Comitiva brasileira explode de alegria com o anúncio oficial do COI| Foto: Olivier Morin/AFP
Provocação: brasileiros comemoram a vitória carioca na festa organizada pela prefeitura de Madri
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Copenhague - O Rio pôs fim ontem a uma assimetria política e desportiva que completará 120 anos, ao inaugurar uma nova era na história dos Jogos Olímpicos. Em 2016, a cidade brasileira se tornará a primeira da América do Sul a organizar uma Olimpíada. Para alcançar tamanha honraria, a candidatura do Brasil, que já tinha fracassado em três vezes anteriores, superou gigantes na eleição do Comitê Olímpico Internacional (COI), realizada em Copenhague, na Dina­­mar­­ca: Chicago, Tóquio e, por fim, Madri, conseguindo uma vi­­tó­­ria inapelável na última rodada da votação, com 66 votos a 32.

A eleição, transmitida para mais de 1 bilhão de pessoas, foi o final de três anos de uma disputa na qual a cidade brasileira partiu do descrédito quase total até o discreto favoritismo que envergou na última semana. A evolução po­­de ser explicada por um projeto técnico de excelência, uma apresentação impecável e um comprometimento político comparável apenas à candidatura de Ma­­dri. Para os membros do COI, o que mais contou foi o chamado que o Brasil fez à entidade: votar pe­­­lo Rio para 2016 seria optar por dar um novo caminho ao movimento olímpico, universalizando a Olimpíada e desfazendo as in­­justiças das últimas décadas.

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A conjunção de fatores foi re­­compensada pelos delegados do COI, que reconheceram a força de dois argumentos, um racional, outro emocional: o desempenho econômico correto do Brasil, iniciado nos anos 90, e o fato de re­­presentar o subcontinente até então marginalizado, o que contrariava o espírito de universalidade dos Jogos Olímpicos. "A mensagem é clara", afirmou o belga Jacques Rogge, presidente do COI, após a revelação da vitória brasileira. "Escolhemos um argumento extremamente valioso: o de irmos pela primeira vez a um continente que nunca tinha realizado a Olim­píada. E eu acho que essa é uma importante decisão."

Para tanto, Davi teve de derrotar três versões de Golias. A primeira vitória do Rio foi construída so­­bre a favorita nas bolsas de apostas, Chicago, cuja candidatura foi de­­fendida pelo presidente dos EUA, Barack Obama.

Mas Chicago acabou eliminado ainda no primeiro turno, ao terminar em último lugar entre as quatro candidatas. Com a adesão em massa dos eleitores da cidade norte-americana, o Rio assumiu a liderança da disputa, eliminando Tóquio e alcançando uma vitória esmagadora sobre Madri.

Além de todos os significados simbólicos, o Brasil repetirá o feito realizado pelo México nos anos 60, pela Alemanha nos anos 70 e pelos Estados Unidos nos anos 90, ao abrigar no intervalo de dois anos uma Copa do Mundo, em 2014, e uma Olimpíada, em 2016. "O que o COI decidiu vai aumentar a nossa responsabilidade enquanto brasileiros. Nós temos consciência do que é preciso fazer", reconheceu o presidente Lula, que ficou muito emocionado após a vitória do Rio. "Que­bra­mos um último preconceito", definiu.

"O Brasil não pode perder essa oportunidade para mudar a história do país", afirmou o príncipe Albert, de Mônaco, um dos integrantes do COI que votou. "Uma re­­alidade como essa não ocorre pa­­ra um povo com muita frequên­­cia. O Brasil tem a chance de mudar seu destino", completou o monarca. "Era o momento do Brasil. A votação foi lógica", admitiu o primeiro-ministro da Es­­pa­­nha, José Luis Zapatero, que não escondia a decepção com a derrota de Madri.

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A epopeia brasileira para organizar a Olimpíada, cujo orçamento chega a R$ 28,8 bilhões, já começa hoje, ainda em Copenhague, quando ocorrerá a primeira reunião entre os dois coordenadores da campanha do Rio, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, e o secretário-geral da candidatura, Carlos Osório, com executivos do COI. O objetivo: definir um cronograma de trabalho.