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Menos de dez dias após o fim da Olimpíada, na minha lembrança com The Who e a canção My Generation, o esporte brasileiro abriu outro ciclo – não o olímpico de 2016, mas o vicioso, o do abandono institucional.

Neste período, atletas somem na exata proporção que o dinheiro público é injetado nas suas federações. Agora é cada um por si. Mas não adianta ser forte ou o melhor. Precisa de sorte. Aliás, muita sorte.

É o pior dos mundos. Quem mostrou algum valor em Londres sobe nesse ringue em um cenário mais favorável. Mas sem ilusão. O pior adversário será a burocracia, a falta de estratégia na política desportiva e – o drama maior – os dirigentes.

Pode-se preencher todas as linhas deste caderno com teses e ilações sobre o futuro do esporte no país. Cada um tem a sua, mas dificilmente haverá discordância sobre os erros centrais. Quer ser uma potência? Trabalhe a longo prazo, elimine os intermediários do dinheiro público e proteja os atletas dos cartolas.

A lógica perversa – que deve culminar em outro fracasso no Rio – tem o atletismo como exemplo "mãe". O recorte pode ser feito por qualquer aspecto negativo. Não existe gestão democrática, há investimento e entraves para o repasse, ainda vive da combalida ideia que o "atleta se cria".

Entre os 36 brasileiros da modalidade na Grã-Bretanha, apenas sete nasceram na década de 90. Ou seja, por uma questão meramente atlética, espera-se que nas esburacadas pistas de norte a sul haja um trabalho sério de renovação. Pelo cenário atual, poucos do time atual chegarão à disputa no Estádio João Havelange (que nome!) no auge físico.

O projeto 2016, por obra muitas vezes do acaso, não carece de um "profundo trabalho", como prega a turma de gabinete para se valorizar. Em julho agora houve um mundial juvenil na Espanha. O país revelou Thiago Braz, ouro no salto com vara. E amealhou mais três bronzes: Tamara Alexandrino, do heptatlo; Tamiris de Liz (integrante do time de Londres), 100 m; e outra no 4x100 m. O quarteto contou inclusive com a paranaense Camila Aparecida de Souza.

Agora começa a triagem. No anticlímax pós-Jogos, uma meia-dúzia arranja bons patrocínios, outra consegue se esquivar (sem trocadilho) das federações no embolso dos benefícios. E acabou. O resto – 99,9%, na minha estatística ficcional – perderá preciosos dias atrás de estrutura para se aperfeiçoar. Some da mídia, não sensibiliza a iniciativa privada, mantém-se com bravura na elite nacional, vai ao Rio-2016 e chora a derrota.

Assim tocará o baile, sem The Who.

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