Eles nunca jogam, poucas vezes são chamados para os rachões entre titulares e reservas, jamais dão entrevistas, raramente viajam com o time, mas se consideram "parte do grupo". Assim é a rotina dos suplentes dos suplentes para a posição com menos rotatividade do futebol: a do goleiro.
Enquanto os seus colegas de equipe podem ser improvisados em outras funções, ter ao menos a oportunidade de ir para o banco na expectativa de uma eventual substituição, a vida deles é trabalhar, aguardar e aguardar... Sem pressa.
"Só joga um goleiro. É duro. Fazer o quê?", assume Vanaílson Luciano em tom descontraído e ao mesmo tempo resignado de quem ainda vai esperar muito na carreira. Vaná, 20 anos, como é chamado, é a quinta opção da meta alviverde.
Ele foi "promovido" a quarta alternativa até a recuperação de Rafael Martins, o "Bastinho", com uma fratura na mão esquerda. O apelido foi dado por causa do goleiro Édson Bastos, apesar de o novato não ter nada a ver com o camisa 1.
"Desengonçados assim, só podíamos mesmo ser goleiros. O segredo, então, é ter paciência. E está bom até. Imagina ser o terceiro goleiro do São Paulo?", diz Vaná, referindo-se ao paranaense Rogério Ceni, titular desde 1997 do time paulista.
Mas além de não jogar, vive-se a pior das jornadas para um boleiro. "Os goleiros são os primeiros a entrar em campo e os últimos a sair. O trabalho é muito puxado", ressalta Santos, terceiro na escala do gol atleticano.
"Quando eles concentram, nós trabalhamos. Nos treinos, a parte pesada também fica para a gente", comenta o rubro-negro. Os arqueiros principais precisam focar mais a parte tática, enquanto a maioria do bombardeio à meta nas cobranças de falta e finalizações sobra para os substitutos.
Em dia de jogos em casa, eles viram torcedores na arquibancada. Quando as partidas são fora, em regra, levam uma vida comum para qualquer jovem na faixa dos 20 anos sem o estresse dos domingos esportivos.
Depois de passar a infância sem luz elétrica no interior da Paraíba, Santos ainda se encanta com a oportunidade de estar no Rubro-Negro. E se a demora por uma oportunidade tanto incomoda atletas na sua condição, ele tem um exemplo próximo para se animar. "O Neto [hoje na Fiorentina-ITA] também tinha 21 anos quando despontou em 2010. Aconteceu muito rápido. Por isso precisamos trabalhar para estarmos preparados quanto a oportunidade chegar", afirma, com a frase mais repetida pelos suplentes de luva.
Em meio à angústia de despontar no futebol, há quem utilize o tempo fora dos gramados pensando no futuro. É o caso de outro suplente da meta coxa-branca: Caio Secco. Ele é filho de Renato Secco, ex-camisa 1 do Coxa e preparador de goleiros do Paraná. Longe da rotina treino-hotel-jogo, ele cursa Educação Física. "Como não viajamos e não concentramos como os outros atletas, é possível conciliar o estudo e o trabalho", conta.
Mesmo distantes da camisa 1, o ambiente alegre entre os arqueiros é, segundo eles, o que sustenta a perseverança diante da incerta chance de brilhar. "Somos amigos. No começo, olhávamos para o Édson Bastos e falávamos: Nossa, esse é o cara. Depois vimos que ele é uma pessoa normal, como a gente. Nos dá a maior força. Chegamos para treinar alegres", diz Bastinho.
A tão esperada chance chegou cedo demais para o paranista Josiel Henrique. Com 19 anos, o atleta ganhou a condição de titular em meio à péssima campanha do Paraná no Estadual. "O momento era difícil e eu não fui muito bem. Levei muito gols. Isso não dá para um goleiro, né?", reconhece. Em cinco jogos, ele sofreu dez. "Mesmo assim foi uma experiência ótima. Agora estou mais amadurecido e trabalho mais para estar pronto para a próxima", conta.
Com a contusão do reserva Thiago Rodrigues, Josiel foi relacionado para compor o banco nos últimos três jogos na Série B. "Agora o clima é outro", completa, no aguardo sem ponteiros por uma oportunidade.
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