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Tiago Fernandes durante entrevista coletiva: “É melhor atender todo mundo agora e ficar tranquilo  para me preparar para o próximo torneio” | Guto Kuerten/Diário Catarinense
Tiago Fernandes durante entrevista coletiva: “É melhor atender todo mundo agora e ficar tranquilo para me preparar para o próximo torneio”| Foto: Guto Kuerten/Diário Catarinense

Profissionalização

Larri diz que transição vai levar 3 anos

A imprensa e os fãs de tênis estão impacientes. Desde que Tiago Fernandes chegou ao título do Aberto da Austrália juvenil pululam comparações com Gustavo Kuerten, o pupilo de Larri Passos que pavimentou o caminho para que novos campeões do Brasil surgissem. O técnico pede calma. Se um brasileiro não chega à final de um Grand Slam profissional há quase 10 anos – o último título de Guga em Roland Garros foi em 2001 –, não será Tiago que conquistará o feito agora. Larri diz que os próximos três anos na formação do jovem serão fundamentais.

"A transição dele já está sendo planejada desde os 15 anos", contou o treinador. "Neste ano, ele vai mesclar mais torneios juvenis com os profissionais. Ano que vem talvez ele jogue menos juvenis. Mas não tenho bola de cristal. Pode ser que ele perca alguns torneios, precise de mais confiança e a gente acabe mudando um pouco a programação. Mas o auge dele vai chegar a partir dos 20 anos".

O plano é que Tiago possa vencer jogos contra juvenis e aprenda com as derrotas no pro­­fis­­sional. "A gente sempre faz um trabalho para que ele esteja beliscando o título com os garotos", explicou Larri. "Profissional é aprendizado. O circuito molda o jogador".

Foi por isso que o treinador não aceitou um convite para o jovem entrar direto na chave prin­­­­cipal do Brasil Open, na Costa do Sauipe, a partir da semana que vem. Terá de lutar por um lugar no qualificatório que começa no sábado. Se perder, aprende. Se ganhar, segue em frente na competição e aprende também.

Passava de 2 horas da manhã de sábado (horário de Brasília) quando Tiago Fernandes fez o ace que selou sua conquista do Aberto da Austrá­­lia juvenil, o primeiro Grand Slam da categoria vencido por um tenista brasileiro. Desde então, o garoto de 17 anos não te­­ve mais sossego.

Precisou atender telefonemas de toda parte, convites para en­­tre­­­­vistas, incorporar câmeras de televisão à sua rotina. Mal dormiu. Aprende na marra que, com os títulos importantes, vem o compromisso, a pressão por mais resultados.

Enquanto voltava da Oceania – demorou quase 40 horas para chegar a Balneário Camboriú, on­­de mora e treina na academia de Larri Passos –, sua assessora marcava compromissos atrás de compromissos. Chegou em São Paulo às 20 horas de segunda-feira e participou de um programa de televisão com Galvão Bueno direto do aeroporto. Per­­deu o voo para Santa Catarina e só às 5 horas da manhã, depois de pegar um táxi de Curi­­tiba, pisou em casa. Incrivel­­mente, três ho­­ras depois já estava em pé para treinamentos e, claro, gravar es­­peciais de tevê e rádio e atender jornalistas da imprensa escrita. Sempre com um indisfarçável sorriso no rosto.

"É melhor atender todo mundo agora e ficar tranquilo para poder treinar depois e me preparar para o próximo torneio", en­­tendeu o jovem tenista com uma tranquilidade de assustar muito profissional habituado a dar en­­trevista. "A partir de amanhã (quarta), ninguém entra mais aqui na academia. A gente perde um dia, mas consegue se concentrar para seguir adiante", brincou Larri.

Após o título, Tiago ainda não conseguiu ver a família que mora em Maceió, sua cidade natal. Faz mais de dois meses que não dá um abraço no pai Luiz Henrique e na mãe Edna. Faz mais de três dias que convive com jornalistas no seu encalço. "A gente tem de se acostumar. É o tipo de sacrifício que todo jogador de tênis precisa fazer. Não tem jeito", conformou-se Toro­­zi­­n­­ho, como é chamado por Larri Passos.

O garoto mal pode ver a hora de chegar em Maceió. Seus pais estarão na Costa do Sauipe para o Brasil Open, na próxima semana, e depois de lá levam Tiago embora. Merecido descanso depois dos flashes, dos gravadores e das inúmeras horas em quadra ouvindo Larri pedir mais empenho. "Família é essencial para se formar um campeão", garantiu o próprio detentor do título australiano. "Aqui (na academia) eu dou duro, sofro. Lá, com eles, que eu busco tranquilidade, equilíbrio emocional".

Tiago está sendo preparado para conquistar títulos e lidar com a pressão desde que tinha 15 anos e decidiu deixar Alagoas. Em 2008, fez dupla com Gustavo Kuerten no torneio de despedida, em Florianó­­polis, do maior tenista que o Brasil já teve. Ideia de Larri. Muitos ficaram com um pé atrás. "A família dele achou que eu estava completamente louco", divertiu-se Larri. "Mas foi um risco calculado. Foi o primeiro friozinho na barriga da carreira dele".

Alguns meses depois, Tiago estava com Larri em Londres durante o Torneio de Wimble­don. Encontrou "apenas" Roger Fe­­derer, que o viu jogar. "O Fede­­rer até brincou comigo: ‘Ensina esse garoto a bater na esquerda com uma mão igual a mim e o Guga", lembrou o treinador.

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