Há 12 meses, os Jogos Olímpicos de Atenas começaram com uma chama de entusiasmo de que a Olimpíada moderna e antiga haviam chegado à terra natal.
Antes do primeiro aniversário, no sábado, daquele que o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, chamou de "Jogos dos Sonhos", as lembranças das duas semanas de espetáculos já não parecem mais tão vivas.
Passando por entre pedras e lixo para entrar no estádio central de Atenas, o Panathenian, onde os Jogos de 1896 foram abrigados, o morador local Manos Eleftheriadis balança a cabeça em descrença diante do legado da Olimpíada mais cara da história.
- Toda essa sujeira ficou depositada nos fundos do estádio durante todo o ano. Quando os Jogos terminaram, a área ao redor foi abandonada, largada às traças - disse.
- Eu era a favor do retorno da Olimpíada à sua casa. Mas agora acho que ela causou mais danos do que benefícios e não conseguiram trazer melhorias para nossas vidas. É muito triste - ressaltou.
A bagunça do lado de fora do estádio de mármore é comum em todas as instalações olímpicas, construídas com bilhões de euros e agora fechadas para o público, enquanto seu futuro é definido.
Pequenos eventos de moda e testes de pneus de carros aconteceram nas arenas. Mas quase todas estão trancadas, acumulando poeira. Ciganos acampam do lado de fora da arena de taekwondo e do ginásio Paz e Amizade, onde aconteceram os jogos de vôlei. Passarelas construídas para os Jogos estão cobertas por lixo.
O centro olímpico de canoagem e remo Schinias, considerado um dos melhores do esporte, está cheio de algas e sujeiras crescendo nas margens.
O Estádio Olímpico, fechado na maior parte do ano passado, foi aberto ao público no último mês para seu aniversário. É um sinal muito desanimador.
Sem Planejamento
O chão da piscina olímpica está coberto de musgo. O Velódromo está vazio, exceto pela presença de um turista perdido procurando por informações.
A inércia e falta de foco em relação às instalações espelham os problemas que caracterizaram os Jogos de Atenas. O governo admite sua falha ao não projetar um plano pós-Olimpíada, porque os esforços foram concentrados em fazer os preparativos para os Jogos de forma apressada, para compensar os anos de atraso. Uma mudança no comando do governo, passando de socialistas para conservadores cinco meses antes dos Jogos não ajudou.
O governo já submeteu um plano simples para utilização das instalações. Nenhuma arena será vendida e serão alugadas para investidores privados, que deverão recuperar parte do custo que deixou a Grécia com um déficit orçamentário de 6,1% na produção interna em 2004, limitando o crescimento na União Européia para 3 por cento.
Parte do centro eqüestre se tornará um campo de golfe e um hotel de luxo, o centro de canoagem vai ser transformado em um parque aquático e o centro de vela se tornará uma luxuosa marina.
Os outros locais deverão abrigar restaurantes e bares.
Críticos afirmam que nenhuma dessas utilizações tem a ver com a cidade e não vão melhorar a qualidade de vida dos atenienses, como dizia o slogan antes dos Jogos.
- Dar tudo ao investimento privado? É assim que a vida dos atenienses vai melhorar? - questionou um ex-chefe da comitê organizador oficial.
- Parece não haver nenhuma integração dos moradores com os locais dos eventos olímpicos, a não ser a visão de que eles são consumidores em potencial - reclama ele.
A cidade também não conseguiu evoluir na revitalização da área portuária, um dos principais objetivos. Uma nova esplanada que começa em Piraeus, porto coligado a Atenas e passa pelas instalações olímpicas ao longo da costa, está fechada esperando o interesse de empresas internacionais.
- Os anos perdidos antes dos Jogos afetaram o planejamento. Construímos arenas muito caras em locais com uso livre exclusivo para apenas 15 dias - comentou o Ministro da Cultura, Fani Petralia, em um jornal esta semana.
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