final antecipada. Depois de perdermos para os Estados Unidos e a Itália, era ganhar ou ir embora de uma Olimpíada em casa. No dia anterior ao jogo, nos reunimos e tivemos uma conversa bem violenta”, relembra.
Convincente, o Brasil ganhou de 3 a 1 e Lipe, vindo do banco, foi um dos destaques, trazendo ao time um aspecto mais sanguíneo, mais vibrante. Inclusive, muitas vezes cobrou desempenho dos companheiros de modo mais “enérgico”.
Nas quartas de final, ele também auxiliou a seleção a vencer a Argentina, líder da outra chave na primeira fase. Foi o momento mais dramático da seleção nos Jogos, quando Lucarelli sentiu um estiramento na coxa e Lipe uma contratura nas costas. Contra a Rússia, fez sua primeira partida como titular, jogando à base de remédios. Na final, foi decisivo no saque e no bloqueio. “Estávamos com a Itália entalada na garganta. Eles foram o time mais consistente, mas ficavam, a cada jogo, fazendo uma gracinha aqui e ali nas redes sociais. A hora deles ia chegar”.
Literalmente, Lipe pagou um preço alto para ser protagonista olímpico. O atleta até investiu em aparelhos médicos, “Tenho até um aparelho especial que deve ter custado uns 15 mil reais. Adquiri só para poder me tratar todos os dias de meus problemas físicos”, relembra.
Ele também investiu em acompanhamento psicológico e exercícios de mentalização. “Mesmo no banco, eu estava preparado para todos os jogos, vendo ali de fora o que iria fazer quando entrasse. A Olimpíada também foi muito pesada por conta dos horários dos jogos. Teve dia em que o jogo acabou quase 1h e fomos dormir depois das 4h.”
Reconhecido nas ruas de Curitiba e eleito, ao lado de Wallace e Serginho, como o cerne da conquista no Rio, Lipe é taxativo acerca de seu futuro na seleção. “Se for convocado, defenderei a seleção com o maior prazer e com o que posso contribuir para a geração mais nova, que está chegando com tudo. Mas meu corpo não aguenta outro ciclo olímpico”, completa.
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