Adoílson com sua coleção de faixas e troféus: lembranças da melhor fase paranista| Foto: Fábio Dias

O relato

A frustração do "Mestre"

João Antônio, apesar de todo carinho que nutre pelo Paraná, não esconde uma frustração. "Sou calejado para saber que o futebol é céu e inferno. Num dia, eu era o ‘Mestre João’, e depois encontrei meu nome pregado na parede do vestiário em uma lista de dispensa. A gente tinha sido tetracampeão e na semana seguinte estava treinando sozinho às 13 horas. Triste, mas dei a volta por cima. Fui para o Atlético, ganhamos a Série B e depois conquistei muitos títulos com o Grêmio. Agora, sabe de uma coisa, passou. Não tem mágoas. O Ocimar (Bolicenho, ex-presidente) me dispensou e hoje é uma pessoa que admiro. Esperava uma coisa sutil. Que me chamassem para dizer que o meu ciclo havia acabado."

CARREGANDO :)

A história paranista se confunde com a trajetória de Régis, João Antônio, Adoílson, Saulo e Ricar­­dinho. Com esse quinteto, o re­­cém-criado clube da Vila Capa­­ne­­ma tornou-se imbatível no estado. Integrantes de uma das gerações mais vitoriosas entre os clubes paranaenses, eles fizeram o Tricolor levantar sete taças em sete anos.

Publicidade

O ex-meia Adoílson, 45 anos, reside em Maringá, onde administra uma cooperativa de esportes para crianças. Derrete-se ao falar dos tempos que vestia a camisa 8 paranista, quando festejou os títulos de 91, 92 (Série B) e 93. Ele foi o primeiro contratado do então projeto pós-fusão.

(Confira no final matéria entrevista em video com o Ricardinho)

"O Paraná foi tudo na minha vida. A grande glória, pois me exaltou a ponto de eu ser conhecido em todo o lugar. Abriu as portas para mim no futebol. Foi ótimo. Fui jogar em um time novo que nasceu grande", cita ele. "Guardo em casa todas as faixas de campeão, as chuteiras de ouro, os vídeos com os gols...", emenda.

"Fui o primeiro atleta a assinar contrato. Tinha 23, 24 anos. Durante cinco temporadas ganhamos muitos troféus. Havia uma virtude muito grande: não se desfazer de jogadores. O círculo de amizade do grupo era muito grande. Com aquela união toda, o elenco correspondia. Todo campeonato, sem brincadeira, sabíamos que iríam os lutar pelo título", diz.

Régis, 44, é empresário da construção civil no Rio de Janeiro e vai se lançar na carreira de treinador em 2010. O ex-goleiro paranista chegou em 93 no clube e foi figura emblemática no então chamado "time da década". Até gols marcou – um deles em Brasileiro: 20/11/96, na vitória por 3 a 0 sobre o Santos, no Pa­­­lestra Itália.

Publicidade

Sobre o período de glória com a camisa vermelha, azul e branca, o antigo camisa 1 reforça o discurso saudosista. "Foi o clube mais importante da minha carreira. Foram seis anos de alegria. Até hoje acompanho o Paraná, seja pela tevê ou através de amigos que tenho em Curitiba. É uma ligação eterna", conta.

Ele surpreende ao falar do momento mais marcante. "De repente, títulos estaduais perderam a importância, e olha que participei do penta inteiro, então considero a campanha do Bra­sileiro em 93, quando de fato o clube subiu à elite, como o mo­­mento mais importante", destaca. "Até em 1999, quando perdemos a Copa Sul e o Paranaense no detalhe, o Paraná foi grande."

O ex-volante João Antônio, 43, trabalha atualmente nas categorias de base do Grêmio. "Mestre João", como ficou conhecido pela torcida, endossa as frases dos companheiros.

"A importância do Paraná na minha carreira vai ser eterna. Tive uma passagem maravilhosa e inesquecível. Foram quatro anos e meio de vitórias e mais vitórias. Dessas duas décadas, eu posso dizer que fiz parte do momento mais importante da história", comenta.

"Além do sucesso profissional, marcou também a minha vida pessoal. No dia que nasceu o meu primeiro filho, em 92, jogamos com o Flamengo. Era uma partida entre o campeão da Série A e da Série B. Prometi para o nenê que faria um gol e fiz. Quando nasceu minha filha, em 94, jogamos com o Náutico. Mais uma vez prometi gol. E cumpri. Então, isso não tem preço", segue.

Publicidade

Saulo tem no currículo o orgulho de ter sido o maior artilheiro pa­­ranista, com 104 gols – agora, aos 42 anos, tenta a sorte como treinador. Mais do que isso, o centroavante ganhou o apelido de "Tigre da Vila", tornando-se o principal ídolo dos tricolores. Ele é o que tem o discurso mais crítico.

"Nós fizemos a história do Paraná na década de 90, o período de ouro. Era um time pouco co­­nhecido que surgiu grande. In­­fe­­lizmente, pessoas despreparadas estão destruindo tudo que fizemos dentro de campo", cobra.

Ricardinho, 33, jogador do Atlético-MG, não fala em encerrar a carreira no Paraná, também descarta assumir um cargo de dirigente no clube, mas considera que teve toda a estrutura necessária para alcançar uma carreira de sucesso – entre os títulos, campeão do mundo pela seleção brasileira em 2002.

"A importância do Paraná é enorme, pois iniciei minha carreira lá em 1991, no futsal. Um ambiente saudável que me deu toda a base para seguir meus passos", conta o apoiador. "Além disso, sou torcedor, todos sabem. Quantas aulas de inglês eu matei para ir na Capanema ver jogos", acrescenta.

Confira a entrevista em vídeo com Ricardinho:

Publicidade