A fórmula de pontos corridos evidenciou uma espécie de cisão no futebol nacional. O poder econômico dividiu os times em dois grandes grupos. Os mais abastados, normalmente do eixo Rio-São Paulo, brigam pelo título nacional. O restante, incluindo Atlético, Coritiba e Paraná, torce para permanecer enfrentando os grandes ou chegar à Sul-Americana. Para eles, uma vaga na Libertadores soa quase como volta olímpica. "É difícil", reconhece Ernesto Pedroso, um dos diretores do Alviverde.
Desde que a CBF reformulou o Brasileiro, em 2003, somente uma vez o troféu não ficou com clubes de São Paulo ou Rio. Justamente no ano de estreia do formato, quando o Cruzeiro, comandado pelo paranaense Alex, rompeu a barreira São Paulo (3), Santos, Corinthians, Flamengo e Fluminense foram os outros vencedores.
Um exemplo ajuda a entender o abismo criado pelo dinheiro e a consequente diferenciação técnica. Enquanto o Flamengo, que faturou cerca de R$ 44 milhões com direitos de transmissão em 2009, fechou a temporada como campeão, o Atlético, dono de uma arrecadação três vezes menor (pouco mais de R$ 13 milhões), ficou no modesto 14.º lugar. Os números são da consultoria Crowe Horwath RCS.
Há, obviamente, exceções. Nesta temporada, o "classe C" Atlético inverteu os papéis com o "classe A" Flamengo. Mesmo assim, o Furacão terminou longe da disputa do título (em 5.º lugar). "Os pontos corridos favorecem quem tem mais poder. Sem contar que há muito mais grandes no eixo do que fora do eixo", emenda o ex-jogador Tostão, colunista da Gazeta do Povo, apontando apenas Inter, Grêmio e Cruzeiro como capazes de figurar entre os favoritos.
Dentro de suas limitações, o trio curitibano se planeja para uma futura migração na pirâmide financeira.
O Coxa, conta Pedroso, projeta um salto de quase 100% no orçamento, de R$ 53 milhões em 2010 para R$ 100 milhões em 2011. "Um aumento de 7 mil sócios [chegando a 25 mil ativos] já nós dará um aporte de R$ 6 milhões. Há também a volta da cota de tevê original [de aproximadamente R$ 11 milhões]", diz ele, adotando um discurso comum entre os coirmãos. "Eles [os mais endinheirados] também falham. É ter competência para aproveitar", emenda Valmor Zimmermann, diretor de futebol rubro-negro, apostando na fórmula do erro "quase zero" para ser feliz.