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Rodolfo Hesse tem 57 anos e cinco safenas: corrida virou remédio para recuperar a saúde. | Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Rodolfo Hesse tem 57 anos e cinco safenas: corrida virou remédio para recuperar a saúde.| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Vida nova após a quinta safena

O pediatra Rodolfo Hesse, 57 anos, vai participar no próximo domingo da sua quinta maratona. Uma para cada ponte de safena do seu coração. A corrida entrou na rotina do médico exatamente após os problemas cardíacos.

"Eu era obeso, sedentário, hipertenso e estressado", assume. Condição que o levou à cirurgia em 2000. Após três anos dedicados a uma fisioterapia cautelosa, começou a se aventurar na corrida. Iniciativa reprovada no início por seu cardiologista, que hoje o tem como exemplo.

"Não há nada de irresponsável na minha atitude. Faço todos os exames duas vezes por ano, recebo um acompanhamento rigoroso. Meu treinamento é elaborado de acordo com as minhas condições físicas. Corro por prazer, por saúde e nunca além dos meus limites", garante.

Nem as mortes recentes assustam o safenado. "Quem tem medo é a família. Esposa, filha e irmã ficam aflitas", admite. Em média, ele corre de 50 a 80 quilômetros em cinco treinos por semana. Nesta fase de preparação para a maratona, a contagem chegou a 110 quilômetros nessa semana.

"As pessoas que tiveram problemas cardíacos e se mantêm em atividades física têm uma condição de sobrevida muito melhor", endossa o cardiologista José Moura Jorge.

O acompanhamento médico, porém, é necessário a todos. Correr virou moda e parece que a falta de cuidados também. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), com sete mil atletas amadores em todo o Brasil, mostrou que cerca de 60% praticam corrida sem a supervisão de um técnico especializado. (ALM)

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Um trágico retorno histórico afeta os maratonistas. A mais tradicional prova do atletismo reprisa a sina da sua origem. A morte súbita que vitimou o grego Fidípedes em 490 a.C. – após ele correr os 42 quilômetros entre as cidades de Marathon e Atenas para anunciar a vitória grega contra os persas – volta a atacar os competidores quase 2.500 anos depois.

No período de apenas uma semana, três corredores morreram durante ou após competir em provas de longa distância. No último domingo, um grego de 60 anos caiu pouco antes de chegar ao quilômetro dez da Maratona Clássica de Atenas, realizada justamente para homenagear Fidípedes, o inspirador da maratona.

Dias antes, o brasileiro José Carlos Gomes, de 58 anos, e o norte-americano Joseph Marotta, de 66, morreram após completar a renomada prova de Nova Iorque – vencida pelo brasileiro Marílson dos Santos. No mesmo percurso, outras duas pessoas sofreram ataques cardíacos, mas foram socorridas, passaram por procedimentos de ressuscitação e sobreviveram.

Às vésperas da Maratona de Curitiba, marcada para o próximo domingo, os dramas recentes reforçam a atenção dos organizadores e o alerta aos participantes da prova cujos registros também contam com uma morte em 2006. O empresário de Apucarana Raimundo Rodrigues Sobrinho, de 57 anos, morreu de enfarte após ter percorrido quase 40 mil dos 42.195 metros.

Entre preparação inadequada e socorro ineficiente, especialistas cravam a primeira hipótese como a grande vilã. A própria morte do empresário paranaense reflete isso. Ele sentiu-se mal e caiu praticamente em frente a um posto de atendimento médico, montado no Passeio Público. Foi socorrido imediatamente, levado ao Hospital Evangélico e não resistiu.

"Mesmo tendo oferecido todos os cuidados, a morte acabou acontecendo. Foi um fato que abalou a organização", comenta o coordenador técnico da prova, professor João Negrão.

A falta de acompanhamento médico, um histórico de problemas de saúde, a intenção de ultrapassar os próprios limites e o desprezo aos avisos do corpo transformam o corredor em uma vítima em potencial.

"Atletas de fim de semana, pouco condicionados, não devem se meter em empreitadas como essa, pois a chance de levar o coração à exaustão é muito alta", avisa o cardiologista José Carlos Moura Jorge, responsável pelo Laboratório de Eletrofisiologia de Curitiba e pelo Hospital Cardiológico Costantini. Ele coordenou essa semana os eventos do 2º Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita.

Os cuidados gerais merecem ser ouvidos com ainda mais atenção por 15% dos inscritos na maratona de Curitiba: os corredores com mais de 45 anos, não por coincidência a mesma faixa etária dos últimos três atletas mortos.

"A precaução deve ser maior a partir dessa idade. Quando estamos nervosos, com raiva e quando corremos, o corpo libera adrenalina. Essa substância, dependendo da condição de estresse, solta placas de gordura nas artérias. Na hora do exercício, essa placa pode se romper. O próprio corpo reage, e para bloquear essa rutura, pode formar um coágulo, obstruindo a passagem de sangue para o coração e para outros órgãos. Ocorre subitamente a parada cardíaca", explica Moura Jorge.

Dor no peito, cansaço, falta de ar além do normal para a atividade física, tontura e escurecimento da vista indicam que o competidor deve parar imediatamente. O que não fez Josefh Marotta em Nova Iorque. Seu filho, Paul Marotta, afirmou que o pai sentiu-se mal durante a prova, mas insistiu em terminar o percurso.

O alerta pode ser prévio. De acordo com o cardiologista e médico do esporte Nabil Ghorayeb, vários trabalhos médicos mostraram que, uma semana antes, entre 70% a 80% das vítimas de morte súbita sentiram tontura, azia, palpitações fora do ritmo cardíaco e cansaço fora do habitual. "O corpo avisa. É que as pessoas não dão valor a isso."

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