Jovens peregrinam para jogar tênis
Com oito anos, Chrystian Amaral Barletta aprendeu a jogar tênis com o pai Silvio Barletta de Almeida, mas não pode praticar com mais fre-quência, pois não há quadra pública de tênis próxima a sua residência, no Campo Comprido.
Um futuro atleta de renome pode ter suas raízes naquela quadra próxima à sua casa. Do auxílio de algum professor ou de uma simples brincadeira com os colegas da escola há a chance de despontar um talento. Por isso o incentivo do poder público nas estruturas esportivas da cidade teria tudo para ser a diferença entre uma promessa e uma estrela.
INFOGRÁFICO: Veja o mapa com os 24 Centros de Esporte e Lazer de Curitiba
Em Curitiba existem 24 Centros de Esporte e Lazer (CEL), que oferecem treinamento gratuito a crianças e adolescentes em diversas modalidades. Ou pelo menos deveria ser assim. Mas a quantidade não significa variedade. A reportagem da Gazeta do Povo visitou uma série desses lugares e constatou que, na prática, eles são restritos àqueles esportes mais populares: 21 trabalham com futebol (seja em campo, quadra ou areia), 17 com vôlei e 12 com basquete. Só 3 são voltados para tênis, 3 para ginástica artística, 2 para handebol e 2 para skate.
Se consideradas todas as quadras públicas, a diferença é ainda mais esmagadora: 440 de futebol, 230 de vôlei e apenas 6 de tênis, todas localizadas em regiões nobres da cidade.
Aulas de tênis são encontradas no CEL da Arthur Bernardes, no do Bairro Novo e no da Vila Oficinas, sendo nos dois últimos ministradas em uma quadra improvisada. No centro do Portão, há cerca de 40 alunos e outros 50 figuravam na fila de espera, abolida recentemente. "Passava o ano inteiro e não conseguíamos chamar todos. Parecia que não estávamos prestando serviço", diz a coordenadora Célia Maranhão. Agora, o beneficiado é quem chegar primeiro no dia da divulgação de novas vagas, a cada início de mês.
Por causa da grande demanda, a maioria dos CELs adota o critério de faltas para eliminar alunos e poder atender outros: se tiver três ausências não justificadas em um mês, fica fora da lista.
A carência de professores impede o aumento de vagas em todos os esportes ofertados. No caso dos menos populares, o problema é ainda maior porque, além de um número adequado, são necessários profissionais de educação física especializados e como eles são concursados, não se pode fazer uma seleção levando-se em consideração o domínio das modalidades.
Esporte migratório
É comum diante dessa situação que, quando um professor é transferido pela prefeitura, o esporte vá com ele, deixando os praticantes órfãos. Foi o que aconteceu com o tênis de mesa, que no CEL Plínio Tourinho girava em torno do professor Robert Marques. Quando ele passou a trabalhar na Praça Osvaldo Cruz, as raquetes e as bolinhas também migraram para o centro da cidade.
Como os dois locais ficam na mesma regional (Matriz), separados por 3 km, o problema é um pouco menor. Pior é a situação do skate, cujo comandante no CEL Avelino Vieira, no Tingui, Rubens Meggetto Jr., agora está em uma função mais burocrática no departamento de esportes do município. Ele trabalhava para continuar com as aulas que entre 2009 e 2010 foram dirigidas por um estagiário, que se desligou da função ao final de seu contrato.
Para contornar o problema, a prefeitura pretende implantar um projeto para o ex-skatista Ronaldo Miranda ensinar a mais professores a técnica do esporte. Enquanto isso não sai do papel, 30 crianças que tinham aulas ficam a ver navios ou encaram cerca de 10 km até o Cajuru, única regional onde há treinamento sobre as rodinhas.
Sem usuários
A ausência de uma "democracia" esportiva não se justifica apenas pela estrutura que privilegia as quadras poliesportivas. No CEL Velódromo, no Jardim Botânico, há três quadras de tênis disponíveis, mas ninguém dá aulas no local, reservado apenas para os usuários comuns. O motivo? Mais uma vez a falta de professores especializados.
Entre as modalidades menos populares, surpreende a situação do handebol, que já chegou a estar presente em vários Centros de Esporte e Lazer, mas só se manteve em dois: no Bairro Novo e Santa Rita. A disciplina, geralmente ensinada na escola, foi sendo eliminada porque poucas pessoas a procuravam.
Paredão
Se algumas modalidades perderam apelo, outras atividades ganham espaço. O CEL Bairro Novo há seis anos conta com o único paredão público de escalada do Brasil. Rapidamente o esporte, antes desconhecido entre os moradores, tornou-se um sucesso de público, contando hoje com 60 alunos. Nada disso seria possível, porém, se não houvesse existido uma parceria com a escola Campo Base, que passou conhecimento da modalidade aos professores da prefeitura. Sem capacitação, a estrutura de pouco adiantaria.
Mesmo com iniciativas assim, o acesso restrito ainda prejudica os esportes fora do "triunvirato" futebol, basquete e handebol. Professora de ginástica artística na Oswaldo Cruz, Irene Marcondes afirma ter perdido muitas alunas que vinham de outras regionais da cidade devido ao aumento da tarifa de ônibus. "Às vezes são crianças e precisam de um adulto para acompanhar, aí já fica R$ 10 a passagem", conta. Fora o Centro, onde também há aulas de ginástica rítmica, apenas o Fazendinha oferece a modalidade. Porém só treinos de solo e salto por falta de equipamentos. No Bairro Novo, também há um projeto de iniciação à ginástica artística, mas também não há estrutura adequada.
A Secretaria de Esportes e Lazer e Juventude (SMELJ), através da assessoria de imprensa, justificou a massificação de alguns esportes à demanda e também à estrutura física existente.
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