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Donizete Pantera e seu gesto característico para comemorar gols. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Donizete Pantera e seu gesto característico para comemorar gols.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Nas entranhas de Curitiba e região, o campeonato de futebol 50tinhas é um reduto de medalhões do futebol brasileiro. Ex-atletas consagrados no país e no exterior viajam de qualquer canto para se juntar aos peladeiros de final de semana no principal torneio nacional amador exclusivo para jogadores acima dos 50 anos.

Disputa amadora com clima e ritual de profissional. Não há equipe que não reze o tradicional Pai Nosso, com todo o fervor, antes de a bola rolar. Em campo, o ‘coro come’ e não faltam divididas ríspidas, bronca com a arbitragem, catimba e provocações. Rivalidade que esfria no copo de cerveja gelada nos churrascos após os jogos.

Assistir a um jogo do atual campeão, o Botafogo de São José dos Pinhais, é voltar aos anos 80 e 90 do Brasileirão. Em campo, estão incontáveis canecos levantados e convocações para a seleção brasileira. Do Rio de Janeiro e das glórias do Maracanã, Donizete Pantera, 50 anos, parte uma vez por semana só para envergar a camisa 7 e rachar nos gramados batidos da várzea curitibana.

“É a primeira vez que estou participando do campeonato e estou gostando bastante. Todo mundo me recebeu muito bem. O pessoal é muito gente boa. Mas quando a bola rola, não tem essa de ser ex-profissional ou não. Todos querem ganhar”, relata Donizete, que fez fama no Botafogo carioca.

Com o currículo recheado de títulos, como a Libertadores pelo Vasco, em 1998, o avante revela um desejo: reeditar no Botafogo de São José a famosa dupla de frente com o amigo Túlio Maravilha, no Alvinegro campeão brasileiro de 95. “Já falei com o Túlio e ele gostou da ideia. Mas ele ainda está com 49 anos, Quem sabe no ano que vem”.

Outros que também fizeram história no Botafogo carioca e integram o clube amador de São José são Ricardo Cruz, 55 anos, e Carlos Alberto Dias, 51. “O Cruz é fera demais. Pegava tudo no gol e já me garantiu muito bicho [gíria do futebol que significa bonificação salarial]”, brinca Carlos Alberto Dias, que reside em Curitiba e defendeu também Paraná e Coritiba.

Como Donizete e Ricardo Cruz, todo sábado Válber, 51, também troca as praias cariocas pelas canchas de Santa Felicidade, Capão Raso, Colombo, etc. “Ex-jogadores que moram no Rio não gostam mais de futebol de campo, preferem o futevôlei. Eu gosto do espírito de competição”, comenta o ex-volante, bicampeão da América e mundial com o São Paulo em 92 e 93.

Ricardo Cruz e Válber: estrelas dos anos 90.Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Contratações de peso

O responsável pela reunião dos medalhões no Botafogo de São José é o diretor do clube, Willian Alves. Para ‘contratar’ os boleiros famosos de fora da cidade, o cartola busca patrocínios e também investe para pagar as despesas dos ex-jogadores. O cachê alcança até R$ 1 mil por partida, além dos gastos com as passagens aéreas.

“Conheço o Gonçalves [ex-zagueiro do Botafogo], ele fez a ponte com o Pantera e tomei a iniciativa. Quando os ex-jogadores viram como funciona, ficaram maravilhados. São 20 clubes, cada um com 30 jogadores. Calendário com oito meses. Eles gostam porque sentem o mesmo clima de quando eram atletas. Quem sabe no ano que vem não venham mais medalhões. Temos conversas com Túlio e Bebeto”, aponta Alves, administrador de empresa.

Outros clubes também buscaram “contratações de peso” para atuar nos pisos duros dos bairros. Há mais de 55 ex-jogadores profissionais circulando pelo 50tinhas. Entre eles está Saulo, 51 anos, maior artilheiro da história do Paraná Clube com 104 gols. O “Tigre da Vila”, como ficou conhecido, joga no Zezitos.

“Você tira o estresse e acaba revendo muitos amigos. Eu jogo com o Heraldo, Castro, Ademir Alcântara. É o convívio do passado, só que sem tanta responsabilidade. E claro, depois participar dos churrascos com a cervejinha, que é a melhor parte”, brinca o ídolo paranista, que chegou a trocar a carreira de atleta pela de técnico.

É o convívio do passado, só que sem tanta responsabilidade. E claro, depois participar dos churrascos com a cervejinha, que é a melhor parte

Saulo, ex-jogador do Paraná Clube e atleta do Zezitos

Técnicos boleiros

Carlos Alberto Dias (ao fundo): jogador decisivo com passagens por Flamengo, Botafogo, Paraná e Coritiba.Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Há também quem precise deixar de participar das partidas justamente por causa do prolongamento da vida no futebol profissional. Casos dos treinadores Adilson Batista, 50 anos, e Cuca, 55. Após um período sem trabalho à beira do gramado, os dois curitibanos acertaram com clubes do Campeonato Brasileiro.

Batista assumiu o comando do América-MG e, assim, virou desfalque do Zezitos. “Brinquei com o Juca [presidente do Zezitos] que eu ia jogar de atacante. Mas acabei recuando. Mesmo assim ainda fiz dois gols. Para um ex-zagueiro está bom. É divertido demais. Meu contrato com o Juca foi uma cerveja e uma porção de bolinho de bacalhau”, brinca Batista.

Cuca, por sua vez, é o artilheiro da edição 2018 com 29 gols em 14 jogos pelo Flamengo. Ele é companheiro do goleiro Gérson, 51, ex-Coritiba. Mas como assumiu o Santos no final de julho, nem sempre consegue comparecer aos jogos. “Estou sentindo muita falta de jogar com o pessoal. É um ambiente maravilhoso. E mesmo durante o trabalho no Santos, sempre mando mensagem para saber quanto está o jogo”, diz Cuca.

55

Ex-jogadores profissionais disputam o campeonato 50tinhas, que conta com 20 equipes.

Organização

Consolidado, o 50tinhas completou 13 edições em 2018. O torneio é organizado pela Associação Paranaense do Esporte (APE), fundada em 1999. O campeonato foi criado pelo presidente da entidade, Leonides Dreveck, e conta com mais de 450 jogos por ano. O certame vai de março a novembro e as pelejas acontecem sempre aos sábados pela manhã.

“Quando criei o campeonato nem acreditava que ia chegar nesse nível. A primeira edição teve oito clubes, a segunda teve 12 e assim foi indo. Hoje toda a RMC participa. Existe uma taxa de inscrição de R$ 500 para os clubes para pagarmos as despesas. Temos uma associação de mais de 100 árbitros para apitar os jogos. Também todos os jogadores têm seguro de vida”, explica Dreveck.

A preocupação com a saúde dos atletas se estende além da oferta do seguro de vida, considerando a idade dos participantes. Clubes e organização costumam orientar para que todos estejam em dia com os exames médicos. Já ocorreram casos de infarto durante os jogos e, neste ano, em agosto, o atleta Altair Buratto, do clube Formula 1, faleceu no intervalo da partida contra o Roça Grande.

A forte procura pela disputa já fez com que Dreveck criasse a Série B do 50tinhas. Anualmente, os quatro melhores sobem para a primeira divisão e os quatro últimos da Série A são rebaixados. Outra criação da APE foi o 60tinhas, exclusivo para os peladeiros acima dos 60 anos. Mas Dreveck lamenta a falta de incentivo da Federação Paranaense de Futebol (FPF).

“Quando o Hélio Cury [presidente da FPF] foi eleito em 2008, fui trabalhar na Federação e entrei numa barca furada. Eu queria fomentar o futebol nos bairros e ele queria acabar. Então acabei saindo. Hoje o que mantém o 50tinhas é a Associação. Ela deveria ser mais reconhecida pelo poder público. São mais de dois mil atletas inscritos só no torneio dos 50 anos. Levamos mais de duas mil pessoas ao estádio na última final. Estamos mantendo vivo o futebol amador da cidade”, exalta Dreveck.

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