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 | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Giba chegou ao Brasil no começo do mês exausto por causa de uma temporada intensa e uma agenda repleta. O ponteiro da seleção brasileira emendou um torneio atrás do outro, fora os compromissos longe da quadra (é um dos esportistas mais cobiçados pela publicidade). E, mal desembarcou, já embalou na disputa da Superliga pelo Cimed/Sky, de Florianópolis. Resultado: uma fratura por estresse na tíbia (canela) esquerda obrigou o atacante a parar. Serão aproximadamente 45 dias de molho. Tempo para descansar e cuidar da família. E, por que não, atender a imprensa.

Esse ano deixa poucas saudades e muitas lições?

Vai deixar saudade. Foi um ano em que a gente aproveitou muito. A Superliga foi puxada, corrida, onde a gente teve o pessoal do Sesi [campeão] chegando depois. Pela seleção, o importante foi a classificação para a Olimpíada. A Copa do Mundo es­­capou muito mais por culpa nossa do que por mérito dos outros. Tomar, como você falou, essa lição para que não aconteça isso na Olimpíada no ano que vem.

O Brasil deixa de ser o grande fa­­­­­vorito em Londres?

Vendo a Copa do Mundo, o Brasil [terceiro colocado] ganhou do primeiro [Rússia] e do segundo [Polônia], que foram convidados e nem mereciam, entre aspas, estar lá. Então, mais uma vez, o Brasil estava no pódio. Disputou a final na Liga, ganhou o Sul-Americano, ganhou o Pan-Ame­­ricano, mesmo com a seleção B, mostrando que as gerações mu­­dam, mas que a categoria continua em alta. Por isso tudo, nada menos do que no ouro a gente pode pensar.

Apesar dos percalços, a seleção segue como favorita, isso?

Mesmo que nos pró­­ximos dez anos o Brasil saia do pódio, será sempre o favorito. Durante a última década existiu uma competição que foi a Liga Mundial disputada no Brasil [2008], que a gente ficou de fora do pódio. Em dez anos, a gente está o tempo inteiro no pódio e isso é uma coisa inédita para qualquer tipo de time. Se parar para pensar, a Rússia [campeã da Copa do Mundo] ficou fora do pódio do Campeonato Europeu. Então, a hegemonia não se faz com um ou dois títulos, se faz com um histórico. Acho que o Brasil vai ser sempre o time a ser batido, que todo mundo vai ter certa gana, certa raiva, querendo nos tirar dos pódios e, principalmente, da medalha de ouro. Repito: nada menos do que no ouro podemos pensar em Londres.

Como será o trabalho até lá?

Agora temos de relaxar um pouco. Este ano foi muito corrido, muito pesado, muito longo. O calendário fez de abril a dezembro um ano muito desgastante. Vamos relaxar neste mo­­mento, pensar na Superliga, pensar que no ano que vem teremos três meses de apneia. Ap­­neia mesmo, sem respirar de tanto trabalhar du­­rante a Liga Mun­­dial e a Olimpíada [possivelmente coladas]. É preciso saber que a seleção representa um curto período, mas in­­ten­­­so, para nos doarmos com tudo, do jeito correto. É sacrifício mesmo.

O desgaste da temporada ajudou a esquentar os ânimos e sur­­giram algumas rusgas. Falou-se de um problema seu com o Bernardinho, além da explosão do Serginho com o treinador. O que aconteceu?

Esse atrito já está vindo há muito tempo. Acontece. Meu relacionamento com o Bernardo, sem demagogia nenhuma, é o me­­lhor possível. Temos uma relação de homem acima de qualquer coisa, antes de termos uma relação profissional. Nesses dez anos acabamos criando uma amizade e uma confiança que não têm motivo para qualquer tipo de arranhão. As coisas que vêm ou vão são conversadas a portas fechadas, como sempre foram feitas. Acho que o que aconteceu com o Serginho [ofendeu o técnico durante o jogo com a Argentina, na Copa do Mundo] foi o retrato da nossa transparência. Algo normal em um grupo afinado. No fim do jogo, o Leandro [Vissotto], assustado, disse: "Nossa, o clima tá tenso". Respondi: "Não tá nada mais do que o normal". Nosso normal é esse.

Sobre a parte tática: essa oscilação entre os levantadores atrapalha?

Acho que não. Os dois levantadores foram escolhidos pelo Ber­­nardo, que é o chefe do time, é o patrão, como eu o chamo. Acho que o fato de o Marlon ter jogado e feito um trabalho esplêndido contra a Rús­­sia e os Es­­tados Uni­­dos, e um jogo muito bom contra a Itá­­lia, e o fato de o Bru­­ninho ter en­­trado depois... É bom sa­­ber que te­­mos dois ex­celentes jogadores à disposição.

Uma geração inteira vai deixar as quadras depois de Londres. Estamos preparados para manter o alto nível em 2016?

Uma grande parte vai parar. Acho que o Brasil está preparado. As categorias de base vêm sendo trabalhadas há muito tempo. Es­­tamos fazendo um trabalho bem feito. Seria uma besteira falar di­­ferente. Em 2009, quando se trocou uma grande parte da seleção, o time continuou no to­­po. Sa­­be­­mos que em uma Olim­­píada aqui dentro não podemos fazer feio.

Mas essa não é uma condição de todos os esportes. Por que o vôlei oscilaria tão pouco?

O COB [Comitê Olímpico Bra­­si­­leiro] sempre deu uma estrutura grande. Sem demagogia, tiro o chapéu para o trabalho feito pela CBV [Confederação Bra­­sileira de Vôlei], que começou com o [Car­­los Artur] Nuzman – ele está trabalhando para que os esportes olímpicos se tornem um negócio. É assim nos EUA, por isso eles são uma potência. Acho que o COB está procurando fazer isso, buscando talento no Brasil inteiro. Veja, o país é muito grande: não pode ficar preso de Minas Gerais para baixo. Tem capacidade de formar muitos atletas.

Você tem um desejo antigo de formar uma equipe de ponta no Paraná. Novidades?

Vamos ver. O pontapé inicial foi dado com o projeto social que é o Leões do Vôlei, uma parceria minha com o Emanuel [paranaense campeão mundial do vôlei de praia]. Temos dez núcleos e estamos montando mais três em Santa Catarina. Conversei com o go­­vernador [Beto Richa] sobre esse projeto. Para funcionar, você precisa de espelhos, de ídolos. Para isso nós precisamos de um time em Curitiba.

Mas hoje você faz parte de outro projeto...

Não posso deixar de jeito ne­­nhum uma Sky, a empresa que me trouxe para o Brasil após oito anos fora, uma Cimed [ambas patrocinadoras do jogador]. Não posso abandoná-las e pensar em um projeto exclusivamente meu, sem deixar de querer ter eles ao meu lado também. En­­tão, vamos cozinhando, vamos pensando.

Existe o desafio nesta Super­­liga de fazer essa parceria en­­fim deslanchar, não é?

A Superliga está só começando. O time foi formado quando a gente veio para o Brasil [em 2009], para ser campeão. In­­felizmente, ficamos com o terceiro lugar, o clube foi eliminado nas quartas de final do segundo ano e esse ano, com o casamento da Cimed – com seis Superligas, cinco finais e quatro títulos – tem tudo para a gente fazer um belo campeonato e condecorar o trabalho que a Sky fez nesses três anos.

Como torcedor, qual análise faz da seleção feminina?

Difícil falar como torcedor. Ana­­liso como um jogador fa­­zendo parte de um grupo. Eu não estou dentro do grupo delas, não posso dizer qual é o problema, porque não se classificaram à Olimpíada, porque jo­­garam mal ou não. Difícil falar quando não se está vivendo dentro dos problemas. Como torcedor sinto muito por terem de jogar o Pré-Olím­­pico e não terem um tempo maior para o treinamento. Acre­­dito que se classifiquem para Londres.

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