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Ao contrário do Coritiba, clube que defendeu até agosto, Márcio Rafael Ferreira de Souza, o Rafinha, chega ao fim de 2005 apenas com motivos para comemorar. Titular do Schalke 04, time de maior torcida na Alemanha, o jogador atingiu com apenas 20 anos de idade o que há pouco tempo não passava de sonho. Entre os planos para o futuro, a vontade de vestir a camisa da seleção brasileira tem lugar especial. Mas uma das coisas que o lateral-direito mais quer em 2006 é marcar seu primeiro gol pelo time alemão.

Gazeta do Povo – Tão jovem, você já é titular de um grande clube europeu. Há um ano e meio, quando subiu para os profissionais do Coritiba, esperava crescer tão rápido?Rafinha – Sempre tive o sonho de ser um grande jogador profissional, ir para a Europa. Mas o que parecia distante, na verdade estava bem perto. Pelo sucesso que eu alcancei, tanto dentro como fora de campo, preciso agradecer a Deus e às pessoas que me ajudaram, como o (técnico) Antônio Lopes, que é o principal responsável pela minha ascensão, e o (técnico) Cuca que deu continuidade. Tudo junto com um pouco da minha competência também, porque sem isso não ia adiantar nada. Agora tenho que manter os pés no chão, que é a minha melhor característica.

Muitos brasileiros contratados para jogar na Europa voltam logo, reclamando que não se adaptaram. Você não sofreu com isso? Foram seis meses na Alemanha, enfrentando frio, outro idioma, outra cultura, e não tive tantas dificuldades. Minha mãe ficou comigo lá. Foi importante também a estrutura que o pessoal da Massa Sports (empresa que gerencia a carreira do jogador) montou. Estou aprendendo alemão, me adaptando bem ao clima, e isso me deixa cada vez mais tranqüilo pra trabalhar.

Na vida pessoal, a adaptação foi rápida. Mas e ao truculento futebol alemão? Demorei algumas partidas para me encontrar. Sempre fui franzino (1,72 m). Isso no começo atrapalhou. Estava sofrendo uma média de 15 a 20 faltas por jogo, o que gerou até polêmica, pois todo jogador que vinha para uma trombada o árbitro marcava. Hoje, com seis meses de trabalho, ganhei sete quilos de massa muscular (de 63 kg para 70 kg).

Qual é a diferença entre o torcedor brasileiro e o alemão? Lá, jogamos sempre com 70 mil pessoas no estádio. Os ingressos do Schalke estão vendidos até o fim de 2007. Isso deixa qualquer jogador feliz. Na Alemanha o torcedor é mais dócil. Vem te abraçar na rua, beijar. Você anda dez metros e chega uma família inteira pedindo autógrafo. Todo mundo quer tocar, falar.

Uma das principais novidades foi a neve? É. Para quem só via na televisão, ver a neve cair no quintal de casa chega a ser bonito. Para jogar é difícil. Na última partida, contra o Stuttgart, a temperatura era 8 graus negativos. Quem diria eu, que jogava no Brasil, encarar um clima desses, com temperatura negativa, neve, sem enxergar nada?

Mudando de assunto. Quando você foi embora, em agosto, imaginava que o Coritiba poderia ser rebaixado? Não passava pela minha cabeça de jeito nenhum. Um clube com a estrutura do Coritiba, com o plantel que tinha, cair para a Segunda Divisão. É triste, a gente só lamenta, mas agora é preciso trabalhar. Os jogadores que estão chegando precisam dar tudo pelo clube, ao qual devo muito.

Você torceu a distância?Por causa do fuso horário (cinco horas de diferença), em alguns dias eu e minha mãe íamos dormir cinco horas da manhã para acompanhar os jogos do Coritiba. Era difícil pra gente, mas o carinho que eu e minha família temos por esse clube é enorme.

Se o Rafinha tivesse ficado, o Coritiba teria mais chance de se salvar?Se eu ficasse podia acontecer também. Talvez se tivessem permanecido todos: Fernando, Miranda, Alexandre, Adriano. Então creio que podia ser diferente. Ou sei lá, quem sabe tivesse caído também. Quem ficou tinha competência. Mas foi a hora. Não mereceu se salvar, perdeu jogos que não podia.

Quais são seus próximos objetivos na carreira? Quero brigar pelo título alemão e chegar novamente à Liga dos Campeões, que disputamos esse ano. Futuramente, com mais calma, penso em realizar o sonho de chegar à seleção principal.

Algum pedido especial para 2006?Manter o que fiz no primeiro semestre lá. Mas estou precisando fazer um gol. Só fiz num amistoso, valendo três pontos ainda não. Pelo menos já tenho oito assistências no campeonato e isso eles consideram bastante na Europa. Mas não tem jeito. Preciso fazer um gol.

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