"Vai voltar para a seleção?" Há três anos, essa é a pergunta que o levantador Ricardinho mais recebe por onde passa. Se até há pouco tempo a resposta seria um "quem sabe?" ou "espero que sim", depois do Mundial da Itália, o jogador de 34 anos decidiu: nunca mais.
Feliz por voltar a jogar no Brasil em 2010, o jogador de Maringá diz que a decisão é em favor de sua família. Mas não esconde a decepção por não estar entre os 14 que disputaram e venceram a última competição. Se estivesse no grupo, seria tricampeão do mundo.
"Ele [Bernardinho] me chamou de volta. Eu estava lá, na Itália, quietinho fazia uns dois anos e meio. Ele me motivou. Minha volta era certa, pelo que tinha sido me passado. [Ricardinho entrou na lista de pré-convocados, mas os levantadores escolhidos foram Bruno e Marlon]. Tive de dar um basta. Se não, não trabalho direito. Minha filha na escola se sente pressionada por perguntarem se o pai volta ou não", afirma.
Ricardinho não defende a seleção nacional desde 2007, quanto conquistou seu sexto título na Liga Mundial. Foi cortado às vésperas do Pan do Rio por uma discussão com Bernardinho. Mas a torcida brasileira já pode ver o levantador, conhecido pela velocidade na armação das jogadas em um estilo que já foi chamado de "vôlei maluco" atuando. Depois de seis anos jogando na Itália, Ricardinho defende o Vôlei Futuro, de Araçatuba (SP), como um dos principais reforços para a temporada 2010/2011 da Superliga, que começa em 6 de novembro.
Já em quadra para a disputa das semifinais do Paulista, amanhã ele terá um desafio a mais em quadra: enfrenta o Pinheiros/Sky, de seus ex-companheiros na seleção Murilo, Marcelinho e... Giba. Após o incidente que afastou Ricardinho da seleção, ele e o oposto romperam a amizade.
Publicamente, não se falaram mais. Na última terça-feira, durante o evento de lançamento da Superliga, em um restaurante de São Paulo, o encontro dos dois foi o mais esperado. E não passou de um constrangido cumprimento de mãos quando todos os jogadores campeões mundiais foram convidados a subir ao palco.
Enquanto Giba diz não querer uma conversa com Ricardinho diante dos jornalistas, o levantador afirma seguir adiante. "Vai ser aos poucos. A gente se cumprimenta. A melhor coisa é ficar assim e não ficar procurando saber se ainda há o que acertar. Vai ser legal [enfrentá-lo]. No tempo em que a gente se falava a rivalidade já existia, agora acho que vai ser igual", fala.
Satisfeito por estar de volta a seu país, o paulista radicado no Paraná e campeão olímpico em Atenas (2004) afirma que a decisão de se "repatriar" também foi pensando no bem-estar da família esposa e duas filhas, de 13 e 8 anos. E diz-se feliz. "Muito feliz. Estou em minha melhor fase, bem tecnicamente, com maior tranquilidade."
Tranquilidade que não quer dizer menos cobrança em quadra. "Essa é minha característica", defende. No time de Araçatuba, quer enquadrar os atacantes ao seu estilo de jogo. "Temos o Lucão, o Vissotto [ambos campeões mundiais na Itália] que mostraram a mesma vontade da geração anterior. Isso mostra que fizemos escola. Vou ter de fazer esses gigantes [de mais de 2 metros de altura] acelerarem o jogo", fala.