Neymar tem só 14 anos e mesmo sem ter disputado uma partida sequer como profissional já conseguiu uma façanha maior do que Pelé no auge da carreira. O jogador mirim acaba de assinar contrato com salário maior do que o Rei do futebol aos 31 anos, após o tricampeonato mundial. O clube é o mesmo, o Santos, mas os tempos não. A comparação evidencia o mercado milionário e inflacionado em que se transformou o futebol.
Em 1971, Pelé ganhava mais como modelo publicitário do que como jogador. No ápice da carreira, recebia do Santos um salário de 45 mil cruzeiros, ou cerca de US$ 9 mil. Há pouco mais de um mês, o desconhecido Neymar assinou seu primeiro contrato, por dois anos. Como só poderá fazer um acordo profissional com 16 anos, até lá o pai negociou os direitos de imagem do filho, o que começa a render por mês à família R$ 25 mil (US$ 11 mil). A multa rescisória é de US$ 25 milhões (R$ 55,5 milhões).
Neymar, dizem analistas de futebol, será o novo Robinho. Robinho, afirmavam, seria o novo Pelé. Pelé sempre negociou diretamente com o clube. Robinho caiu nas arapucas de empresários até encontrar Vágner Ribeiro e se transferir para o Real Madrid. E Neymar, por meio de Robinho, chegou a tudo mais rápido. Vagner Ribeiro, o Real Madrid, e um contrato milionário.
No começo de abril, o pai do garoto, também Neymar, um ex-jogador de futebol das divisões de acesso, estava com o filho na Espanha, com tudo acertado rumo a Madrid. Sentia por parte do Santos o pouco valor ao seu prodígio. Voltou ao Brasil apenas para buscar a mulher, a filha e as roupas. Mas foi surpreendido com a proposta do presidente do Alvinegro, Marcelo Teixeira. Mudou o discurso e está feliz. "O Santos demorou a se alertar", diz. "O garoto quer jogar bola, e para eles poderem cuidar dele terão de cuidar bem dos pais também".
Vagner Ribeiro também não esconde a realização. A cada entrevista o empresário revela detalhes de seu acordo inédito. Com o novo filão, já tenta investida em outras pérolas como Jean Carlos Chera, de 11 anos, que saiu da Adap para Campo Mourão (PR) e é utilizado nas palestras do técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira, como exemplo de atleta que só o futebol brasileiro produz. Neste caso, Ribeiro não teve sucesso, pois Celso, o pai do menino, cuida muito bem dos negócios do filho e evita dividir os lucros com atravessadores.
Exceto nesse detalhe, Neymar não difere de Pelé e Robinho. Como os dois, vem de família humilde e já é o responsável pelo sustento de parentes e amigos. Mas a ficha dele ainda não caiu, e o que todos esperam é que demore a cair. "Nós vivemos para fazer o Neymar feliz todos os dias, pois ele deixará de fazer muitas coisas que as crianças com a idade dele fazem", diz o pai. Ele não quer repetir o próprio exemplo. "Quando parei, demorei para me adaptar. E quando me adaptei já tinha ido tudo embora", diz. "Não dá para você jogar e ainda se preocupar com negócios".
"Só quero fazer o que eu gosto, que é jogar futebol. Do resto o meu pai e o Vagner cuidam", diz o menino. Para ele, a diferença está no videogame, nos tênis Nike, no novo colégio (agora particular), no apartamento (uma cobertura alugada pelo Santos) e no carro (um Gol zero quilômetro). O pai evita falar dessas coisas, com medo de seqüestro. Como jogador profissional, Neymar pai não se comparava ao filho. Abandonou a carreira aos 32 anos, depois de passar por dezenas de clubes, média de três ou quatro por ano, entre eles o Coritiba.
Em campo, não recebia 20% dos R$ 25 mil que recebe hoje pelo filho. Do futebol, tirou apenas um puxadinho de dois quartos que construiu com as próprias mãos e um mutirão de amigos em São Vicente, na Baixada Santista. Foi lá que o menino começou a jogar futebol, com os amigos, no meio da rua. Hoje, a brincadeira é proibida por causa do risco de contusão, mas de vez em quando Neymar dá uma fugidinha nas visitas aos avós. "Eu não jogo mais de pés descalços, agora eu jogo de tênis".
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