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É fácil listar motivos para dizer que Ricardo Drubscky não é o técnico certo para levar o Atlético de volta à Série A. O currículo ainda é ralo demais para uma missão desse porte, e o seu trabalho durante os jogos reforça essa desconfiança. Drubscky segue um rito burocrático nas substituições que não cabe no futebol.

Contra o ASA, gastou duas substituições para fazer o que seria resolvido com uma só – por Paulo Baier como segundo homem do meio de campo para melhorar a saída de bola. Diante do Criciúma, piorou o time ao trocar Deivid por Derley, sob a sempre questionável justificativa do cartão amarelo. A combinação desses dois problemas eleva demais o risco de o treinador falhar quando o Atlético mais precisar da intervenção dele.

Mas hoje não dá para imaginar o Atlético dando certo na Segundona sem Drubscky no banco de reservas. Os bons resultados são o ponto mais visível, porém não o principal. É notório o carinho que o elenco atleticano tem pelo treinador. O grupo rubro-negro comprou a causa de Drubscky, algo claro tanto nas declarações quanto na postura do time. E isso vale às vezes mais do que um bom esquema tático ou jogadores talentosos.

Drubscky sempre foi considerado um boa-praça pelo elenco rubro-negro. Palavra de quem trabalhou com ele na base compartilhada pelos atletas mais experientes, que o tacharam como "ótima pessoa" logo após a sua contratação para substituir Carrasco. Naquele momento, porém, havia um percepção geral de que a pressão no Atlético era grande demais para ele suportar. Realmente não suportou, e acabou remanejado para o comando do sub-23.

Este parece ter sido o ponto da virada de Drubscky. Ao invés de espernear ou pedir demissão – escrevi defendendo que ele fizesse isso, pois é o que eu teria feito –, aguentou calado. Foi para o sub-23 e seguiu trabalhando. Quando o Atlético precisou, assumiu a bronca sem a menor vaidade, mas com muita ambição. Não se incomodou com o carimbo de interino, tampouco escondeu a sua torcida para que a diretoria não contratasse alguém. Nessa já histórica entrevista coletiva, inclusive, ganhou ainda mais a simpatia de Mario Celso Petraglia.

Nos contatos seguintes com a imprensa, foi bonito ver a empolgação de Drubscky com a confiança crescente que seu trabalho conquistava. Eduardo Luiz, repórter da 98 FM, descreveu como "igual à de uma criança quando ganha uma bicicleta" a sua alegria após a vitória sobre o ASA, em que ficou claro que ele, já livre da suspensão, estaria, enfim, no banco de reservas para comandar o time diante do Criciúma.

Em um meio tão influenciado pelo discurso religioso como o futebol, Drubscky tornou-se a encarnação de uma das frases mais repetidas pelos boleiros: "Deus exaltará os humilhados". E com o personagem mais improvável possível, o Atlético conseguiu mobilizar o grupo na medida exata para arrancar ao G-4.

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