Aos 19 anos, Sarah Menezes é saudada como maior nome do esporte do Piauí. Primeira mulher do estado a disputar uma edição dos Jogos Olímpicos antes, em 2000, em Sydney, o velocista Cláudio Roberto tinha sido reserva da equipe que ficou com a prata no 4x100m -, a judoca é referência em Teresina. Por trás das conquistas da piauiense, no entanto, uma rede de amigos, familiares e apoiadores torna possível o sucesso do xodó da capital.
É verdade que nem sempre foi assim. Quando resolveu se arriscar no judô, Sarah encontrou forte resistência em casa. Seus pais, José Rogério e Olindina, não gostavam do fato de ver a filha treinando com meninos. Nessas horas, a judoca encontrava o apoio do vizinho Francisco Carvalho, que mais tarde chegou a casar com a irmã mais velha da atleta, Sâmia.
Proibida de ir ao treino, Sarah ficava escondida na casa de uma amiga e pedia dinheiro emprestado a Francisco para pagar a passagem de ônibus. Hoje, anos depois, ele não esconde o orgulho de ter ajudado a menina no início de sua vida nos tatames.
"Ela tinha 8 ou 9 anos, e a mãe não queria que ela treinasse. Então, eu dava o dinheiro da passagem dela. Hoje sinto muito orgulho. Quando ela recebeu o Prêmio Brasil Olímpico, eu vi na TV. Ela ligou para mim e fiquei muito emocionado por ela ter lembrado. Ela é muito humilde e não tem muita noção do que ela é, do que representa. Tenho certeza de que vai vencer nas Olimpíadas. Ela tem um olho de campeã, é fria na luta, muito concentrada", disse Francisco, em entrevista por telefone.
Dez anos depois, Sarah se vê cercada de uma estrutura que só é possível por conta do apoio que recebe de amigos e entusiastas de seu talento em uma "corrente do bem". Sem patrocínio, a judoca fez das suas conquistas uma forma de incentivar parceiros a investirem em seu potencial.
Estrutura "particular" à disposição
Sarah tem à sua disposição academia, curso de inglês, fisioterapia, plano de saúde e psicóloga, entre outros serviços. Tudo sem precisar gastar um centavo. A fisioterapeuta Fernanda Daniel, dona da clínica que leva seu nome, acredita que o apoio a Sarah traz como retorno uma grande publicidade.
"Quando a gente resolveu apoiar a Sarah, foi até antes de Pequim. Resolvemos pelo perfil de interesse, pelo compromisso e pela necessidade dela. Ela se desdobra. Para ficar boa, não tem limites. Nós damos um suporte para que nada atrapalhe durante as competições", disse.
A psicóloga Luciana Castelo-Branco conheceu Sarah depois de um contato entre seu marido e o técnico da atleta, Expedito Falcão. Especializada no trabalho com esporte, ela também credita o apoio ao comprometimento da judoca.
"Eu fui atrás de atletas que tinham mais compromisso, porque favorece a dedicação. Tudo precisa de disciplina. Ele ainda está no período de adaptação, de mentalização. Nesses primeiros encontros, a gente já percebeu mudanças. Imagina quando o trabalho tiver mais adiantado?", perguntou a psicóloga.
Na adolescência, apoio em casa
Em casa, as coisas mudaram ao longo dos anos. O veto ao judô na infância virou orgulho e apoio incondicional da família. A começar pelo pai, que se emociona ao falar da filha.
"Eu fiquei orgulhoso por ter uma filha atleta. Sempre preferi que ela estudasse, mas quando vi as primeiras vitórias, sabia que ia longe. Agora, sou parado a toda hora na rua", disse Rogério.
Um dos principais apoiadores de Sarah é Hebert Menezes, o tio Bebinha. Dono de uma locadora em Teresina, ele coleciona fotos e reportagens da carreira da judoca, espalhados pelas paredes da loja. Feliz com a festa que os meninos fazem em torno da atleta, ele diz ter a mesma certeza que o pai dela.
"O sonho dela é trazer o ouro das Olimpíadas. E eu sei que vai conseguir".
Tanta idolatria também rendeu apoio de formas diferentes entre os piauienses. Antes da ida a Pequim, Sarah foi homenageada com uma música pelo médico Weidner Lima, um xote de exaltação à judoca e ao povo do estado.
"A música era para que as pessoas pudessem se espelhar nela. A gente sabia que só de ir para as Olimpíadas, vinda do Piauí, era uma grande vitória".
Sarah, apesar de saber que é esta corrente de apoio que possibilita seu sucesso nos tatames, pede mais estrutura para o estado. A ideia é possibilitar que outros talentos surjam no Piauí. O secretário de Esporte, Lazer e Turismo de Teresina, Rooney Lustosa, afirma que está sendo feito um trabalho de base, junto com o governo estadual.
"Sarah hoje é nosso maior orgulho. De um modo geral, nós estamos tentando resgatar o esporte no Piauí. Nós temos de incrementar o desporto escolar, tentar trazer os alunos para as escolinhas. E a presença física de Sarah pode estimular. Como a iniciativa privada nunca se movimentou para ajudar, pode tentar ajudar a trazer patrocínios para o estado", afirmou.
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