A eleição do Coritiba ocorre na segunda-feira. O prazo para a inscrição de chapas se encerra às 18 horas de amanhã. E só depois disso se poderá responder a uma pergunta que começa a inquietar boa parte dos Alviverdes: quem vai se aventurar a comandar um clube rebaixado e praticamente sem receitas para uma de suas temporadas mais difíceis?
A reeleição de Jair Cirino parece cada vez mais inviável. Em nenhuma das duas frentes que foram derrotadas pela atual gestão no pleito de dois anos atrás, em princípio, há articulação para montar nova chapa em tão pouco tempo.
O advogado Domingos Moro até admite conversar sobre o assunto, desde que a eleição seja adiada por motivos de segurança. Antes mesmo de pensar em voltar ao cenário político do clube, o conselheiro vitalício tem medo de uma tragédia no dia da disputa. "Se alguma frente me procurar eu até admito conversar. Mas antes será necessário retardar o processo eleitoral. Será um loucura, com esse clima, manter a data", diz Moro, que teme um novo ataque de torcedores no dia do pleito.
Já o ex-presidente Giovani Gionédis rechaçou a possibilidade de retornar agora. Embora diga que seu telefone tenha tocado mais de 50 vezes ontem, chamadas que seriam de conselheiros pedindo a sua volta. O ex-dirigente apoia a manutenção do atual grupo.
"Quem pariu o Mateus que o embale", disse, citando um ditado popular. "Eles têm de enfrentar o que fizeram. Pegaram um clube que levei seis anos para sanar e vão querer o entregar endividado? Eles que têm de enfrentar isso." Gionédis ainda alertou para os exemplos de Vitória e Bahia que acabaram caindo da Série B para a C.
A situação financeira do Alviverde é bastante preocupante. Para o ano que vem, o Coritiba terá sua cota de tevê reduzida pela metade. Dos cerca de R$ 12 milhões atuais, a verba recebida do Clube dos 13 cairá para R$ 6 milhões. Ou seja, cerca de R$ 500 mil mensais. Contudo, pelos empréstimos contraídos nesses dois anos e que são consignados a esse montante ou seja, as parcelas devidas nem chegam aos cofres do clube, vão direto para os credores , sobraria pouco ou quase nada.
"Agora é uma outra situação, e a nova diretoria vai ter de tentar renegociar todas essas dívidas com os credores para sobrar algum dinheiro", admite o atual diretor financeiro do clube, Francisco Araújo.
Outras fontes de rendas também já estão, em parte, empenhadas. A bilheteria, além de ser uma incógnita, conta com descontos variáveis para pagar outro empréstimo, dessa vez feito com a BWA empresa que gerencia a venda de ingressos, que repassou R$ 1,6 milhão no fim de 2008. Os R$ 2 milhões relativos à publicidade master da camisa, contrato assinado com o banco BMG até o fim de 2010, também foram antecipados. Até o ganho relativo com a venda de parte dos direitos de Pedro Ken, concretizada na semana passada, não existiria mais.
O negócio teria sido fechado na sexta-feira à tarde e o clube teria transferido a maior parte dos R$ 2 milhões recebidos diretamente para a conta dos atletas, para antecipar os salários de novembro e tentar garantir maior motivação no confronto com o Fluminense. Não adiantou.
É simples entender como a situação chegou a esse ponto no Alto da Glória: em boa parte de 2009, a folha salarial do Alviverde foi cerca de 50% maior do que o clube recebia. Com cerca de R$ 1 milhão mensal fixo das cotas de tevê, gastava mensalmente R$ 1,5 milhão a maioria com salários altíssimos para atletas. Imaginava obter a diferença com venda de jogadores e outras fontes. Como não conseguia, apelava à instituições financeiras.