São José dos Pinhais ganha fama como polo de ‘esportes alternativos’

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Com o objetivo duplo de formar cidadãos e descobrir novos talentos, São José dos Pinhais mira em esportes alternativos para chamar a atenção, formar atletas e tirar crianças das ruas.

Durante quatro meses foram inaugurados o Centro de Excelência de Boxe (CEB) e o Centro de Treinamento de Tênis de Mesa, duas modalidades pouco atendidas num universo em que os esportes coletivos roubam a cena.

Os projetos apoiados pela secretaria de esportes da cidade mobilizam pelo menos 300 crianças e adolescentes de 5 a 19 anos. O foco de cada um, no entanto, é diferente.

No caso do pugilismo, desde junho os ex-campeões mundiais Macaris do Livramento e Rosilete dos Santos estão à frente do CEB no Jardim Cruzeiro, área humilde na cidade da região metropolitana.

Criado graças à Lei de Incentivo ao Esporte do Governo Federal e ao empenho dos ex-lutadores, o local passou a atender em média 200 crianças e tem como objetivo o esporte de participação.

“O lado social é a nossa aposta. Não queremos formar atletas, mas sim pessoas melhores. O boxe ensina disciplina e dá saúde para essas crianças”, explicou Macaris, que revelou uma longa fila de espera de crianças e pais interessados.

O investimento para implementação do projeto por parte do município foi perto de R$ 250 mil.

Apenas crianças matriculadas em escolas do ensino fundamental e médio podem ‘subir no ringue’.

“O trabalho existe desde 2000. Era para ser em Castro, cidade natal da Rosilete, e depois em Curitiba. Tivemos problemas de estrutura lá, mas fomos muito bem acolhidos aqui em São José”, segue o ex-boxeador.

Rosilete ‘fecha a guarda’ para defender a inclusão por meio de atividade física. “A evolução é notada pelos pais e professores. Eles melhoram o desempenho escolar, o relacionamento com a família e até nas tarefas domésticas”.

O boxe motivou a secretaria de esportes a investir em outro esporte nanico, mas com grande potencial de agregar jovens: o tênis de mesa.

Desde 2010 os praticantes da atividade dividiam espaço com atletas de vôlei, futsal e handebol na quadra 2 do Ginásio de Esportes Ney Braga, tradicional polo esportivo de São José.

“Fomos atrás de um espaço melhor. Não conseguíamos evoluir e perdíamos atletas. Agora, com uma estrutura exclusiva para desenvolver o esporte, com equipamentos novos, conseguimos ampliar o projeto”, comemora Thiago Buhrer, secretário de esportes do município.

Em pouco menos de dois meses dobrou o número de alunos. Hoje 115 crianças e jovens a partir de 5 anos de idade frequentam o local, que já pertencia ao município, e ao invés de receber apenas três mesas, passou a contar com nove, além de raquetes e bolinhas novas.

No Brasil existem 24 mil atletas olímpicos e paraolímpicos federados e cerca de 30 milhões de praticantes de tênis de mesa. No boxe a estatística é menor: 15 mil atletas.

O centro de treinamentos foi inaugurado em agosto e tem como padrinho o tricampeão pan-americano e medalha de prata olímpico (em Indianápolis, 1987), Hugo Hoyama. Ele deu importante visibilidade à iniciativa.

“Um local específico para a prática do tênis de mesa, com apoio exclusivo do poder público, é louvável e tem poucos no Brasil”, contou Hoyama.

Diferente do CEB, o tênis de mesa tem como foco o descobrimento de talentos – sem esquecer a proteção da infância. “Quando viemos para cá, tinha muita gente nas ruas, andando de skate ou ociosas. Trouxemos todos eles para cá e muitos já mostram talento e uma evolução”, contou Jefferson Martins, 33 anos, responsável pelo projeto.

Os investimentos transformaram a cidade em referência em esportes “alternativos” ao futebol.

“É um sucesso. O apoio que temos não existe em lugar algum. Participamos de campeonatos em todo o estado, mas o foco das cidades é sempre outro. Modalidades como o tênis de mesa não têm apoio. Aqui somos bancados”, disse Martins

Rachel Bittencourt, de 22 anos, já foi aluna do projeto e hoje é uma das estagiárias que ajuda a ensinar o esporte e repassar aos jovens os benefícios que ele traz.

“Eles têm bastante potencial, são esforçados e estão evoluindo. O tênis de mesa ajuda a desenvolver a concentração e o condicionamento físico”, explicou a acadêmica de Educação Física.

Hugo Hoyama acredita que o apoio nessa fase é fundamental para o desenvolvimento dos jovens atletas. Em São Bernardo-SP ele revê o mesmo incentivo, o que foi determinante para sua carreira.

“Os jovens não têm a preocupação de não ter onde e como treinar. Com local certo, e estrutura específica, é bem mais fácil”.

O “como treinar” mencionado por Hoyama já foi resolvido. Os atletas que se destacam recebem o chamado “passe atleta”, que consiste em vales-transportes que são distribuídos para facilitar o acesso de potenciais craques da modalidade ao local de treinamento diário.

Ao todo, São José dos Pinhais tem nove núcleos esportivos, com mais dois em construção. A cidade tem ainda centros especializados em xadrez, com resultados nacionais, vôlei (vai disputar a superliga B ano que vem), Futsal (disputa série prata do Paranaense) e basquete.