Santos, terceiro goleiro do Atlético, se espelha na ascensão relâmpago do jovem titular Neto, em 2010| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Josiel Henrique assumiu a meta tricolor em parte da desastrosa campanha do Campeonato Paranaense e espera uma nova chance que pode demorar
Rafael

Eles nunca jogam, poucas vezes são chamados para os rachões en­­tre titulares e reservas, jamais dão entrevistas, raramente viajam com o time, mas se consideram "par­­te do grupo". Assim é a rotina dos suplentes dos suplentes para a posição com menos rotatividade do futebol: a do goleiro.

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Enquanto os seus colegas de equipe podem ser improvisados em outras funções, ter ao menos a oportunidade de ir para o banco na expectativa de uma eventual substituição, a vida deles é trabalhar, aguardar e aguardar... Sem pressa.

"Só joga um goleiro. É duro. Fazer o quê?", assume Vanaílson Luciano em tom descontraído – e ao mesmo tempo resignado de quem ainda vai esperar muito na carreira. Vaná, 20 anos, como é cha­­mado, é a quinta opção da me­­ta alviverde.

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Ele foi "promovido" a quarta alternativa até a recuperação de Rafael Martins, o "Bastinho", com uma fratura na mão esquerda. O apelido foi dado por causa do goleiro Édson Bastos, apesar de o novato não ter nada a ver com o camisa 1.

"Desengonçados assim, só po­­díamos mesmo ser goleiros. O se­­gredo, então, é ter paciência. E está bom até. Imagina ser o terceiro go­­leiro do São Paulo?", diz Vaná, re­­ferindo-se ao paranaense Rogério Ceni, titular desde 1997 do time paulista.

Mas além de não jogar, vive-se a pior das jornadas para um boleiro. "Os goleiros são os primeiros a en­­trar em campo e os últimos a sair. O trabalho é muito puxado", ressalta Santos, terceiro na escala do gol atleticano.

"Quando eles concentram, nós trabalhamos. Nos treinos, a parte pesada também fica para a gente", comenta o rubro-negro. Os arqueiros principais precisam focar mais a parte tática, enquanto a maioria do bombardeio à meta nas cobranças de falta e finalizações sobra para os substitutos.

Em dia de jogos em casa, eles vi­­ram torcedores na arquibancada. Quando as partidas são fora, em regra, levam uma vida comum para qualquer jovem na faixa dos 20 anos – sem o estresse dos do­­min­­gos esportivos.

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Depois de passar a infância sem luz elétrica no interior da Paraíba, Santos ainda se encanta com a oportunidade de estar no Rubro-Negro. E se a demora por uma opor­­tunidade tanto incomoda atletas na sua condição, ele tem um exemplo próximo para se animar. "O Neto [hoje na Fiorentina-ITA] também tinha 21 anos quando despontou em 2010. Aconteceu muito rápido. Por isso precisamos trabalhar para estarmos preparados quanto a oportunidade chegar", afirma, com a frase mais re­­petida pelos suplentes de luva.

Em meio à angústia de despontar no futebol, há quem utilize o tempo fora dos gramados pensando no futuro. É o caso de outro su­­plente da meta coxa-branca: Caio Secco. Ele é filho de Renato Secco, ex-camisa 1 do Coxa e preparador de goleiros do Paraná. Longe da ro­­tina treino-hotel-jogo, ele cursa Edu­­cação Física. "Como não viajamos e não concentramos como os outros atletas, é possível conciliar o estudo e o trabalho", conta.

Mesmo distantes da camisa 1, o ambiente alegre entre os arqueiros é, segundo eles, o que sustenta a perseverança diante da incerta chance de brilhar. "Somos amigos. No começo, olhávamos para o Éd­­son Bastos e falávamos: ‘Nossa, esse é o cara’. Depois vimos que ele é uma pessoa normal, como a gente. Nos dá a maior força. Chegamos para treinar alegres", diz Bastinho.

A tão esperada chance chegou cedo demais para o paranista Josiel Hen­­rique. Com 19 anos, o atleta ga­­­­nhou a condição de titular em meio à péssima campanha do Pa­­raná no Estadual. "O momento era difícil e eu não fui muito bem. Le­­vei muito gols. Isso não dá para um goleiro, né?", reconhece. Em cinco jogos, ele sofreu dez. "Mesmo assim foi uma experiência ótima. Agora estou mais amadurecido e trabalho mais para estar pronto para a próxima", conta.

Com a contusão do reserva Thia­­go Rodrigues, Josiel foi relacionado para compor o banco nos últi­­mos três jogos na Série B. "Ago­­ra o clima é outro", completa, no aguardo sem ponteiros por uma oportunidade.

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