No início da década de 1990, na academia onde recebeu a faixa-preta de muay thai, Anderson Silva não era Anderson Silva. O maior campeão da história do UFC, que neste sábado volta ao octógono após 13 meses, era simplesmente 'Dô'.
"Chamávamos ele assim. É até estranho pra gente falar Anderson", admite, repetindo várias vezes o apelido do pupilo, o mestre Fábio Noguchi, de 48 anos.
Foi só a partir do momento em que ganhou fama mundial, bem longe da academia localizada na Avenida Marechal Floriano Peixoto, no Centro de Curitiba, que o nome completo do atleta que mais vezes defendeu o cinturão do evento (dez) passou a soar menos artificial para o professor. Isso porque o discípulo foi totalmente dissociado do campeão.
"Você chama o cara de um nome a vida inteira e depois muda, acha meio diferente, acha que é outra pessoa. E na verdade é", filosofa Noguchi.
Ao contrário de Anderson, Dô não sabia mais do que o básico da luta quando iniciou nos treinos da arte marcial tailandesa, em meados de 1992, aos 17 anos. Como praticava tae kwon do desde os 13 anos, carregava uma noção de socos e chutes. Mas o nível era somente iniciante.
O que as duas facetas do Spider já tinham em comum era o esforço e a vontade de evoluir como atleta. Além do talento nato.
"Ele não treinava por treinar, treinava até o limite", lembra Noguchi. "E corria atrás da informação. Se via algo que não conhecia, uma chave de pé ou uma esquiva diferente, procurava aprender", emenda.
Assim, misturando dedicação e qualidade fora do comum, Dô chegou à faixa preta mais rápido do que o normal, em apenas cinco anos normalmente são dez. Sempre mantendo uma característica que carrega até hoje: o bom humor. "Apesar de passar por situações ruins, como todo mundo, sempre foi brincalhão, meio palhaço", conta o professor.
Uma das passagens marcantes está na biografia Anderson Spider Silva O relato de um campeão nos ringues da vida, lançada em 2012. No livro, o lutador relata que Noguchi o acusou de um roubo, fato que mudou para sempre a relação entre os dois.
Depois de uma longa conversa terminada em lágrimas na mesa de uma churrascaria, o assunto está superado para o mestre. Ele voltou a ter contato mesmo que restrito com Dô. A última vez que conversaram por telefone foi semanas antes da fatídica revanche contra Chris Weidman, quando o brasileiro quebraria a perna esquerda de maneira chocante.
O papo começou no básico 'tudo bem, como está a família', e evoluiu até um convite para ir ao Rio de Janeiro ajudar em alguns treinamentos. O reencontro, porém, não aconteceu.
"E acabei não conseguindo falar com ele depois da luta, em um momento frágil da vida dele. Eu teria dito que ele iria passar facilmente por aquilo. Seria mais uma de suas vitórias", diz o mestre de muay thai, ciente de sua participação na carreira do Spider, mas sem pretensão alguma de colocar um quadro do aluno mais ilustre na parede da academia.
"Ele treinou aqui um tempo, pegou a faixa preta Não coloco [referências] para no dia em que nos visitar não pensar que estou usando a imagem dele para conseguir mídia. Nosso marketing vem de mais de 30 anos de trabalho. Não sou milionário, mas sobrevivo", afirma.
Apesar do orgulho por participar da trajetória uma lenda do MMA, Noguchi garante que o crédito não é dele. Ele compara seu trabalho a uma universidade. É importante ter diploma, mas a faixa preta, sua graduação, só ganhou importância com o que veio depois.
"Preparamos ele para a luta. O mérito é o que ele fez dali para frente", crava.
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