Quatro provas, três ouros e uma prata além de um recorde mundial quebrado. Ao vencer os 100 m, os 200 m e os 400 m e ficar ontem em segundo no revezamento 4x100 m no Mundial de Atletismo paralímpico, nesta semana, em Lyon (França), o paraense Alan Fonteles confirmou ser uma das sensações das pistas nas provas para pessoas com deficiência.
O feito do atleta de 21 anos, que teve as duas pernas amputadas aos 20 dias de vida e usa próteses em forma de lâmina para correr (similares as que renderam ao sul-africano Oscar Pistorius o apelido de Blade Runner), voltou a levantar a questão sobre o limite da tecnologia no suporte aos paratletas.
Fabricantes de próteses para atletas de alto rendimento afirmam que já existe tecnologia para superar os recordes de atletas convencionais. Mas resultaria em movimentos fora do padrão para um velocista. Então, a tendência é que as regras das competições (como limitar angulações, altura e flexibilidade dos equipamentos) fiquem cada vez mais rígidas, para manter um limite ético de competitividade.
"A ideia do paradesporto não é criar super-homens, mas sim tentar copiar o movimento biomecânico natural. Seria fácil criar uma tecnologia que faça um atleta dar saltos de três metros, mas não teríamos um movimento humano", avalia o projetista e diretor para a América Latina da empresa de próteses Ossur, Jairo Blumenthal.
Ainda assim, os índices derrubados pelo atletas biamputados no atletismo impressionam. Para ficar em um exemplo, nos 200 m livre, há uma semana, Alan Fonteles quebrou o recorde mundial ao terminar a prova em 20s66, melhorando em 79 centésimos os 21s45 que lhe rendeu o ouro paralímpico, há dez meses. Entre atletas olímpicos, foram precisos 21 anos para atingir a mesma melhora.
A marca o coloca entre os cinco brasileiros mais rápidos na distância em 2013 entre os corredores convencionais. E mais: garantiria o sétimo lugar na Olimpíada de Londres.
"Isso tudo é resultado não só da melhora dos equipamentos, mas também do tratamento dado aos paratletas. Alguns deles recebem treinamento melhor do que o de alguns atletas olímpicos do país. Mas se você quer saber os índices dos atletas com necessidades especiais vão superar os de atletas convencionais? Não. Em algum tempo, a progressão dos novos recordes vai diminuir", aposta o diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Ciro Winclker.
O diretor técnico da fabricante de próteses Ottobox Academy na América Latina, Thomas Pfleghar destaca outro ponto que restringe a evolução dos atletas paralímpicos. "A musculatura humana gera energia que se converte em impulso, principalmente com a panturilha e a coxa. Já as lâminas consomem energia. Então sempre haverá perda no processo artificial".
O Mundial de Lyon termina hoje.
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