José Wilker Nacimento, um dos dois brasileiros do circuito mundial de saltos ornamentais em altura| Foto: Marcelo Maragni/Red Bull Content Pull

Na sunga e na coragem. É assim que um seleto grupo de atletas que encara 27 metros de altura – o equivalente a um prédio de oito andares –, a uma velocidade de 85 km/h, conseguiu incluir uma nova modalidade no Mundial de esportes aquáticos de Barcelona, mês passado. E é assim, em mínimos 3 segundos de queda livre, que esse mesmo grupo pretende pôr o salto ornamental em altura na Olimpíada de Tóquio, em 2020.

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É essa esperança que fez com o que o paraense Jo­­ce­­lino Júnior, 30 anos, largasse as apresentações artísticas no segundo maior cassino do mundo, em Macau, na China, em um espetáculo de US$ 250 milhões ao estilo Cirque du Soleil, só que na água. "Vou correr atrás para chegar na Olimpíada, o que impulsionaria muito o esporte, como já aconteceu no Mundial de Barcelona", revela. Júnior é integrante do grupo dos 14 melhores atletas do mundo do circuito Red Bull Cliff Diving, que esteve em Niterói (RJ) neste fim de semana, mas foi impedido de competir por causa de avarias na plataforma causadas por fortes ventos.

A busca do hall olímpico está sendo cavada pelos próprios atletas, já que a modalidade ainda não conta com um quadro de treinadores e dirigentes. "Todos são praticamente autodidatas. Por isso que o reconhecimento da Fina [Federação Internacional de Esportes Aquáticos] é um passo importante também para se criar todo esse nicho", avalia o colombiano Orlando Duque, 39 anos, precursor e o maior nome da modalidade.

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A experiência de Duque, que pratica o salto ornamental em altura desde 1995 e foi o campeão em Barcelona, tem feito diferença não só no caminho da plataforma à água. O colombiano é o principal consultor para a realização de provas ao redor do mundo, além de prestar assessoria em dois centros de treinamentos que estão sendo criados, um em seu país, outro em Cuba. "A ênfase por trás do esporte é sempre segurança", afirma.

Não é para menos. O também paraense José Wilker Nasci­­mento, 24 anos, que junto com Júnior são os únicos brasileiros no staff da Red Bull, já teve uma fratura no nariz e outra no braço – consequências mínimas diante do risco do esporte. "Tem de saber exatamente o que vai fazer do primeiro movimento de braço ainda na plataforma até cair na água, porque qualquer descuido pode causar um acidente", destaca o saltador.

Mesmo assim, o perigo não impede que o salto seja não só o trabalho, mas também a diversão dessa turma. "Uma vez, estava passeando com minha namorada e decidi pular de uma montanha, em Taiwan. Os seguranças tentaram me barrar, mas eu só falei para eles ‘agora vocês me pegam lá embaixo’", recorda Nascimento.

*O jornalista viajou a convite da Red Bull.