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A volta para a Vila Capanema não passava de devaneio quando Waldomiro Gayer Neto, 38 anos, precisou levantar um barracão dentro da sua propriedade. O dirigente, que diz ter crescido nas sociais do Durival Britto, conheceu durante a empreitada particular alguns exemplos de construções pré-moldadas. Veio então o estalo.

"Estava envolvido com o serviço visando melhorias no meu imóvel. Foi então que recebi um folder com exemplos de edificações. Achei interessante e pedi um orçamento, sem compromisso, para aumentar a capacidade do nosso estádio. Dava R$ 270 mil. Fiz as contas com a venda de produtos e camarotes, levando em seguida tudo para o papel", lembra.

O projeto de retornar para casa não chegava a ser uma obsessão, mas um sonho para Gayer, atual vice-presidente de marketing do Tricolor. "Ainda criança, enquanto meu pai via jogos do Ferroviário e Colorado, aproveitava o corredor em frente ao alambrado para brincar com as bolas. Sou da turma do amendoim", confessa, orgulhoso.

Com a idéia no papel, o idealizador partiu então para a segunda etapa: convencer os companheiros de diretoria que a ambição não era utopia – mesmo sem capital para a empreitada. Com o apoio unânime dos conselheiros do clube, foi dado o sinal verde.

Para dar o primeiro passo, o mentor da volta paranista à Vila teve de tirar do bolso R$ 800 – prova da falta inicial de recursos. "Dei um cheque para a construtora fazer o estudo da obra. Enquanto isso, começou a venda de produtos do Vila. Como a torcida acreditou, fizemos o caixa rapidamente. Costumo dizer: ‘Quem vende duas torres de prédio, com 28 apartamentos, só com a planta?’ Nós conseguimos."

Surgiam então outros personagens dessa aventura paranista, como Márcio Villela, 40, vice-presidente de planejamento na gestão José Carlos de Miranda. Também habitué da Vila durante a infância, ele passou a liderar a coordenação dos trabalhos de ampliação do estádio. Diante da euforia dos torcedores, o projeto da construção de um barracão virou em um investimento de R$ 3 milhões.

"Vimos que estava sendo possível pensar grande. Além de aumentar a capacidade, abria-se a possibilidade de melhorar o conforto, a segurança. Conseguimos R$ 1,8 milhão na venda de camarotes, R$ 180 mil de contribuições espontâneas, R$ 100 mil negociando produtos referentes ao ‘Vila, tá na hora!’ (slogan promocional) e esperamos R$ 190 mil líquido do jogo de reabertura, dia 20", calcula Villela, que ainda torce para aquecer a procura por cadeiras – outra fonte de receita.

"Meu trabalho vai, muitas vezes, das 7 horas até meia-noite. Faço isso sem reclamar, pois tem um laço afetivo envolvido nisso. Chega a ser emocionante ver o envolvimento e a mobilização dos tricolores. Conseguimos investir em patrimônio e – acima de tudo – na torcida", comemora.

Ninguém arrisca um número exato de colaboradores. "Não tem como apresentar essa conta. Teve gente, por exemplo, que ajudou comprando uma simples pulseirinha", explica Luiz Carlos Casagrande, outro que apostou sem vacilar na iniciativa.

Do público que patrocinou essa causa, destacam-se aqueles que adquiriram por 12 anos um dos 56 camarotes (área ao lado do relógio central). Os preços do espaço ficaram na faixa entre R$ 26 mil e R$ 39 mil.

É o caso dos Paranautas, braço organizado de tricolores na internet. A equipe conseguiu formar um grupo de dez pessoas para adquirir (a R$ 31 mil) um local vip na casa paranista. Também ajudou com a compra de 15 kits com produtos referentes ao retorno (R$ 250 cada), 50 pacotes para os jogos do Estadual 2007 (R$ 50 por cabeça), cem cartelas de bingo e 50 pulseiras (R$ 7 a unidade).

"Além da participação efetiva em todos os eventos, como almoço e jantares", avisa o comerciante Darkles Guimarães, 30, um dos cabeças dessa "força popular".

Fora empresários bem-sucedidos na cidade, ex-jogadores (como Ricardinho e Paulo Miranda) e até rivais (leia-se Mário Celso Petraglia, do Atlético), os freqüentadores da sauna na Vila Guaíra também aplicaram na aquisição do espaço nobre. Mas além das contribuições mais expressivas, o site oficial do ‘Vila, tá na hora!’ apresenta cerca de 800 nomes de pessoas envolvidas com alguma colaboração financeira.

No dia 20, contra o Fortaleza, o clube abre novamente o Durival Britto. A nova capacidade será de 16,7 mil pessoas, mas somente 15 mil lugares foram liberados pelo Corpo de Bombeiros e Polícia Militar.

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