Os mandamentos
O objetivo da ANT é lutar contra:
- A exclusão do povo brasileiros dos estádios.
- O desrespeito à cultura torcedora.
- A falta de transparência dos dirigentes.
- A exploração politiqueira do futebo.
- O controle das tabelas e horários dos campeonatos pelas redes de televisão.
- A retirada de comunidades de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e Olimpíadas.
- A falta de meios de transportes dignos em dias de jogos.
Sob o lema "democracia no procedimento e alegria no espírito" nasceu, há duas semanas, no Rio de Janeiro, a Associação Nacional dos Torcedores (ANT). Movimento fundado para lutar contra o que eles chamam de europeização do esporte no país processo que estaria em curso com a vinda do Copa do Mundo de 2014 , em defesa dos direitos da galera e da cultura verde e amarela da bola.
Mesmo com pouco tempo, até a última sexta-feira 900 pessoas compraram a ideia. "É uma resposta muito boa. Todo mundo é torcedor e ninguém está gostando do que está acontecendo. A luta só é impossível quando não se luta", diz Marcos Alvito, 50 anos, um dos responsáveis pela organização, professor e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade (Nepes) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O outro é o americano Chris Gaffney, 40 anos, geógrafo e também professor da UFF. "Eu sou apaixonado pela festa e a cultura popular do futebol brasileiro. Quando soube da vinda da Copa do Mundo, e ciente que seria adotado no Brasil o padrão europeu, onde não existe a paixão, fiquei revoltado", comenta ele, que chegou a ser boleiro profissional na juventude.
A dupla preocupa-se em deixar claro que a ANT grupo apartidário, sem fins lucrativos e de comando descentralizado não se opõe à modernização do esporte. "Há como combinar as duas coisas. Profissionalizar, melhorar as condições dos estádios e preservar a cultura. Sempre respeitando o torcedor, que construiu o patrimônio do futebol brasileiro", afirma Gaffney.
Alvito exemplifica usando o modelo implantado na Inglaterra. "Eu vi jogos no Old Trafford (Manchester United) e Stamford Bridge (Chelsea), lugares que não têm nenhuma atmosfera de estádio de futebol. A torcida lá está morta. A média de idade do torcedor da Premier League é de 45 anos e renda altíssima. É isso o que o Brasil quer? De clubes arruinados financeiramente, dependentes de mecenas, e sem identificação com os seus torcedores?"
Os objetivos da ANT encontram eco entre os fãs de Atlético, Coritiba e Paraná. "Infelizmente, o povão está de fora. A Baixada hoje é um shopping. Vejo com bons olhos o plano de sócio do clube, mas nem todos podem pagar. É preciso encontrar uma forma em que todos os atleticanos consigam acompanhar o time do coração", afirma o rubro-negro Sandro Michailev, carteiro.
O alviverde Ohara Kerusauskas concorda. "No estádio do Borussia Dortmund [clube alemão] há um setor em que o ingresso custa 11 euros e todos ficam de pé. Tem de profissionalizar, mas vejo com preocupação o caminho que o futebol moderno está tomando", declara o engenheiro eletrônico e integrante do movimento Povão Coxa-Branca.
A Vila Capanema parece ser mesmo o último reduto à moda antiga na capital. "Ainda é possível ver os jogos em pé, próximo do alambrado, sem as cadeiras. Mesmo assim, é um ingresso caro para o padrão do Paraná. A elitização e transformação têm seus lados bons, mas pontos ruins também", diz o tricolor Guilherme Moreira, estudante de jornalismo.
Hoje, a associação fará mais um ato público, antes do clássico entre Flamengo e Vasco, na Central do Brasil. "Estamos nos estruturando. Quando tivermos pronta nossa regulamentação jurídica, vamos começar a sair da teoria para a prática. Já temos reunião marcada com um promotor do Ministério Público. Em pouco tempo, teremos uma força em que os torcedores terão de ser, pelo menos, consultados sobre as decisões do futebol", prevê Alvito.
As inscrições para a ANT podem ser feitas pelo site através do site www.torcedores.org e são gratuitas.