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O cascavelense Roberto Maehler, ouro no Pan do Rio e bronze em Guadalajara, treina no Lago Municipal de Cascavel: atleta insinua uma ruptura com a confederação para poder ter mais estrutura de treino | Marcelino Duarte/ Divulgação
O cascavelense Roberto Maehler, ouro no Pan do Rio e bronze em Guadalajara, treina no Lago Municipal de Cascavel: atleta insinua uma ruptura com a confederação para poder ter mais estrutura de treino| Foto: Marcelino Duarte/ Divulgação

Histórico

Estrutura de elite dura 30 dias

O único momento de "tranquilidade" dos atletas da canoagem em 2011 foi durante o Pan de Guadalajara, em outubro. Mas, com a estrutura ideal de treinamento apenas no mês da competição, os brasileiros tiveram um desempenho pior do que nos Jogos do Rio. Foram quatro medalhas (duas pratas e dois bronzes) e uma vaga olímpica conquistada. Há quatro anos, foram um ouro, duas pratas e três bronzes.

"Foi um ano muito difícil, com problemas em Caxias do Sul [antiga sede da seleção]. Os atletas tiveram problemas com o antigo técnico e fizeram um abaixo-assinado para a troca. Contratamos um húngaro, um técnico com seis medalhas olímpicas [Akos Angial]", diz Tomasini. Não deu tempo.

"Até ser confirmada a convocação para o Pan, passamos boa parte do ano treinando sozinhos, ficamos de fora de algumas competições importantes. Com o Akos, melhorou muito. Mas, depois de Guadalajara, não tínhamos nem passagem para voltar de São Paulo para nossas cidades", fala Roberto Maehler.

"No México, tivemos fisiologista, nutricionista, técnico, rotina de treino, tudo. Mas, na volta, nem sede de seleção havia mais. Se eu não seguir na equipe, vou tentar algum outro projeto, treinar em Montes Claros (SP), onde também teria bolsa de estudos", diz Celso de Oliveira. (AB)

  • A penúria da canoagem em três atos: a sede do antigo clube de Roberto Maehler está cercada por mato, sem água, luz e com equipamentos defasados

O começo de 2011 parecia promissor: em abril, a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) anunciou o patrocínio de R$ 10 milhões por ano do Banco Nacio­­nal de Desenvolvimento Eco­­nô­­mico e Social (BNDES) para as modalidades velocidade, slalow e paracanoagem. A liberação da verba, porém, esbarrou em dívidas da entidade, definhando a estrutura do esporte – sem crédito, a CBCa não conseguia sacar o montante via Lei de Incentivo ao Esporte.

A organização espera pôr fim à penúria hoje, quando está programado o anúncio da retomada da parceria. O banco pretende investir na modalidade anualmente até 2016, com foco na formação de novos canoístas e atletas para compe­tir na Olimpíada do Rio (2016). Será confirmada tam­­­bém uma seleção permanente de ca­­­noagem slalow em Foz do I­­guaçu.

Sem o dinheiro, a situação dos atletas era caótica. Medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara na disputa dos mil metros no caiaque com quatro atletas (K4 1000 m), o cascavelense Roberto Maehler e o paulista Celso de Oliveira se desdobram para dar "um jeitinho" e seguir treinando.

Aos 22 anos, Celso voltou do Pan sem patrocínio, contando apenas com o suporte da Bolsa-Atleta Internacional (R$ 1.850 mensais). "Até a ida para o México, treinamos em uma seleção permanente improvisada, em Piraju [SP]. Depois, tentei me manter em Cascavel, mas, agora, vim para Guaíra", conta o campeão sul-americano de 2010. A mudança para a cidade fronteiriça foi para poder comercializar produtos eletrônicos trazidos do Paraguai.

"Sempre passamos por algumas dificuldades. Mesmo quando conseguimos resultados, seguimos sem incentivos. É meio ridículo um atleta de alto nível ter um final de temporada tão complicado", diz o canoísta, que treina no Rio Paraná.

Já Maehler, 27 anos, segue em Cascavel, com a ajuda de patrocinadores locais. "Para almoçar, tenho apoio de alguns restaurantes", revela. Medalhista de ouro no Pan do Rio em 2007, também no K4, ele treina no Lago Muni­­cipal, com a estrutura de seu antigo clube, atualmente abandonado. "Não é o mar de rosas", ameniza. "O local não tem luz nem água. Sem falar no equipamento da academia", segue.

"Machuca muito ver situações como esta, mas não sou o dono do Banco Central. Lamento muito mais que os atletas os problemas administrativos que trancaram o patrocínio. Fomos beneficiados com um cavalo de Troia no passado, a lei dos bingos [a qual permitia que empresas do ramo repassassem a instituições esportivas parte da arrecadação]. Ficamos com as multas que essas empresas receberam", diz o presidente da CBCa, João Tomasini, há 23 anos no cargo.

Sem clube, Maehler paga do próprio bolso seu antigo técnico para treiná-lo. Juntou a verba do Bolsa-Atleta para comprar seus próprios barcos. O K2 custou cerca de R$ 10 mil. O K1, ainda não en­­tregue pelo fabricante, R$ 4,5 mil. "Pedi emprestado o que eu usava na seleção em Piraju, mas a Con­­federação quis de volta", conta.

Tomasini explica que não poderia emprestar os caiaques porque não seriam suficientes para todos os atletas. "Eles usaram as embarcações até o Pan. Depois, foram liberados para um recesso."

Só que, no início de deste mês, Curitiba sediou o campeonato nacional da modalidade, que serviu de ranking para a formação da seleção em 2012. "Levei o caiaque [da seleção para Cascavel] para treinar. Não poderia ficar tanto tempo parado. A CBCa poderia, ao menos, nos ajudar a comprar os barcos", fala o cascavelense.

"Tenho um orçamento de R$ 2,6 milhões por ano, vindos do repasse da Lei Piva, para quatro seleções. É pouco. Não posso me responsabilizar pela precariedade dos clubes. Não vamos fazer mais nada que aumente o déficit da confederação. Ou esperamos entrar a verba em caixa ou não se faz mais nada", diz Tomasini.

Ele explica que no dia 8 janeiro a CBCa convocará os atletas que formarão a seleção permanente de canoagem de velocidade. A sede será o Iate Clube de São Paulo, mantida com o patrocínio do BNDES –com previsão para ser liberado até abril. Os canoístas terão todos os custos pagos, entre estadia em São Paulo, equipe multidisciplinar, equipe técnica e salário.

"Sem estar classificado para a Olimpíada de Londres, vou tentar bons resultados para entrar em outros projetos, ligados ao Comitê Olímpico Brasileiro [COB], em que não dependa da CBCa", diz Maehler.

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