Um dia depois da revelação de que pelo menos 16 tenistas top-50 do ranking teriam arranjado resultados de partidas nos últimos dez anos, dois jogadores espanhóis denunciaram a pressão de apostadores para eles entregarem partidas do circuito mundial. Roberto Bautista Agut, 18º do ranking mundial, e Nicolás Almagro, 74º do ranking, afirmaram que foram ameaçados por pessoas que atuam no mercado de apostas.
- Alguma dia haverá uma desgraça por causa das apostas. É perigoso. Algum dia haverá um descontentamento, tenho certeza - afirmou Bautista, após superar o eslovaco Martin Klizan por 3 sets a 2 na primeira rodada do Aberto da Austrália.
Bautista relatou uma ameaça que recebeu no passado, mas sem dizer quando isso aconteceu.
- Quando você perde uma partida te dizem de tudo. Já levei uma mensagem de Facebook aos comissários (da ATP). Um cara me escreveu: “Cuidado quando sair de casa, porque estarei te esperando e eu vou cair de uma árvore. Eu perdi uma partida contra o (Grigor) Dimitrov por 7-6 no terceiro set, quando ganhava por 6-3 no tie-break. Perdi e essa pessoa me enviou essa mensagem que fez com que eu saísse do hotel no dia seguinte olhando para todos os lados - relatou.
Para Bautista, as denúncias publicadas na imprensa inglesa parecem muito estranhas, pois seriam muitos atletas envolvidos.
- É a primeira vez que eu escuto algo assim. Parece-me muito forte. Não sei que provas eles têm, mas é raro que um esporte como este haja armação. Comigo nunca aconteceu nada disso, nunca me vendi por nada. Não faria isso nunca.
Já Nicolás Almagro também denunciou o assédio e as ameaças de apostadores aos jogadores de tênis.
- Recebi pelas redes sociais ameaças de todo tipo e insultos muito fortes. Chegaram a dizer que iam quebrar as minhas pernas. Quero sempre vencer porque é o pão dos meus filhos - disse o tenista, que cobrou o fim das apostas no tênis.
- Qual é a solução? A solução é muito simples: basta acabar com as apostas. É verdade que elas deixam muito dinheiro para o tênis e que todos nos beneficiamos, mas temos que tentar buscar alguma coisa para corrigir isso.
Em entrevista a uma rádio de Melbourne, o jovem tenista australiano Thanasi Kokkinakis, de 19 anos, relatou que também foi abordado pelo Facebook para entregar uma partida.
- Você lê algumas coisas na sua página do Facebook, apenas estes recados do nada dizendo: “Eu vou te pagar esse tanto para entregar o jogo. Você não leva isso realmente a sério - disse o tenista para a “3AW Radio”.
CRÍTICAS DE MURRAY
Na segunda-feira, o tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, já havia revelado que lhe ofereceram dinheiro para entregar uma partida há dez anos. O brasileiro João Souza, o Feijão, também disse que há havia recebido uma oferta há dois ou três anos.
Ao comentar o caso de corrupção no esporte, o escocês Andy Murray acusou o mundo do tênis de ser “um pouco hipócrita”, pois permite que casas e sites de apostas patrocinem torneios. O número 2 do mundo disse que não ficaria surpreso se encontrassem jogadores top-50 do ranking entregando partidas.
- Acredito que isso tudo é muito hipócrita. Não acredito que permitem jogadores de serem patrocinados por companhias de apostas, mas há torneios. Não entendo realmente como funciona, mas acho um pouco estranho - disse o tenista, após derrotar o alemão Alexander Zverev por 3 sets a 0 em sua primeira partida em Melbourne.
Murray disse que nunca foi abordado para entregar partidas, mas acredita que as autoridades responsáveis por fiscalizar o esporte deveriam fazer mais para que os jovens jogadores sejam mais bem educados sobre os perigos da corrupção.
- Eu sempre fui ciente disso desde que eu era muito jovem e acho que quando alguém vem com uma quantia muito grande de dinheiro, quando você é tão jovem, algumas pessoas podem cometer erros. Acredito que é importante quando você é jovem que os jogadores sejam mais bem educados sobre o que eles devem fazer nestas situações e que decisões como essa (de aceitar o dinheiro) podem afetar a sua carreira e todo o seu esporte.
Na ATP, todos os jogadores que atingem um ranking de até 250 devem frequentar a ATP University. Nela, os jogadores assistem a três dias de seminários em Londres e Miami sobre medidas contra a corrupção, além de outros tópicos como mídias sociais, meios de lidar com os vencimentos, treinamento de mídia e antidoping. Antigamente, o curso era feito de forma remota. Desde 2008, ele é feito com os tenistas reunidos em um espaço.
- Eu só acho que o tênis deveria fazer um trabalho melhor de esclarecimento. Eles (os jovens) não deveria ter que ler isso na imprensa. Você precisa ser proativo e ir até os jogadores, falar com eles, mais do que eles lerem em jornais ou e ouvirem isso na TV ou no rádio. Quanto mais proativo você é educando os jovens jogadores, melhor você será em questões como essa - encerrou.
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