Copa do Brasil nasce sob críticas
Na carona do sucesso da seleção de Marta e companhia na Copa do Mundo da China, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou ontem a criação da Copa do Brasil de futebol feminino, prevista para começar no fim de outubro deste ano nos mesmos moldes da edição masculina ou seja, no sistema mata-mata. A iniciativa contrariou a Liga Nacional de Futebol (Linaf), entidade que, até então, organizava as competições oficiais disputadas pelas mulheres no país.
"A CBF é totalmente oportunista. Quer tirar proveito de uma situação, mas há muitos anos não faz nada pelo futebol feminino", declarou o presidente da Linaf, Luiz Carlos Picolo.
Até quem vive do esporte desconfia da promessa da CBF. "Isso é historinha. Pago para ver. Vamos ficar na mesma ilusão de 2004 (ano em que a seleção conquistou a medalha de prata na Olimpíada de Atenas)." A declaração partiu do técnico Edson Galdino, do Clube dos Empregados da Petrobrás (CEPE), de Duque de Caxias (Baixada Fluminense), primeiro colocado do ranking de futebol feminino da Linaf.
A CBF ainda não definiu quem e quantas são as equipes que disputarão a Copa do Brasil. Com o aval do Ministério do Esporte a entidade já começou a fazer um levantamento sobre os clubes que mantêm essa modalidade em atividade. A expectativa é que o torneio sirva de impulso para a realização de um Campeonato Brasileiro feminino.
"Estamos trabalhando firme e com seriedade para que a Copa do Brasil se torne realidade", afirmou o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, no site oficial da entidade. Em nota, a Linaf informou que "o aludido Campeonato Brasileiro que se pretende fazer, já existe, e chama-se Taça Brasil será disputado a partir do início de dezembro".
Atenas, agosto de 2004. Com a medalha de prata no peito, as jogadoras da seleção feminina de futebol começaram a sonhar. Acreditavam que o feito inédito pudesse mudar a dura realidade enfrentada no país pelo esporte que abraçaram. Ouviram muitas promessas.
Hoje, às vésperas de buscarem a maior conquista da equipe na história, elas não acreditam que a inédita taça possa transformar de fato o cenário da modalidade no Brasil.
As brasileiras fazem a final da Copa do Mundo da China amanhã, às 9 horas, contra a Alemanha.
"Hoje a gente joga para dar nosso melhor, mas não espera muito reconhecimento de fora. Já prometerem muito, e pouco aconteceu. A gente torce, quer que melhore, mas nem todos estão interessados", afirmou a meia Daniela Alves, 23 anos.
Desde o vice-campeonato olímpico pouco foi feito. Naquela época, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, anunciou o estudo de uma subvenção ao futebol, que não vingou.
Agora, com os holofotes sobre a equipe após o ouro no Pan e com a ótima atuação no Mundial, anuncia que irá criar uma Copa do Brasil de futebol feminino, prevista para outubro (leia ao lado).
A confederação não destaca à equipe feminina a mesma atenção dada aos homens. No Pan do Rio, por exemplo, as atletas usaram o uniforme antigo da seleção principal masculina.
"Eu falo para as meninas que um dia elas podem comer o filé mignon. Mas a gente roeu muito osso. O que quero é jogar pelo futebol do meu país. Todo mundo fala que temos de provar nosso valor e que aí virão as mudanças. A gente tem que provar mais o quê? Só queremos um trabalho. É muito?", disse Tânia Maranhão, 32 anos, 17 deles na seleção feminina.
Algumas jogadoras do país já conseguiram contratos no exterior. Para quem fica, porém, faltam estrutura e torneios. Após o ouro no Pan, Marta, eleita a melhor jogadora do mundo, chorou ao comentar o cenário do futebol no país.
O último Campeonato Brasileiro, organizado por ligas amadoras de São Paulo e Rio, sem chancela da CBF, é um exemplo. O torneio contou com 20 times de oito estados.
No Rio de Janeiro, aconteceram jogos em cinco sedes, mas apenas duas investiram verba no evento. As outras bancaram apenas alimentação e estadia. Como a entidade fluminense gastou com a competição, neste ano faltou dinheiro para o Estadual, que não será mais realizado.
"A gente já ouviu muitas promessas. Na época da medalha de prata na Olimpíada, todo mundo achou que tudo ia mu0dar. Agora, com o Pan, veio a mesma esperança. Estamos fazendo a nossa parte, mas não espero mais nada", resigna-se Aline Pellegrino, 25, que ganha R$ 250 de ajuda de custo.
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