O que seria de uma equipe de futebol que, simplesmente, não realiza um treinamento sequer? Muito provavelmente, estaria por aí, largada, colecionando goleadas vexatórias e rebaixamentos afinal, vivemos a Era das preparações fundamentais de pré e, mais recentemente, até intertemporadas. Ou então, conquistaria o acesso num ano e, no seguinte, despontaria como o líder da nova divisão, como é o caso do Uberlândia na Suburbana.
O time do Novo Mundo, que enfrenta hoje o Bairro Alto, às 15h30, no campo do adversário, o Estádio Pedro Almeida, venceu a 1.ª Divisão em 2006 do futebol amador e atualmente é o segundo colocado da Divisão Especial perde nos critérios de desempate para o Combate.
Foram duas vitórias em duas partidas. Na estréia, sobre o Capão Raso, por 2 a 0, e no último domingo, frente ao Iguaçu por 2 a 1. Tudo isso, o que não é pouco, sem treinar junto.
Logicamente, não se trata de uma estratégia ou superstição maluca. Muito menos, desleixo. É a dureza da falta de estrutura mesmo.
"Não temos apoio, não pagamos ninguém, nem uma ajuda de custo aos atletas", revela David Silva, treinador do Uberlândia. A equipe não tem iluminação em seu estádio o Manoel Gustavo Schier e não pode alugar um campo para a preparação, obrigatoriamente no período da noite, já que os jogadores trabalham durante o dia.
Apesar disso tudo, na base de um bem azeitado "cada um por si e Deus por todos", o clube sobrevive firme e cada vez mais forte. "Os jogadores sabem se cuidar e treinam por conta. E tem o entrosamento de um grupo que atua junto há mais de três anos", declara o lateral-esquerdo Binho, aluno de Educação Física da Uniandrade.
Melhor exemplo da condição do Uberlândia, o atacante Marquinhos mantém o preparo físico de uma forma mais peculiar que o companheiro de equipe. Das quatro até às onze da manhã ele é carregador de caixas no Ceasa.
"Nossa situação não é nada fácil, mas acho que dá para continuar indo bem", diz o centroavante, autor de dois gols na competição.
O bom desempenho com a bola no pé, se continuar, pode significar bem mais do que a classificação para a segunda fase. A intenção é com a qualidade mostrada em campo mais a comprovada seriedade de um trabalho que já dura quatro anos atrair patrocinadores e continuar o projeto de recuperação do clube.
"É o que nós queremos e precisamos. Quem sabe no ano que vem, que tem eleições. E também pretendemos iniciar um projeto social", comenta o técnico David Silva, um dos responsáveis por apagar a imagem ruim do Uberlândia, que em um passado recente era famoso mais pelas brigas e por ser de uma região considerada perigosa.
Por enquanto, o vice-líder da Suburbana vai se equilibrando graças ao dinheiro de alguns abnegados, entre eles seu vice-presidente, Aldo César, que tira do próprio bolso para manter a paixão pelo futebol. "Arrumando o estádio, o gramado etc. Eu jogo desde 1985 aqui, é uma grande paixão", confessa César.
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