Personagem
Falta de apoio nocauteia polo
Apesar de possuir um polo de luta olímpica, desenvolvido desde 2005 em Curitiba, em uma parceria com a Universidade Federal do Paraná, o esporte acaba nocauteado pela falta de apoio no estado.
Dos 200 atletas que já integraram o projeto, inclusive com medalhas em todas as categorias no Campeonato Brasileiro de 2008, o número caiu para cerca de 40.
"Nós perdemos a disputa para o trabalho. O atleta vai bem até que precisa escolher entre o esporte e a necessidade de se manter. Muitos talentos se foram por causa disso", lamenta o técnico Sérgio Oliveira.
"Havia muita gente treinando, mas aos poucos, pela falta de incentivo, foram desistindo. Hoje eu e o Diogo Sasso somos os dois atletas que estão competindo. Como ninguém ganha por isso, precisamos nos dedicar a outras atividades também", ressalta o atleta Rodolfo Assinger, de 20 anos, grande aposta paranaense.
Treinando desde os 12, estava perto desta encruzilhada quando conseguiu um intercâmbio para estudar e treinar nos Estados Unidos. Depois de tudo pronto, os planos foram à lona porque lhe faltou o visto de estudante. "Foi bem complicado, e agora conseguimos organizar tudo e ele vai viajar novamente. Mas é uma situação que desanima", reconhece o treinador.
A luta olímpica é o terceiro esporte a distribuir mais medalhas em Jogos Olímpicos, ficando atrás somente de atletismo e natação, com 72 no total, sendo 18 de ouro.
A tradição tenta resistir à modernidade. Esporte cujos primeiros registros datam de 5 mil a.C, a luta olímpica encara a concorrência dos seus próprios "descendentes". Enquanto ídolos do milionário Ultimate Figthing Championship (UFC) voltavam ao Brasil ontem, há alguns quilômetros da Arena HSBC, local do evento, a seleção brasileira da modalidade (raiz de muitos combates) estava confinada anonimamente em um quartel da Marinha no Rio de Janeiro.
O grupo de 16 atletas, com sete selecionados, se prepara para o Campeonato Mundial Sênior de Luta Olímpica, em setembro, na Turquia, e para os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em outubro, no México.
Paranaense por adoção, Marcelo Gomes, o Zulu, será o representante do estado nos eventos. Aos 31 anos, o ex-BBB é um raro exemplo de quem se rendeu à luta olímpica apesar do envolvimento com o badalado MMA (lutas marciais mistas, em inglês).
"O MMA virou uma febre no Brasil. Já a luta olímpica podemos dizer que é um esporte novo no país. A nova confederação brasileira, por exemplo, responsável por uma reformulação no esporte, começou no início dos anos 2000", comenta Zulu, 11 vezes campeão brasileiro da luta greco-romana uma das três modalidades da luta olímpica ao lado do estilo livre e da luta feminina. Ele registra também sete lutas de vale-tudo no currículo. Na hora de escolher, porém, nenhuma dúvida.
"Não tem como trocar [a luta greco-romana]. Virou um vício. O clima de competição, o intercâmbio com culturas diferentes, a possibilidade de ir para o exterior e representar o seu país encantam. No MMA não tem seleção brasileira", compara o lutador, que deixou o confinamento no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, o CEFAN, para torcer pelos brasileiros do UFC. "Já foi pior, mas hoje se vê muito mais rivalidade de academias do que de países no evento", reforça.
Foi o renome da Academia Chute Boxe, de Curitiba, e principalmente o projeto de luta olímpica desenvolvido na Universidade Federal do Paraná que radicaram o carioca na cidade em 2005.
"Vim para conhecer e vi que teria condições muito melhores de desenvolver a luta", afirma ele, que hoje ajuda no comando da academia CM System, no bairro Mercês. Lá, ensina a sua especialidade, que é, para ele, o "divisor de águas" dentro de uma luta de MMA.
Representante do país do Pan-07, com um oitavo lugar, ele está animado para os Jogos no México, apesar de as chances de medalha serem mais fortes no feminino. "Vivemos um processo. Lento. O Brasil mudou muito, com novas leis, novos incentivos, o esporte está se desenvolvendo. Acredito que em 2016 ainda seja cedo, mas a luta tem grandes chances de crescer. E nisso o MMA pode até ajudar. Existem aqueles que vêm treinar para o vale-tudo, se apaixonam e ficam por aqui", torce.
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