Berlim O fim de uma era. Vice-campeão do mundo, o craque francês Zinedine Zidane defendeu a seleção de seu país pela última vez. A despedida do futebol profissional, em uma final de Copa, é o sonho de qualquer atleta. Virou pesadelo. O adeus teria sido inesquecível, independentemente do resultado, se não tivesse sido manchado com uma expulsão infantil no segundo tempo da prorrogação. Deu uma cabeçada em Materazzi. Quem carregou nas costas a responsabilidade de ser a estrela de uma geração e último representante de um estilo refinado de jogar futebol certamente sonhava com um desfecho melhor para a carreira.
Mesmo com esse surto em má hora, aos 34 anos o astro deixa o esporte sob os lamentos do mundo e a preocupação de seus compatriotas. Talentoso com a bola nos pés, Zizou formou fãs e admiradores em todo o planeta ao provar que a habilidade não depende de estripulias para ser reconhecida. E apreciada.
Sua técnica apurada sempre foi usada com simplicidade. Apesar disso, elegância e classe nunca faltaram a seus movimentos. Nada de pedaladas lindas e inúteis, passes de trivela sem direção e que prejudicam a velocidade do time ou jogadas de marketing dentro e fora de campo. Objetividade com competência. O resumo perfeito para Zidane.
Se para o mundo o fim da carreira do astro do Real Madrid é um episódio digno de lágrimas e aplausos, para os torcedores da seleção vice-campeã de 2006 o momento de tristeza com a perda do título é recheada com ares de dúvidas sobre o futuro da França sem ele.
Na primeira vez em que saboreou o sucesso, a equipe azul tinha dois jogadores excepcionais como símbolo: Kopa e o goleador Just Fontaine. O terceiro lugar em 1958 é obra deles. Sem a dupla, foram precisos 24 anos até que o Galo voltasse a cantar alto. Havia, na campanha até as semifinais de 1982 e 1986, um atleta chamado Michel Platini.
A dependência francesa de um líder de técnica brilhante se comprovou com Zidane. Entre 1990 e 1994, na transição entre Platini e ele, sem um novo ícone, os Bleus acumularam fracassos. O careca assumiu a vaga de herói nacional em 1998, campeão sobre o Brasil dentro de casa. Dois gols de cabeça, 3 a 0 no placar.
Em 2002, recuperando-se de contusão e fora de forma, viu de perto como seu desempenho reflete na equipe: eliminação na primeira fase. Tentou então pendurar a chuteira da seleção. Mas, atendendo aos apelos, voltou no fim das Eliminatórias para classificar o time, então em perigo, para o Mundial. Na Alemanha, brilhou. O surpreendente vice-campeonato é mérito dele.
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