Após o sprint nos últimos metros no Pro Tour da Holanda de 2007, o paranaense Luciano Pagliarini tira as mãos do guidom, pedalando a 78 km/h, cruza em primeiro a linha de chegada e repete o mesmo embalar feito por Bebeto ao comemorar um gol na Copa do Mundo de 1994. Quatro anos depois, lembrar a vitória na Europa, a primeira de um brasileiro no Circuito Pro Tour, ainda causa arrepios no ciclista, que se aposentou das competições no fim de 2010. Sem fazer alarde.
"Aquela prova é especial. Não só pela primeira vitória, sobre o [Mark] Cavendish [que acabou de vencer três etapas do Giro da Itália], mas porque a dediquei à minha primeira filha. A Aurora tinha acabado de nascer. Vencer uma etapa do Pro Tour para um ciclista brasileiro tem o mesmo valor de quando Guga venceu Roland Garros, no tênis. Todo dia lembro-me daquela cena. A Aurora nasceu e no dia seguinte tive de embarcar para a Europa para correr", conta.
Hoje, Pagliarini mora em Londrina, com a esposa Júlia, a filha Aurora e a recém-nascida Olívia e tornou-se um homem de negócios. É o gerente no Brasil do Grupo Di Vialle, que produz acessórios esportivos. Apesar de dizer que está satisfeito com tudo que fez como atleta duas participações em Pan-Americanos, com um bronze no Rio (2007) e duas Olimpíadas (Atenas e Pequim), além da carreira no Velho Continente, onde o ciclismo movimenta milhões de euros , parar não foi fácil.
"Quando voltei ao Brasil, há dois anos, vinha com um plano que não se concretizou", diz Pagliarini, sem esconder a decepção. Passou por duas equipes, em que teve de conviver com salários atrasados. "Competíamos expostos a riscos de vida, afinal, corremos em alta velocidade quilômetros a fio. Mas os ciclistas não estavam dispostos a lutar pelo que é seu de direito", reclamou.
As denúncias de doping e a falta de transparência na gestão da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) contribuíram para sua aposentadoria, embora prefira não comentar o assunto. Mas é fácil perceber o quanto discorda dos rumos da entidade. No ano passado, tornou-se diretor técnico na CBC e deixou o cargo menos de três meses depois.
Agora, prefere promover encontros e provas entre ciclistas e cultivar as boas lembranças. Uma delas foi o último lugar na Olimpíada de Pequim. "Percorri os 290 km com muitas dores por causa de uma pedra no rim. Foram sete horas de pedal. Dos 290 que largaram, apenas 90 chegaram. Fui o último, mas todos viram no meu esforço o espírito olímpico. Não imaginava chegar ao final com tanta gente do ciclismo, da imprensa, do público me esperando e me aplaudindo", diz.
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