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 | Antônio Costa / Gazeta do Povo
| Foto: Antônio Costa / Gazeta do Povo

Aramis Tissot estava com um mau pressentimento quando recebeu a reportagem da Gazeta do Povo em seu camarote na Vila Capanema, sexta-feira, pouco antes da partida entre Paraná e Grêmio Barueri. O atual presidente tricolor imaginava que a equipe paulista se fecharia muito na defesa e dificultaria as coisas, o que de fato aconteceu. O que talvez não esperasse era ver o adversário aproveitar bem os contra-ataques para vencer por 3 a 1. Apesar da derrota, o Paraná segue brigando pelo acesso à Série A, o que segundo Tissot seria fundamental para sanar de vez as dívidas e iniciar uma nova fase, como deixou claro na entrevista a seguir.

A chapa que venceu as eleições em 2010 deveria ser encabeçada pelo senhor, mas ao final entrou apenas como vice. Por quê?

Inicialmente eu fui chamado para que nós fizéssemos uma chapa, praticamente uma revolução no Paraná. O Renato Trombini estava organizando com algumas empresas um movimento, porque a situa­ção era muito ruim – como não é boa até hoje. Relutei muito, mas, como tivemos uma promessa de um aporte financeiro muito bom, lançamos a chapa. Após isso, fiz uma visita, fui saber da realidade do clube, e aquilo me assustou. Vi que os recursos que precisávamos eram bem maiores e desisti da ideia de ser presidente. Mesmo assim, continuamos trabalhando e fizemos uma coligação com as pessoas que estavam no clube. Me dispus a ser o vice-presidente para cuidar do futebol. Uma equipe muito boa foi montada para a Série B [de 2010] e nós não chegamos a nada exatamente por falta de dinheiro. Estamos em dia, mas isso [atrasos salariais do ano passado] me assusta até hoje.

Como é a atual realidade financeira do clube?

O pessoal do marketing está fazendo essas campanhas, algumas com bastante sucesso. A volta do público é importante, o número de sócios aumentou. Isso está nos ajudando, mas não é o suficiente. A folha de pagamento é bastante baixa para os padrões de Segunda Divisão. Temos 13 equipes que gastam mais do que nós. Em jogadores, R$ 400 mil [mensais]. Se você pegar dois dos principais jogadores ou três dos nossos coirmãos Atlético e Coritiba já dá isso. Sabemos dessa realidade, mas sabemos também que, para podermos no futuro ter um time mais competitivo, vamos fazer de tudo para que muitos desses jogadores fiquem conosco. Eu vejo que a maioria deles tem condição plena de disputar uma Primeira Divisão. Só daremos a volta por cima se chegarmos na Série A. Digo que nós temos um prêmio oferecido aos jogadores [incluindo comissão técnica] de R$ 2 milhões para subir. Aí alguém diz assim: ‘Como vocês vão arrumar esse dinheiro?’. Evidente que não temos, mas iríamos trocar R$ 2 milhões por R$ 25 milhões, que seria mais ou menos a verba da televisão [na Série A].

Por que o senhor aceitou assumir a presidência com a licença de Aquilino Romani?

Assumi em um momento em que também não queria, mas eu sou o primeiro vice-presidente do clube e não poderia fugir. Mas o que nós propusemos? Que fizéssemos uma administração compartilhada. Eu vim muito mais para o futebol. O Aquilino, apesar de não ser o presidente de direito, de fato é a pessoa que comanda as demais áreas do clube – quer a social, quer a Kennedy. Eu o chateio sempre: ‘Você está trabalhando mais do que quando era presidente’ [risos]. Mas por alguma razão acabou dando mais certo. Todo esse envolvimento que vejo nas pessoas fez com que o Paraná não voltasse a ser aquele de outrora, você sente que hoje é um Paraná diferente e isso nos motiva. Essa motivação é estendida para a comissão técnica, jogadores. O Paraná está em um caminho bom. Sabemos que temos um elenco até numeroso. Quando você tem um elenco numeroso, muitas vezes é até por condição financeira. Você acaba errando mais nas contratações. Por quê? Evidente que gostaria de ter um determinado jogador, mas ele depende de R$ 60 mil por mês, e tem um outro lá que é 10 mil, 5 mil, 4 mil, então você arrisca muitas vezes em jogadores que não sabe se vai dar certo. Isso acontece muito. Graças a Deus tivemos a felicidade de ter alguns parceiros que nos ajudam. Não vou falar o nome de empresário, mas tem pessoas que nos ajudaram.

Mas isso também não traz um fardo ao Paraná? Os empresários querem um retorno financeiro.

Mas ali temos condição de comprar um porcentual do passe, é um acordo. Existe um projeto como no Coritiba, que voltou para a Primeira Divisão e manteve a maioria de seus jogadores, porque também teve empresários lá dentro e eles compraram porcentuais de passe. Com um valor de televisão muito mais alto, teríamos condição de comprar, de deixar R$ 4,5 milhões desse montante de dinheiro para ter parte de passes desses jogadores.

Pensa em reeleição?

Acho que não existe essa hipótese. Tenho por mim que, presidente de clube de futebol, quando parte para uma reeleição ou é louco ou ladrão. Eu não sou louco, nem ladrão. Veja a injustiça que é estar num clube de futebol: quando você ganha, é endeusado, a torcida dá tapinhas nas costas; quando você perde, é chamado de ladrão! Acho que não preciso mais passar por essas coisas. Hoje a gente passa pelo amor. Nós gostaríamos de pelo menos manter esse grupo unido. Essas pessoas novas que vieram com novas ideias estão fazendo um trabalho muito bom. Nesse início de ano, houve uma mudança em toda a diretoria. Quanto à minha permanência, como presidente, não. Talvez ainda em algum setor do clube eu possa dar uma contribuição.

O Aquilino foi um desses presidentes injustiçados?

Posso dizer para você com a maior tranquilidade do mundo que ele foi injustiçado, sim. O Aquilino é uma pessoa séria, honesta, que teve uma infelicidade. O que ele fez com o Paulo [César Silva, vice-presidente de futebol]? Fizeram um time basicamente muito barato, parece que estavam gastando R$ 120 mil [mensais]. Mas, por outro, lado recuperaram as finanças do Paraná. Para a torcida, não importa isso, ela quer ver o time em primeiro lugar. E a infelicidade dele foi ter sido rebaixado [no Estadual]. Se não tivesse sido, tudo seria contornável.

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