“De fato, uma vergonha do passado: um estádio totalmente feito do zero ter problemas de cobertura
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), ressaltou na última quarta-feira (5), na cerimônia de um ano para a abertura da Olimpíada, a importância que o Pan-Americano de 2007 teve para a cidade reduzir custos nos Jogos Olímpicos. Segundo Paes, metade dos equipamentos esportivos da Rio-2016 já existia quando o Brasil venceu a candidatura em 2009.
Paes se referia ao Maracanã, Maracanãzinho, estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas, Marina da Glória e mais quatro estruturas erguidas exclusivamente para a disputa de oito anos atrás. Todas aptas para os Jogos.
Mas também há erros nesta contabilidade olímpica. A começar pelo milionário estádio olímpico: o Engenhão. Em 2013, por determinação da prefeitura, o palco, que custou R$ 380 milhões e que vai receber as provas de atletismo, foi interditado. Um laudo detectou problemas na estrutura da cobertura, que poderia ruir com ventos acima de 63 km/h. O estádio só foi reaberto parcialmente em fevereiro de 2015.
“De fato, é uma vergonha do passado, que não buscamos repetir: um estádio totalmente feito do zero ter problemas de cobertura”, admitiu Paes.
O Maria Lenk, que está sendo reformado para as provas de saltos ornamentais e nado sincronizado na Rio-2016, a piscina de aquecimento rachou e outra teve de ser feita.
A pista de ciclismo, por sua vez, foi construída fora dos padrões da Federação Internacional e teve de dar lugar a uma nova para a Olimpíada, ao custo de R$ 118,8 milhões. “A pista exigiria uma intervenção drástica. Foram feitas contas para ver quanto custaria uma nova e quanto custaria reformar e os valores foram muito semelhantes”, explica Roberto Ainbinder, diretor da Empresa Olímpica Municipal (EOM), órgão da prefeitura do Rio responsável pelas obras dos Jogos.
O diretor de Esportes da Rio-2016, Rodrigo Garcia, que trabalhou no Pan, afirma que o erro do velódromo serviu de lição para a Olimpíada. “Um dos motivos que tivemos que mudar a pista é que a empresa que construiu o velódromo era homologada pela Federação Internacional de Ciclismo, mas entre o Pan e a Olimpíada perdeu o credenciamento”, aponta. “O que a gente aprendeu é que antes de fechar contrato agora temos de verificar se o fornecedor está homologado não só para aquele ano, mas para pelo menos 12 anos”, completa Garcia.
Desde a metade de 2014, a estrutura do velódromo do Pan está em Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A previsão é de que fique pronta em maio, com recurso do Ministério do Esporte.
Outro exemplo que vai contra a lógica de legado está a apenas 5 km das obras do Parque Olímpico na Barra da Tijuca. De carro ou a pé, não é fácil circular no entorno da Vila Pan-Americana, conjunto de 17 prédios distribuídos em oito condomínios de alto padrão que em 2007 hospedou os 5,5 mil atletas do Pan.
Logo após a disputa, quando os proprietários assumiram os apartamentos, as calçadas e ruas que dão acesso aos prédios começaram a afundar, resultado de um erro de execução.
Não foram fixadas estacas para estabilizar o solo do lado de fora dos condomínios, nas vias de acesso aos prédios - nos apartamentos não há nenhum problema. Para piorar, a Vila Pan-Americana foi erguida sobre o solo argiloso de um banhado. Com isso, o terreno cedeu e afundou as ruas.
As grades que cercam os condomínios estão caídas e na frente de alguns se formaram buracos. Em um deles há uma cratera de cerca de 2 metros de profundidade. No prédio da frente, o portão de entrada da garagem teve de ser interditado. Com esse cenário, calcula-se que o metro quadrado dos apartamentos, que deveria custar próximo de R$ 9 mil, hoje está perto de R$ 6 mil.
O engenheiro Luís Najan, morador que representa os condomínios frente à prefeitura na comissão de obras, afirma que após anos tentando resolver o problema, em 2015 o prefeito tem demonstrado boa intenção e chegou a se desculpar com os moradores. Em abril, ao custo de R$ 62 milhões, começou a terceira reforma para solucionar o problema. A previsão de conclusão é final de 2016, quando Paes deixa a prefeitura. “Esperamos que agora o problema se resolva, porque vai ficar muito feio isso ficar assim bem no ano da Olimpíada”, reforça Najan.
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