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O educador físico Luiz Cláudio Silva perdeu a casa na Vila Autódromo, que virou estacionamento do Parque Olímpico. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
O educador físico Luiz Cláudio Silva perdeu a casa na Vila Autódromo, que virou estacionamento do Parque Olímpico.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Por tudo que passei, não tenho condições de ver essa Olimpíada.

Luiz Cláudio Silvaprofessor.

A paixão pelo esporte fez com que o ex-gari Luiz Cláudio Silva realizasse há 12 anos o sonho de se tornar professor de educação física. Mas o professor de futsal e natação de 53 anos não vai acompanhar as provas da Rio-2016, mesmo com as estrelas do esporte passando a poucos metros da casa dele, vizinha do Parque Olímpico da Barra da Tijuca.

Moradora da Vila Autódromo há 22 anos, a família de Silva foi obrigada a sair de casa em março para que o terreno fosse transformado no estacionamento do Parque Olímpico. Após os Jogos, o consórcio que construiu o Parque Olímpico erguerá no local um empreendimento imobiliário em troca do R$ 1 bilhão investido na Rio-2016.

O professor, a esposa e a filha só não acabaram na rua porque foram abrigados pela igreja da própria vila até se mudarem para a casa temporária, uma espécie de contêiner, onde alguns moradores aguardam a conclusão de imóveis de 55 metros quadrados que o município ergueu ao lado de onde eram as antigas residências.

Além da família Silva, outras 19 que resistiram e não saíram da Vila Autódromo vão se mudar para as novas casas no fim de semana. A mudança era para ser terça-feira (16). Mas, a exemplo do que aconteceu na Vila Olímpica dos atletas, a alguns quilômetros dali, as instalações elétricas não foram concluídas a tempo.

“Por tudo o que passei, de me expulsarem da minha casa, de quererem me tirar da vila, não tenho o menor ânimo para ver essa Olimpíada. Fico muito triste de saber que os atletas vão botar medalhas no peito a partir do sofrimento de outras pessoas”, lamenta Silva.

As tentativas de retirar os moradores da Vila Autódromo – o nome vem do fato de o terreno onde está o Parque Olímpico ter sediado por anos o Autódromo de Jacarepaguá – é antiga. Surgida há quase 50 anos, a vila passou a ter problemas quando a Barra da Tijuca virou uma das áreas mais nobres do Rio.

As iniciativas do município para tirar os moradores começou no Pan-Americano de 2007. O plano era erguer no local o centro de imprensa da disputa. Não deu certo.

Na Olimpíada os moradores não tiveram escolha. A partir de 2014, a maior parte foi morar em conjuntos do programa federal “Minha Casa, Minha Vida”, enquanto que um pequeno grupo decidiu resistir.

“A gente sabia que se fosse para o Minha Casa, ‘Minha Vida’ nunca mais voltaria para cá”, reconhece Silva.

Sobre a casa nova casa, erguida pela prefeitura, Silva não nega que a qualidade não é ruim. Mas, se pudesse, ainda viveria na antiga.

“Era maior e era a casa que eu mesmo construí”, alega o professor que, apesar de tudo, não põe a culpa no esporte. “A Olimpíada só foi a oportunidade que encontraram para tirar a gente das nossas casas”, resigna-se.

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