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Buenos Aires - Monumental de Nuñez, domingo, sol e frio intenso. Refeito da tragédia com o River Plate, o palco final da Copa América está abarro­tado. Argentina entra em campo. Uma tempestade de papel picado assalta o céu e, de leve, inunda o gra­ma­do. Cinquenta mil mullets de­­lirando: "Olé, olé, olé, olé... Messi, Messi!". La Pul­ga ace­­na. O Brasil vem a se­­guir, vaia­­do como nunca. No clás­­sico telão da can­cha, Ney­mar surge cheio de chinfra. Apito inicial, a bola rola e Buenos Aires es­­cuta uma explosão de ex­­pec­­tativa.

Nosso sonho micou há uma semana. Nem sequer ameaçou tornar-se realidade, com a papagaiada brasileira e a exclusão dos hermanos diante do valente Uruguai, nas quartas de final. Um pega entre uruguaios e paraguaios não é, definitivamente, o que esperávamos na decisão do título. Apesar disso, a jornada pelo futebol latino-americano foi excelente.

Cobertura de 34 dias iniciada vivenciando o drama dos Milionários. Eu, Nícolas França, Édson Militão e Hedeson Alves – o quadro avançado da Gazeta no torneio – estivemos no rebaixamento infernal do maior campeão nacional. O empate com o Belgrano terminou em lágrimas, paus, pedras, jatos dá água e fogo.

Na sequência, enquanto o Nícolas enfrentava a dura rotina do Brasil, eu e o Hedeson desbravamos o Fuerte Apache, terra de Carlitos Teves. Na carona dos canas Ortigoza e Baez, circulamos pelo Bronx gaúcho, um dos barrios mais violentos da cidade, para mirar o painel em homenagem ao cumbiero mais famoso do planeta.

Uma turnê pelas canchas portenhas também foi destaque. La Bombonera (Boca Juniors), El Cilindro (Racing) e El Palácio (Huracán), estádios à moda antiga, cimento, grades, arame farpado e bancadas íngremes sufocando o campo – um elixir contra a "modernidade" besta e corrupta da Copa do Mundo.

Degustar o legítimo churrasco alviceleste era o novo desafio. Bifão de chorizo maravilha? Nada. Eu e Nícolas nos tramamos entre riñones, morcillas e o misterioso chinchulines. Ao descobrirmos ser a tradução para intestino, celebramos a nossa admissão no clube da coprofagia light.

O time de Mano Menezes exibia um futebol mixuruca e nós estávamos em Córdoba, após uma excursão por mais de 600 quilômetros pela Argentina profunda. Pintamos na casa onde Che Guevara curtiu parte da infância e da adolescência, em Alta Gracia. Na varanda, uma estátua do barbudo moleque, traje comportado e feição de maloqueiro sonhador.

De volta à sede em Los Cardales, seguimos para La Plata outra vez, para o duelo com os paraguaios, último obstáculo antes do voo até Mendoza, nas semifinais. 120 minutos de partida e a cobrança de pênaltis mais patética da história canarinho encerraram a caminhada em solo argentino.

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