O Comitê Olímpico Internacional anunciou ontem que realizará "recall" de todas as 5.000 amostras de sangue e urina colhidas em exames antidoping nos Jogos de Pequim. A decisão foi motivada pela descoberta feita na Volta da França de ciclismo da substância dopante Cera (Ativador Contínuo do Receptor de Eritropoietina, na sigla em inglês), considerada a terceira geração da EPO (eritropoietina).
Usada em doentes renais e como substância dopante pelo menos desde os Jogos de Sydney-00, a EPO estimula a produção de glóbulos vermelhos, o que favorece a oxigenação sangüínea e, conseqüentemente, aumenta a resistência física. Já o Cera, lançado pelo laboratório suíço Roche em 2007 contra anemia em paciente com doença renal crônica, tem os mesmos efeitos.
"O Cera tem a vantagem de que é preciso injetá-lo menos vezes", afirma Gérard Dine, especialista do Instituto de Biotecnologia de Troyes (França).
Segundo a gerente médica da divisão de nefrologia da Roche no Brasil, Anita Campos Mendonça Silva, é necessária a aplicação de uma dose mensal do Mircera (nome comercial do Cera) para obter os mesmo efeitos de duas aplicações semanais da versão anterior.
Isso porque o efeito do Mircera se aproxima mais da fisiologia do organismo do que as demais versões de EPO. Uma das metas das pesquisas laboratoriais é aproximar as substâncias sintéticas dos hormônios produzidos pelo organismo, o que dificulta a detecção pelos testes antidoping.
O COI tomou a decisão de reavaliar testes de Pequim após os ciclistas Leonardo Piepoli (ITA) e Stefan Schmacher (ALE) serem flagrados com a droga, graças a novo método aplicado pelo laboratório francês Chatenay-Malabry e o de Lausanne. Neste último, serão estocadas as amostras da Olimpíada, segundo Emmanuelle Moreau, porta-voz do comitê.
Pequim teve sete casos de doping (incluindo Rufus, cavalo de Rodrigo Pessoa), bem abaixo dos 26 de Atenas-04. Agora o COI prevê que este índice suba a 40.
Histórico
EPO, THG, hGH, DTM. O que parece ser uma sopa de letrinhas não mais é do que as substâncias dopantes que foram sendo descobertas no esporte nesta década. Depois do caso de doping de Ben Johnson nos Jogos de Seul-88, então maior escândalo da história olímpica, a grande cruzada pelo esporte limpo tem sido travada desde Sydney-2000, quando foi introduzido no esporte o Código Mundial Antidoping.
Desde então, a mais avassaladora revelação foi a do THG, ou tetraidrogestrinona, esteróide anabólico que aumenta força e potência musculares. Descoberta em 2003 por um laboratório de Los Angeles, a substância abalou o atletismo, provocou a queda de ídolos e a cassação de recordes e medalhas olímpicas, o que mobilizou governo e Justiça, em especial nos EUA (onde a droga foi fabricada pelo laboratório Balco), e até levou a velocista Marion Jones à prisão.
Com dez anos de vida, a EPO, ou eritropoietina, é considerada a maior vilã da Volta da França, a principal competição do ciclismo.
Já o hGH é o hormônio de crescimento humano, que promove melhora na capacidade muscular. Depois que começou a ser produzido de forma sintética, na década de 80, o hormônio chegou ao mercado negro e ao esporte. Descoberto em 2005, o DMT (desoximetiltestosterona) é considerado "a irmã" do THG e não foi disseminado.
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