Um dia de sol em Maceió e a praia cheia de surfistas. Entre pranchas e parafinas, um menino de cachinhos castanhos chamou a atenção de Walquíria Campelo. Com 1,38m de altura, Jonathan de Souza brigava como gente grande por um lugar no mar alagoano. A determinação do adolescente de 16 anos para chegar na frente impressionou a técnica de atletismo, que o convidou para um teste em sua equipe de arremesso de disco. Quatro meses depois, a primeira medalha de ouro mostrou que a professora tinha feito a escolha certa. E a história de Romarinho, apelido dado por um amigo do pai, começou no esporte paraolímpico brasileiro.
Portador de acondroplasia, deficiência popularmente conhecida como nanismo, o alagoano conta que não se acha parecido com o Romário do futebol. Aliás, jogar com a bola nos pés está longe de ser algo que ele goste de fazer. Fã de basquete e esportes radicais, o alagoano conta que começou a ser chamado de Romarinho por um amigo de seu pai, que viu uma semelhança do menino com o atacante da seleção durante a Copa de 1994. Apesar de não ligar para a comparação, a técnica do atleta entrega que o apelido sempre gera brincadeiras dos policiais que dão plantão no quartel onde Jonathan treina diariamente.
"O pessoal brinca muito com ele. Ficam provocando, dizendo que ele é pequeno, mas é duro na queda, e faz coisas de gente grande. Mas o Jonathan aceita na boa, ele é um cara muito carismático, não tem a marra do Romário original", diverte-se Walquíria, eleita melhor técnica no Prêmio Brasil Paraolímpico 2009.
Mas se na aparência Jonathan não tem muita semelhança com o atual dirigente do América, no número de conquistas o jovem atleta está no caminho certo. Três anos após ser descoberto na praia que ainda frequenta nos fins de semana, Romarinho já coleciona sete recordes mundiais no arremesso de disco e de peso, terminando em quinto lugar nos Jogos de Pequim-2008.
"Conquistei cinco recordes mundiais só em 2009. E quatro foram em competições consecutivas. Eu não esperava, mas treino muito para isso. Meu maior objetivo é ganhar uma medalha nas Paraolimpíadas, de preferência, de ouro", conta Jonathan, que lança o peso a 11,42m e o disco a 36,81m.
Todo dia o arremessador treina durante 7h em um quartel de polícia em Maceió. Com pista sintética e boa estrutura de materiais para a prática do esporte, o local virou, literalmente, o porto seguro de Jonathan. Foi lá que ele recuperou a confiança de treinar após ser desclassificado do Mundial de Taiwan, em 2006, devido à organização do torneio não o considerar portador de nanismo.
"Ele foi considerado inelegível, disseram que não se encaixava na classificação de anão. Isso foi um baque muito grande para nós. Passamos por nove meses até que o Comitê Paraolímpico Brasileiro conseguisse provar a deficiência e ele pudesse voltar a disputar torneios internacionais", explica Walquíria.
Incentivado pelo sonho de vencer um Mundial, Jonathan voltou à rotina diária de treinos e conquistou dois ouros na edição de 2008, na Inglaterra. A força de vontade do atleta paraolímpico em superar seus desafios pessoais foi algo que inspirou a técnica Walquíria a continuar o trabalho com o alagoano.
"Jonathan é um atleta que se autosupera. Tanta coisa aconteceu para que ele desistisse, mas ele persiste. É muito determinado e comprometido com a causa. Nunca deu trabalho para treinar. Ama o que faz. Trabalhar com ele me faz muito bem", derrete-se por seu pupilo.
Atleta lamenta falta de apoio em Alagoas
Em março, Jonathan parte para mais uma disputa. O arremessador será um dos representantes brasileiros a competir no Mundial da Nova Zelândia. Com a ajuda do Comitê Paraolímpico Brasileiro e do Instituto Superar para custear suas viagens, o atleta só lamenta não ter apoio de sua terra natal.
"Alagoas nunca me ajudou em termos de dinheiro para que eu pudesse viajar para as competições", revela Romarinho.
Apesar de esperar mais estímulo dos governantes e empresários locais, ele diz que não tem intenção de deixar Maceió. A convivência com os amigos de quartel e o incentivo da treinadora são alguns dos motores que aceleram o braço deste pequeno gigante das pistas. E, se depender de Walqúiria, a jornada ainda está apenas no início.
"Quero que ele continue melhorando cada vez mais. Mesmo que supere só 1cm do recorde mundial, já está valendo muito. Tenho certeza que Jonathan ainda vai muito longe".