Figura humana muito querida, o folclórico Esperidião Ferez foi aclamado presidente da FPF em 1975. Apesar do cargo, o que estava acima de tudo era a sua paixão pelo Atlético. Em certa ocasião, num jogo de pouco interesse, lá estava o coronel Esperidião no Joaquim Américo, com seu inseparável guarda-chuva, seguindo os passos do bandeirinha.
O time visitante fez um gol no mínimo duvidoso e, na época, não existiam recursos eletrônicos para checar se houve ou não impedimento. Também pouco importava, pois o Rubro-Negro goleava o frágil adversário. Mesmo assim, quase ao pé do ouvido do juiz de linha, o presidente esbravejou: "Tá cego, bandeira! Não viu o cara na banheira seu... *#*#*&*#*".
Sem reconhecer que aquela voz era a do presidente da Federação, o auxiliar gesticulou com o dedinho "fura-bolo", fazendo o movimento de limpador de pára-brisa: "não, não". Não deu outra, Esperidião enrolou o guarda-chuva e espetou, pelo vão do alambrado, o traseiro do seu "funcionário" e emendou: "Olha pra cá, seu incompetente. Vou te pôr no gancho pra você deixar de ser burro!" Foi uma das cenas mais hilárias que vivenciei em campos de futebol. O riso foi geral e contagiante nas acanhadas sociais da Baixada. A cena reflete o que se chama de "bafo na nuca".
Depois das trapalhadas de terça-feira em Atlético vs. Joinville, a versão "neo" bafo na nuca ressurgiu de forma virtual. O árbitro marcou o pênalti e colocou a bola na marca, quando a assistente Lilian Bruno foi alertada que a falta havia sido fora e não dentro da área do Atlético, segundo a televisão. Mas quem lhe passou a informação? A ética e a idoneidade dos colegas de imprensa que estavam trabalhando no campo impede que estes sejam a fonte. O quarto árbitro não tem acesso ao monitor de tevê, portanto, está fora. Resta-nos acreditar que a assistente captou a voz do Esperidião vindo do além? Não sei.
Seja como for, Lilian Bruno acabou se espremendo numa saia-justa. Foi ela quem teve o peito de chamar para si a responsabilidade, mesmo sabendo que poderia, com a atitude tomada, arranhar direitos e deveres. Optou por evitar um erro crasso que estava sendo cometido e fez justiça. Abriu-se, porém, um precedente sem tamanho. Afinal, sabendo que a tecnologia televisiva escancara uma decisão errada do árbitro, de onde e de quem pode, legalmente, sair tal informação para a arbitragem, a ponto de se mudar uma decisão já tomada?
A saia-justa está pendurada agora no cabide dos provadores da CBF, Fifa e por aí vai. A televisão está na dela e é hoje um veículo de F1 enquanto o futebol se arrasta na velocidade de uma carroça. A visão biônica da tecnologia exige atualmente dos árbitros olhos de lince e precisão absoluta, o que nenhum ser humano pode alcançar. Estamos numa encruzilhada: ou se adaptam estúdios e câmeras próprias nos estádios, com regras claras e bem definidas de comunicação com os árbitros, ou recuamos para o tempo romântico e sedutor do bafo na nuca.
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