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O processo de migração de Robert Scheidt da classe Laser para a Star terá em 2006 um ano decisivo. Mas pelo menos sem sombras. Enquanto disputará o máximo de competições possíveis ao lado do proeiro Bruno Prada, os atuais ícones mundiais da classe estarão circundando o planeta. Torben Grael e Marcelo Ferreira, bicampeões olímpicos, vão se dedicar até julho à Volvo Ocean Race – a regata começou em novembro, na Espanha.

A empreitada milionária de Torben e Marcelo à frente do Brasil 1 pode garantir um certo benefício à Scheidt, que terá mais tempo para treinar. O próprio Turbina (como Grael é conhecido no meio da vela) reconheceu um prejuízo na preparação para Pequim 2008.

Scheidt, entretanto, prefere não se ater a essa vantagem teórica. "Temos de nos preocupar com a gente. A nossa filosofia é trabalhar muito, muito duro para tentar chegar a um alto nível. E não tomar as decisões com base no que os outros estão fazendo", afirmou, durante a audioconferência realizada ontem, na qual anunciou os planos para a próxima temporada.

A idéia é ganhar experiência e então ter condições de definir em qual embarcação vai enfrentar os fracos ventos da marina chinesa durante a Olimpíada de Pequim, em 2008 – a decisão oficial só deve sair em um ano. E vai precisar de muito treinamento para encarar a concorrência caseira. O país tem direito a apenas uma vaga e ele terá de disputar logo com Torben, o velejador com mais medalhas olímpicas no currículo – cinco, sendo duas de ouro.

"Claro que não é fácil competir com alguém como ele, com tanta experiência e talento. Mas chega uma altura da carreira em que não se pode ter medo de dar um passo à frente", ponderou o velejador, disposto a abandonar o confortável trono de octacampeão mundial e bicampeão olímpico (além de uma medalha prata) na Laser.

Pesa para abandonar a classe que o consagrou a possibilidade de prolongar sua vida útil nos mares. "Poderia ir para mais uma Olimpíada pela Laser. E só. Na Star, a carreira é mais longa." Scheidt tem 32 anos e Torben, por exemplo, ainda é "temido" aos 45.

Maratona

Para chegar perto do alvo a ser batido na classificação a Pequim, o brasileiro vai encarar uma maratona de oito competições na Star no próximo ano. O calendário começa em janeiro, em Miami, passa por disputas no Brasil, inclui duas semana de vela na Europa (Spa, na Bélgica, e Kiel, na Holanda) e termina com o Mundial de São Francisco, nos Estados Unidos – na edição deste ano, na Argentina, a parceria Scheidt/Prada surpreendeu ao terminar em sexto lugar. A competição é em setembro e pode marcar o encontro das duas duplas brasileiras, já que a aventura da Volvo terá terminado três meses antes.

"Vamos usar esse ano para conhecer o barco e ver se nos tornamos velejadores de Star, o que não somos ainda", brincou Prada, amigo de infância e um contraponto à extrema concentração e seriedade de Scheidt. "Esse bom ambiente é fundamental porque vamos conviver muito juntos", afirmou o octacampeão, responsável por todas as decisões no barco. "É um casamento sem sexo", completou Prada.

O processo de ambientação à Star passará também por mudanças físicas. A dupla terá de engordar cerca de 15 quilos para melhor conduzir a embarcação. O vaidoso Scheidt "contribuirá" com 4 quilos (chegando a 83 kg) e Prada ficará com os outro 11 (num total de 107 kg).

Pit Stop no Rio

Após o Mundial dos Estados Unidos, Scheidt voltará à Laser para tentar uma vaga no Pan-Americano 2007 – a Star não faz parte do programa do Jogos. "Será meu quarto Pan, e muito especial por ser no Rio de Janeiro. Acho que minha experiência vai me ajudar apesar de ter apenas poucos meses para me preparar."

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