Dentro de quadra, o levantador Ricardinho acostumou-se a cobrar. Agora, como dirigente, aprendeu a pedir. Para a criação do Moda Maringá, clube que vai estrear na Superliga Masculina de vôlei em setembro, o jogador de 37 anos viu-se, nas últimas quatro semanas, batendo de porta em porta do empresariado maringaense para conseguir a verba para o projeto. Apesar de ter captado 50% do valor estimado para bancar o time por três temporadas (o apoiador máster, o Sindicato do Vestuário da cidade, dará R$ 6 milhões até 2016), ele se diz satisfeito em formar a equipe com os amigos que escolheu para jogar no momento que uma crise financeira bagunçou a dança das cadeiras no vôlei masculino.
Qual é a sensação de ser o responsável por Maringá voltar a ter um time?
É emocionante. Sem eu querer, aconteceu de uma forma bem com as minhas características: sempre na ousadia, inovando. Eu sempre tive um sonho guardadinho de trazer uma equipe de volta a Maringá, a cidade que me deu tudo: esposa, filhas. Sou de São Paulo, mas moro aqui desde os 17 anos. Quero que a cidade abrace o voleibol novamente.
Em que momento você tomou a frente do projeto?
Quando o Vôlei Futuro [clube que defendeu neste ano] me deu o ok de que não iria renovar. Então coloquei minhas coisas e minha família dentro do carro e vim para cá, no final de junho.
Você será o levantador e presidente. Como é isso?
No dia seguinte que deixei Araçatuba, vim para Maringá e comecei a correr atrás da prefeitura, que me levou aos empresários. Fui caçar níquel de porta em porta, pedindo dinheiro explicando meu projeto, tudo em um prazo muito curto. Fui contratar jogador, tudo por telefone. Estou curtindo muito essa rotina de treino, escritório, sair prospectar apoio. Essa primeira temporada do Moda Maringá vai ser de um grande aprendizado.
O Moda Maringá surge em meio à crise de patrocínios no vôlei...
Até mesmo o Rio de Janeiro, que ganhou o último campeonato, está tendo dificuldade de montar equipe. Tenho um pouco de medo que isso continue piorando. Por isso estou muito emocionado em, tão pouco tempo, conseguir metade do orçamento para três temporadas. Está muito difícil, ainda mais nesse período em que está tudo muito focado no futebol, na Copa do Mundo.
Você chamou para sua equipe atletas que são seus amigos. Qual vai ser a característica do conjunto?
Uma equipe muito guerreira. Escolhi jogadores que conheço há muito tempo, conheço a característica de cada um tanto dentro quanto fora de quadra. Ligava dizendo "vocês estão a fim? Eu vou encarar e quem estiver disposto vem comigo". Muitos tinham proposta para sair do país . O primeiro foi o Lorena [oposto de 34 anos, ex-atleta do Sesi]. Falei: "Não vou conseguir pagar o que você vale". Não falei com procurador, falei diretamente com cada jogador para explicar a situação da equipe. Vai ser uma equipe muito unida. Nesse primeiro ano, queremos chegar entre os semifinalistas.
O time já tem patrocinador master até 2016. Você joga até lá?
Eu pensava em jogar duas temporadas, mas ganhamos essa terceira. Aí coloquei como objetivo que quero jogar as três. Como não tenho lesão, não sinto dores e tenho uma ótima recuperação física, com alguns cuidados, chego lá.Três temporadas são para se aposentar como campeão da Superliga?
Esse é o sonho. Dificilmente eu entro em algo para perder. É sempre para ganhar ou incomodar os grandes. E essa equipe vai incomodar muito, pode acreditar. Quem vier jogar aqui dentro [do ginásio Chico Neto] vai ter de jogar bem para conseguir uma vitória. Esses jogadores que estão aqui não aceitam provocação ou perder. Mesmo perdendo, vamos arrumar bastante confusão.
O que você se lembra da sua primeira passagem por um time de Maringá, o Cocamar, há 20 anos?
Eu tinha 17 para 18 anos e foi meu primeiro contrato em equipe profissional. Ficou a memória de todos de que aquele Cocamar era um timão. Mas não era assim um timããoo; tinha outros melhores, mas ficou a imagem de potência pelo que os jogadores da época como eu e o Giba [ponta, hoje desempregado] conquistaram depois. Daqui levei a vibração da torcida.
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